Suas penas também eram diferentes e mudavam de cor – sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez, voltou totalmente branco, com uma cauda enorme de plumas fofas como algodão, e disse:
– Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua. Trouxe nas minhas penas um pouco do encanto que vi, como presente para você.
E assim ele cantava canções e contava histórias daquele mundo que a menina nunca vira, até que ela adormecia e sonhava que voava nas asas do pássaro. Outra vez, voltou vermelho como fogo e com um penacho dourado na cabeça; e de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. Também a ave amava a menina, pois voltava sempre, mas chegava a hora da tristeza…
– Tenho que ir amanhã – ele dizia.
– Por favor, não vá. Fico tão triste, terei saudades e vou chorar.
– Eu também terei saudades, também vou chorar, mas, assim como as plantas precisam da terra, você precisa do ar e os peixes precisam da água, o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza na espera da volta que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades, deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.
E, mais uma vez, ele partiu. A menina chorava de tristeza à noite imaginando se o pássaro voltaria. Numa dessas noites, ela teve uma ideia malvada: ‘Se eu o prender na gaiola, ele nunca mais partirá e será meu para sempre. Jamais terei saudades e ficarei feliz’.
Com este pensamento egoísta, comprou uma linda gaiola – própria para um pássaro que se ama muito – e ficou à espera. Finalmente ele chegou maravilhoso, com suas novas cores e lindas histórias. Foi então que a menina, cuidadosamente, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E ela adormeceu feliz, até acordar de madrugada com um gemido triste do pássaro.
– Ah, menina, o que é que você fez? Quebrou o meu encanto! Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das histórias. Sem a saudade, o amor irá embora.
A menina não acreditou e pensou que ele acabaria por se acostumar, mas isso não aconteceu. O tempo foi passando e o pássaro ficando diferente. Caíram suas plumas – os vermelhos, os verdes e os azuis transformaram-se num cinzento triste. Deixou também de cantar.
A menina se entristeceu e percebeu que aquele não era o pássaro que ela amava. De noite, ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu melhor amigo. Enfim, não mais aguentou e abriu a porta da gaiola.
– Pode ir, amiguinho, e volte quando quiser.
– Obrigado, minha linda. Você sabe que preciso partir para que muitas coisas boas aconteçam dentro de mim. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita e se enfeitará para me esperar.
Então, voou para lugares distantes, enquanto a menina contava os dias. Cada hora que passava, a saudade crescia.
– Que bom, meu pássaro está ficando encantado de novo – pensava ela.
E ia ao guarda-roupa escolher os vestidos, penteava seus cabelos e colocava flores nos vasos. Quase sempre dizia à mãe:
– Nunca se sabe, pode ser que ele volte hoje!
Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro, porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum continente ele haveria de voltar. E ela repetia:
– Que mundo maravilhoso que guarda em alguma cidade o pássaro que eu amo!
E foi assim que, cada noite que ia para a cama, ela ficava com o coração triste de saudade, mas feliz com a esperança de vê-lo novamente.
– Quem sabe ele voltará amanhã?
Ela dormia e sonhava com a alegria do reencontro…
Da mesma forma, não prenda a caridade no seu coração. Deixe-a partir às casas dos pobres e ela voltará dando mais sentido à sua vida. Estando fechada dentro de você, muitas histórias bonitas deixarão de ser contadas e o mundo será menos colorido.
Quem pratica a caridade sabe que, mesmo quando descansa à noite, Deus abençoa e cura sua vida. Portanto, há uma gaiola dentro de você que precisa estar sempre aberta: o seu coração. Nele, o amor sai e a graça entra, permitindo uma amizade muito próxima com Jesus Cristo. Ele mantém viva a esperança de chegarmos ao Céu porque, lá também, a porta está aberta.