Fui ler sobre a vida da lindíssima Martha Rocha, primeira Miss Brasil em 1954. Nunca me esqueci deminha mãe contando sobre ela, de como havia perdido o posto de Miss Universo por ter duas polegadas a mais no quadril. Só agora li que isso é lenda, foi inventado por um jornalista brasileiro da época para consolar o orgulho brasileiro ferido. A própria Martha dizia não se lembrar de ninguém tirando suas medidas.
Li também o artigo de um escritor, Reinaldo Polito (Como conheci Martha Rocha), uma história verdadeira e pitoresca. Conheceram-se por volta de 1985 em uma viagem de avião e ele ficou emocionado com a beleza da moça, na época já com seus cinquenta e alguma coisa, mas estonteantemente bela. Ele acabou mencionando que teria seu primeiro livro lançado por aqueles dias e prometeu enviar a ela o primeiro exemplar autografado, ao que ela agradeceu gentilmente. Não é que trinta anos depois, ele garimpando em sebos, surpreso, encontrou o livro autografado que enviara à Martha Rocha. Não se importou, compreendeu que todos nós, vez por outra, temos que nos desvencilhar de tantos livros que acumulamos.
Bom, mas o que quero falar é sobre a efemeridade da vida. Sei que todo mundo sabe, inclusive eu, que a vida passa e passa velozmente e acaba, mas só percebemos isso mais tarde. Nossa vida tem muitos acontecimentos, fatos e feitos e pouquíssimas décadas. Enquanto jovem eu sabia disso, porém eu não sentia dessa maneira, pelo contrário, sentia que a vida se oferecia generosamente a mim e isso tinha algo de eterno, como diz Adélia Prado: “o jovem se sente eterno”. Deus sabe o que faz. Deixa a gente viver a ilusão de ser eterno até que tenhamos idade para saber e sentir que a vida não é eterna, aliás, muito breve.
Assisti na Netflix um documentário sobre a vida e sucesso de Mike Jordan, considerado o melhor jogador de basquete de todos os tempos. Este atleta incrível praticamente levitava e não perdia um só lance. Hoje, com sessenta e um anos, ele recorda, emocionado, os episódios mais marcantes de sua carreira e vida. Não tem mais a magreza dos tempos de moço, seus olhos um pouco embaçados não escondem que o tempo passou. Não vi fotos de Martha Rocha idosa e não queria ver, não vem ao caso, não interessa.
Fico pensativa diante da vida que passa, segundo minha irmã, já passou. Não foi uma nem duas vezes que ouvi a frase dita por uma tia: você chega lá. Todos chegamos, todos chegaremos, a menos que a morte apareça mais cedo. Mesmo os famosos, os reis e rainhas, filósofos, escritores, músicos, estadistas, todos ficam velhos, perdem o brilho da pele, dos olhos. Não há como deter o efeito devastador do tempo seja no corpo, às vezes de forma cruel na mente. Não importa.
É preciso pedir a Deus que nos ensine a contar nossos dias e que dê sabedoria ao nosso coração. Assim, todos passarão, mas nós passarinhos, aludindo ao que disse, adoravelmente, Mário Quintana.
Misa Ferreira é autora dos livros: Demência: o resgate da ternura, Santas Mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos, Asas por um dia, Na casa de minha avó e Ópera da Galinhinha: Mariquinha quer cantar. Graduada em Letras e pós graduada em Literatura. Premiada várias vezes em seus contos e crônicas. Embaixadora da Esperança (Ambassadors of Hope) com sede em Calcutá na India. A única escritora/embaixadora do Brasil a integrar o Projeto Wallowbooks. Desde 2009 Misa é articulista do Conexão Itajubá, enviando crônicas e poemas. Também contribui para o jornal “O Centenário” de Pedralva.