Faz-me lembrar de uma prima que costumava brincar com a euforia da família que viajava muitas horas para descer a serra rumo à praia: mil planos, bom humor geral, brincadeiras na viagem, sessão de cantoria, biquínis novos, o porta-malas abarrotado com roupas das crianças, dos adultos, pó de café, arroz, macarrão, enfim tudo o que fosse preciso para chegar e aproveitar a praia ainda no dia da chegada, mesmo que fosse já bem tarde e sem sol. Todos querem chegar, trocar a roupa suada e correr para o mar, com sol ou com chuva, ainda que batendo os dentes de frio. Bem, mas aí param no alto da serra para um café, todo mundo feliz e com fome porque saíram de casa às 5 da manhã. É pão na chapa, pingado, pão de queijo, etc. É claro que o restaurante vende desde roupas a panelas, pois já conhece como funciona o ataque de euforia das famílias que só vêm à praia uma vez por ano e olhe lá. No fim saem carregados com vários itens totalmente desnecessários como a panela de pedra pesadíssima que a sogra cismou que tinha que comprar e o brinquedo para acabar com a birra do mais novo. No fim das férias, voltam todos com a cara amarrada, queimados de sol, e sem poder esbarrar em nada. Mau humor geral, carro lotado e pesado, roupas sujas e o sujeito querendo jogar a panela cara da sogra morro abaixo enquanto pensa nos gastos exagerados e nas contas que o esperam. No ano seguinte tudo de novo, o mesmo sonho com o mar, a mesma alegria, a mesmíssima coisa.
Oscar Wilde dizia que neste mundo há duas tragédias: uma, a de não conseguir o que desejamos e a outra, a de conseguir. Isto porque quando conseguimos o que desejamos, já ansiamos por outro desejo, é da essência do homem.
Quando crianças, a proximidade do Natal nos deixava enlouquecidos. Era e é uma época mágica, indiscutivelmente. É claro que, a despeito de todo esforço de minha mãe para que não nos esquecêssemos do nascimento do Menino Jesus, já naquele tempo longínquo éramos movidos pela expectativa dos presentes. Na véspera era o máximo, íamos dormir inebriados de alegria, dando asas à imaginação. No dia de Natal, era a glória! Com o coração aos pulos abríamos sofregamente os embrulhos mágicos, mas ainda acho que a véspera era melhor, justamente pela feliz expectativa. Não adianta, somos movidos pelo desejo.
Assim é a vida, sempre com um antes e um depois. Quando já somos mais velhos parece que já vivemos todas as expectativas, e às vezes tendemos a permanecer no depois, principalmente quando algo triste nos acontece. Daí a importância dos novos projetos, dos novos sonhos e dos novos desafios. Enquanto há vida é preciso aprender a arte de se reinventar. E deixar sempre um champanhe gelando, pode ser uma cerveja mesmo, e curtir a beleza do antes, esperando pelo melhor.
E depois? Bem, depois vem outro desejo …