Queremos agradecer a todos que nos acompanham no painel de Educação Financeira deste importante veículo de informação. Essa parceria entre o DENARIUS e o Conexão Itajubá, desde 2017, já produzimos cerca de 70 programas com seus respectivos artigos. Portanto, sintam-se privilegiados, pois essa não é a realidade da maior parte da população brasileira. Muito pelo contrário, cada dia mais vemos pessoas se tornando vítimas de arapucas financeiras praticadas no mercado. Isso sem falar dos mais variados golpes engendrados por pessoas de má fé.
Ainda vamos um pouco além. Mesmo sem conhecimento básico para lidar com questões financeiras simples, muitos brasileiros têm buscado complexos instrumentos financeiros para garantir “os melhores resultados em seus investimentos”. Ou seja, na ilusão do alta rentabilidade (o que podemos chamar de ganhar dinheiro fácil), muitos têm assumido o risco de investir, por exemplo, na bolsa de valores e até mesmo em cripto moedas.
Ao ler esses dois parágrafos você deve estar se perguntando: Esse pessoal do DENARIUS deve estar louco. Escuto falar em bolsa de valores desde que eu nasci. Todo mundo fala dessas tais cripto moedas. Vocês mesmos já falaram sobre isso no Conexão Itajubá. Por que eu não posso colocar meu dinheiro lá e ficar rico também? Considerando essa indagação, este artigo tem o objetivo de apresentar como está caminhando o processo de educação financeira para nós brasileiros.
Sem mais delongas, respondemos à pergunta: Sim, você pode sim colocar o seu “rico dinheirinho” em qualquer tipo de produto financeiro. Afinal, o dinheiro é seu e você faz dele o que bem entender. E é justamente por isso que fazemos uma outra pergunta: Você está preparado para assumir as consequências do seu ato? Ou melhor, você efetivamente sabe quais os riscos que está correndo?
É exatamente nesse ponto que entra o conceito de educação financeira. Ser educado financeiramente não é só saber economizar, cortar gastos, poupar e acumular dinheiro, vai muito além. É necessário formação para desenvolver valores e competências, tornando as pessoas conscientes dos riscos e das oportunidades dos mais diversos produtos do mercado financeiro. Assim, com informação e orientação de qualidade, as pessoas podem fazer escolhas que melhoram o seu bem-estar, contribuindo com o desenvolvimento responsável e sustentável da sociedade.
Foi com essa preocupação que em 2010 o Governo Federal criou a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). Um programa de estado que tinha o objetivo de integrar o poder público e a sociedade civil para promover o desenvolvimento da Educação Financeira pelo Brasil. A princípio, as ações da ENEF foram conduzidas pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil) que fez um brilhante trabalho de articulação entre as Secretarias Estaduais de Educação e Universidades Federais para capacitar professores e levar esse conteúdo para as salas de aula. Uma das maiores conquistas a AEF-Brasil foi conseguir que o tema educação financeira passasse a integrar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC – documento normativo que estabelece o conjunto das aprendizagens essenciais aos estudantes da educação infantil e ensino fundamental). Com isso, a educação financeira passou a ser tema obrigatório a ser tratado de forma transversal em todas as escolas do Brasil.
Após completar 10 anos, o Governo Federal, por meio do Decreto Federal nº 10.393, de 09 de junho de 2020 renovou a estrutura da ENEF, retirando a sociedade civil organizada de sua composição. Com isso, nova ENEF passou a reunir representantes de 8 órgãos e entidades governamentais que, juntos e capitaneados pelo Banco Central do Brasil (BCB – que tem o objetivo de assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda nacional, promovendo o a eficiência e o desenvolvimento do sistema financeiro de um país) integram o Fórum Brasileiro de Educação Financeira (FBEF).
Com a mudança da estrutura da ENEF, a AEF-Brasil, responsável pela capacitação dos professores das redes estaduais de ensino teve suas atividades encerradas. Para suprir essa deficiência, o Banco Central do Brasil, desde 2020, vem desenvolvendo um projeto piloto com o mesmo objetivo, que foi efetivamente lançado às Secretarias de Educação no dia 01/06/2021.
Paralelo à ação do Banco Central, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM – órgão vinculado ao Ministério da Economia, que tem a responsabilidade de disciplinar, normatizar e fiscalizar a atuação dos diversos agentes do mercado mobiliário), também assinou com o Ministério da Educação uma parceria para capacitar 500 mil professores e levar o tema educação financeira a 25 milhões de alunos da rede pública e privada de ensino do país.
Como podemos ver, há grandes expectativas em relação ao desenvolvimento da educação financeira em nosso país. A inclusão do tema na BNCC, os projetos que estão sendo conduzidos pelo BCB e pela CVM são positivos. Mas alguns especialistas estão questionando essas ações, pois tanto o BCB quanto a CVM têm “outras preocupações” em sua essência. Ou seja, promover e disseminar a educação financeira não faz parte do escopo principal desses órgãos federais. E é justamente nesse ponto que vêm os questionamentos: Eles terão fôlego suficiente para fazer o que é preciso? Possuem pedagogia adequada para tocar esses projetos no Brasil, com todas as suas diferenças regionais? Como se pode ver, mesmo depois de 11 anos da criação da ENEF por parte do Governo Federal, a educação financeira ainda está muito distante das nossas escolas, para não falar que ela ainda nem chegou.
Da nossa parte, vamos continuar o sério trabalho que o DENARIUS vem desenvolvendo desde 2015 e torcer para que tudo dê certo.
Até o nosso próximo painel de Educação Financeira.
Se cuidem!
Autores:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valerio
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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