O nosso trabalho na Sociedade São Vicente de Paulo nos leva a testemunhar muitas injustiças sociais e algumas chegam a nos comover profundamente. É impressionante constatar de perto a miséria em certas famílias, abandonadas à sorte pelos próprios parentes! Por que será que isso acontece?
Os motivos (ou desculpas) são diversos. Quando um pai se refere ao filho que está desfrutando de boa situação financeira, diz que o ‘coitado’ tem os seus próprios compromissos e não pode assumir outras despesas. Quando outro pai de família, cheio de filhos, comenta que os seus pais possuem bens noutra cidade, alega que não combinam de gênio e nunca daria certo morarem juntos. E por aí vai…
De acordo com as nossas possibilidades, ajudamos os mais necessitados, independente de raça ou religião. O nosso trabalho vicentino envolve também o crescimento espiritual da família, desde que aceitem alguma orientação nesse sentido. Acreditamos que com cesta básica mensal, oração, higiene, trabalho e educação, aos poucos, muitos renascem para a vida.
Voltando aos elos familiares, algumas necessidades não poderiam ser supridas pelos próprios parentes? Em muitos casos, sim. Principalmente quando o sofrimento maior vem do espírito, qualquer filho ou irmão de sangue poderia estar ajudando.
É triste dizer isso, mas, infelizmente, um pouco de carinho com um pouco de atenção chegam a despistar a fome ou a tristeza de muita gente. Seria mais importante para alguns pais verem um parente chegando para prestar solidariedade do que o seu alimento batendo à porta. Mesmo sabendo dessa verdade, pouco podemos fazer nesse sentido, pois outros assistidos sempre esperam o nosso socorro.
O desemprego aumenta, a fome assusta e as doenças preocupam. Enquanto não podemos atuar diretamente contra esses ‘fantasmas’, será que não existe alguém de nossa família esperando por carinho e atenção? Imagine algum parente seu que sofre e reflita o que Jesus Cristo gostaria de lhe pedir que fizesse por ele.
Quantas mães rezam terços e terços sozinhas! Quantos pais idosos não vão mais à missa porque ninguém os leva! Quantos filhos se revoltam com a vida indigna dos pais! Quantos gostariam de ter as migalhas dos ricos para comer! Quantos agonizam por falta de remédios!
Acho que não é necessário dizer mais nada, pois cada um sabe o que poderia estar fazendo pelo seu irmão e não faz. Quanto ao irmão ser ou não de sangue, para Jesus não importa, mas julgando com o meu coração humano e também pecador, dói mais quando vejo alguém sofrendo, sendo que a família tem condições de acolhê-lo e o deixa abandonado. Pense nisso.