Caros leitores, há semanas o Banco Central do Brasil (BCB) vem registrando registrou altas consecutivas na expectativa para a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA – índice oficial de inflação adotado no Brasil). Mais uma vez a inflação ganhou destaque nos noticiários, após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar mais uma alta no índice no mês de junho/2021 (0,53%). Com esse resultado, de acordo com o IBGE, o índice acumula alta de 8,35% no período de julho/2020 a junho/2021.
Então você deve estar se perguntando: será mesmo que esse índice de inflação é tão alto assim, considerando que aqui no Brasil sempre tivemos inflação?
Para ajudar na resposta, preparamos o gráfico que é apresentado na Figura 1.
Figura 1 – Inflação acumulada em 12 meses medida pelo IPCA.
Fonte: IBGE (2021).
Apresentamos na Figura 1 os índices acumulados de inflação de julho a junho de cada ano, iniciando em 1994, ano de início do Plano Real. No período apresentado na Figura 1, a inflação acumulada foi de 573,06%. Sabe o que isso quer dizer? Quer dizer que, para comprar a mesma cesta de produtos que custavam R$ 100,00 em julho de 1994, você precisa ter hoje exatos R$ 673,06. Isso demonstra a perda de poder de compra do Real nos últimos 27 anos.
Voltando à pergunta anterior, como se pode ver, nesse período tivemos apenas 5 ocorrências em que o índice de inflação ultrapassou a marca de 8% acumulado em 12 meses. As duas primeiras ocorrências foram nos dois primeiros anos após a implantação do Plano Real (33,03% e 16,26%). Depois teve a ocorrência de um novo pico de 2002 para 2003 (16,57%). Outros dois picos acima dos 8% vieram a ocorrer de julho/2014 a junho/2015 (8,89%) e de julho/2015 a junho/2016 (8,84%). Ou seja, considerando os últimos 27 anos, o IPCA acumulado registrou marca acima dos 8% em apenas 6 ocorrências, sendo que a última, de 8,35% foi registrada no período de julho/2020 a junho/2021.
Esse resultado é preocupante sim por vários motivos. O mundo está passando por uma das piores crises sanitárias dos últimos tempos. Essa crise comprometeu a força de trabalho, a produção e comercialização de commodities em escala global, milhares de micro e pequenos empreendimentos, resultando nos maiores índices de desemprego dos últimos anos.
Diante da incerteza do cenário econômico mundial e principalmente nacional, o BCB se encontra em um grande dilema: aumentar a taxa de juros sim, mas quando e quanto?
O dilema apresentado coloca o BCB na berlinda, pois a sua missão é assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente. Ou seja, ele deve atuar para garantir o poder de compra da moeda e, para isso, o Conselho Monetário Nacional (CMN) define as metas de inflação que devem ser cumpridas pelo Banco Central. Para o ano de 2021, o teto da meta (ou seja, o maior valor da inflação) é de 5,25%. Valor que já foi superado nos 6 primeiros meses de 2021 (5,82%). Além de outras medidas, o BCB precisa aumentar, de forma recorrente e significativa, a taxa básica de juros (SELIC) para tentar manter o dragão da inflação dormindo. Mas não será uma tarefa fácil.
Então você deve estar se perguntando: Eu consigo evitar que a inflação diminua o meu pode de compra? Em uma situação normal, a resposta poderia ser sim. Você poderia mudar hábitos de consumo, fazer pesquisa de preços e consumir produtos distintos dos habituais. Essa seria uma das formas de driblar a inflação.
Entretanto, nesse momento que estamos passando, não está fácil driblar o efeito inflacionário. Isso porque os itens que mais aumentaram de preço não podem ser substituídos. A energia elétrica é um desses itens que no último período teve alta de 1,95% e não deve parar por aí. Os combustíveis (gasolina e o gás de cozinha), os alimentos e quase todos os demais itens da cesta de consumo dos brasileiros vem registrando altas consecutivas.
Assim, mantemos as nossas velhas, mas sábias recomendações: pesquise os preços antes de comprar, mude os seus hábitos e procure gastar menos do que você ganha. Ter uma reserva financeira para eventualidade ainda é uma importante medida para melhorar o seu bem-estar financeiro.
Até o nosso próximo painel de Educação Financeira.
Se cuidem!
Autores:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valerio
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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