Por Fabiana Bartolomei e Michelle Reboita/ IRN Unifei
Desde o dia 28 de janeiro têm ocorrido chuvas volumosas em grande parte do sudeste do Brasil. Em Itajubá, os totais diários registrados foram de 22,10 mm no dia 28; 30,48 mm no dia 29; 38,35 mm no dia 30 e 17,18 mm no dia 31. A pergunta que você leitor deve estar se fazendo é qual o fenômeno responsável pelas chuvas registradas nesses dias consecutivos? Como especialistas em ciências atmosféricas, as autoras desse texto respondem que é o fenômeno atmosférico chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Entretanto, nada adianta mencionar um nome técnico sem explica-lo. Então, vamos lá:
A ZCAS é um conjunto de nuvens que se estende desde o sul da Amazônia, atravessa o sudeste do Brasil e chega ao oceano Atlântico, como mostra a Figura 1.
E como esse conjunto de nuvens se forma?
Entre meados da primavera a meados do outono é quando a América do Sul recebe mais energia do Sol promovendo o aquecimento da superfície. Esse aquecimento ajuda a transportar as parcelas de ar da superfície para a atmosfera. Quando há umidade no ar, as nuvens se formam. Entretanto se fosse só isso haveria chuva durante todo o período mencionado, mas sabemos que isso não é verdade. Para as nuvens se manterem por vários dias consecutivos produzindo chuva é necessário um grande suprimento de umidade e mais mecanismos que ajudem o ar a ascender. A ZCAS é justamente a combinação de fatores que propiciam o suprimento de umidade e a elevação do ar úmido na atmosfera. Em alguns períodos há o encontro da umidade que é transportada da região amazônica para o sudeste do Brasil com aquela que é transportada do oceano Atlântico para o continente. Muitas vezes esses escoamentos ainda se acoplam com o da passagem de frentes frias sobre a região sudeste ou apenas sobre o oceano Atlântico. O encontro das correntes de ar faz com que o ar ascenda e forme nuvens. Esse efeito ainda é potencializado pelo aquecimento da superfície que contribui para a ascensão das parcelas de ar (cujo nome técnico é convecção). O resultado disso é o céu coberto por nuvens por pelo menos três dias consecutivos e muita chuva. Isso é um fenômeno natural típico do período quente. A Figura 2 mostra uma imagem de satélite do dia 31 de janeiro com os ventos a cerca de 1500 m de altitude, que indica claramente os escoamentos provenientes da Amazônia e do oceano Atlântico na região de maior nebulosidade.
A dissipação da ZCAS ocorre justamente pela sua permanência, isto é, a presença das nuvens por vários dias consecutivos dificulta o aquecimento da superfície pelo Sol. Então, a convecção começa a enfraquecer. Além disso, se o transporte de umidade pelos ventos é modificado, também ajudará a ZCAS se desconfigurar.