Na tarde do dia 27 de fevereiro de 2023, entre 16:20 e 17:15 h, foi registrado 59,2 mm de chuva no pluviômetro localizado no bairro Estiva. Esse é um volume elevado que pode causar transtornos à cidade e, principalmente, quando ocorre concentrado em menos de uma hora, pois a água não consegue infiltrar rapidamente no solo, ficando acumulada na superfície. Além disso, se os pontos de drenagem da cidade estiverem obstruídos, aí mesmo que há acúmulo de água e, consequentemente, alagamentos.
A chuva intensa e volumosa que atingiu Itajubá causou muitos problemas como o extravasamento do Ribeirão José Pereira, que interditou o trânsito de veículos na Av. BPS, queda de árvores e de postes de energia, como no caso do bairro Cruzeiro que ficou sem iluminação, entre outros problemas.
A chuva registrada foi decorrente da combinação da concentração de umidade entre o sul de Minas Gerais e São Paulo e o intenso aquecimento do ar desde o início do dia 27. O padrão atmosférico desse evento foi um pouco diferente do que causou as chuvas no litoral de São Paulo no dia 19 de fevereiro. As chuvas no litoral paulista foram decorrentes do transporte de umidade do interior do continente e do oceano para a região entre São Paulo e Sul de Minas Gerais e a concentração da umidade foi auxiliada pela presença de uma frente fria no litoral. Já no evento de Itajubá, havia uma área de menor pressão atmosférica ao longo da costa sudeste do Brasil. Essa região de menor pressão e o intenso aquecimento do ar, principalmente no continente, serviram para induzir o transporte de umidade do oceano para o sul de Minas Gerais. Além disso, os ventos de sul de um sistema de alta pressão centrado sobre o Rio Grande do Sul também ajudaram a transportar umidade para a região sudeste. As temperaturas elevadas no sul de Minas Gerais intensificaram o processo de evaporação causando a formação das nuvens de tempestade e a chuva.

Figura 01: Nebulosidade (áreas brancas) e circulação atmosférica a cerca de 1,5 km de altura (linhas com setas pretas) às 16:10 (esquerda) e 17:10 h (direita) no dia 27 de fevereiro de 2023. Fonte: INMET.
Por Dra. Michelle Reboita
Michelle Reboita é doutora em Meteorologia e docente e pesquisadora do Instituto de Recursos Naturais da Unifei. É representante nacional no World Climate Research Program and membro do grupo de trabalho em meteorologia tropical da World Meteorological Organization.