– Ao saírem de um estádio em Recife, torcedores do Paraná foram surpreendidos por bombas, e neste momento dois vasos sanitários foram arremessados de cima do estádio em direção a eles. Um torcedor morreu e outras três pessoas ficaram feridas.
– Uma mulher foi espancada a pau até a morte por moradores de Guarujá que julgaram que ela fosse uma sequestradora de crianças para a realização de rituais de magia negra. Ocorreu um linchamento em que participaram até crianças. Com o corpo já ferido no chão, um morador passou com o pneu da bicicleta em cima da cabeça da dona de casa. O linchamento foi filmado por outros moradores.
Estes dois episódios, certamente do conhecimento de todos, aconteceram nesses últimos dias. Mas é muito mais do que isso. E a violência dos morros no Rio? E a violência no trânsito em que motoristas abandonam seus carros para lutar corpo a corpo nas ruas, quando não usam suas armas já prontas para atirar? E a violência nos presídios? E a violência contra crianças em suas próprias casas? Fico me perguntando: de onde vem tanta agressividade? Será pela impunidade geral? Será pela superpopulação? Ou as pessoas estão vivendo cada vez mais sem Deus? A violência é tanta que já está banalizada.
Não me cabe na cabeça, como dizia minha mãe, que estudantes e professores apenas assistam passivamente a duas adolescentes que lutam rolando no pátio da escola. Ao que parece, os jovens já ficam de prontidão à espreita de uma briga. Aí sacam seus celulares moderníssimos e filmam uma menina a atacar outra menina, com canivete e tudo. Assim, os caras se apresentam imediatamente, como se fossem profissionais para fazer a filmagem, mas ninguém aparece para separar as moças, talvez até salvar uma vida. Ninguém faz nada. Nada. É a banalização da violência.
Dizem muitos psiquiatras que mesmo o mais normal dos indivíduos pode matar porque os homens trazem essa agressividade como herança de seus instintos mais primitivos, da época em que viviam nas cavernas e tinham que se defender contra toda forma de perigo. Bom, até aí para se defender sim, mas violência de graça, como essa que prolifera como uma doença contagiosa em nosso país e que temos assistido diariamente pelos noticiários, isso não.
O fato também é que ninguém faz nada isoladamente. Contudo, basta se juntarem em grupos, e logo se transformam, viram monstros, criaturas capazes das piores crueldades. São as manadas humanas desembestadas em que o sujeito põe para fora todo o mal que tem dentro de si, porém sempre apoiado por companheiros da maldade que fazem. Nesses casos existe sempre um “chefe”, aquele que comanda o ataque, os outros, não menos perversos, acompanham.
Há mil estudos psiquiátricos, sociológicos e outros neurológicos para explicar a agressividade. Dizem que as pessoas que têm deficiência ou excesso do neurotransmissor serotonina são mais propensas à cólera, pois seu sistema de serotonina não funciona adequadamente. Assim, quando sofrem qualquer provocação, elas não têm como controlar a ira, partem para a agressão. Algumas pessoas são mais agressivas que outras, dessa forma precisam aprender a lidar com sua agressividade, talvez com medicamentos ou sessões psicanalíticas.
A agressividade faz sim parte da natureza humana. A comunidade científica assegura que ser um pouco agressivo até é bom, pela necessidade de defesa natural, é a tal da raiva construtiva. Sabemos que os sentimentos maus são da essência do homem. Ninguém é bom. Mas à medida que as crianças vão crescendo, se ensinadas, elas aprendem o respeito para com o próximo. Aprendem que têm limites, que não podem dar vazão a todo instinto ou desejo de aniquilar o outro, seja com palavras, seja fisicamente. Aprendem que seus atos têm consequências.
O episódio do estádio no Recife e o imperdoável e covarde linchamento de uma pobre mulher nos mostram que teríamos feito melhor se nunca tivéssemos saído das cavernas porque os homens que lá habitavam eram bem melhores do que nós, deixavam irromper sua agressividade como meio de defesa. Nós não, já não nos basta só a defesa, ansiamos pelo ataque. Não evoluímos, pelo contrário, vamos regredindo atordoados, sem rumo neste mundo sem lei e sem Deus.