Na floresta, um filhote de leão que viu a mãe ser morta por caçadores, disse chorando à tartaruguinha amiga:
– Eu gostaria de ser igual à minhoca, assim, me infiltraria na terra e nunca mais sairia de lá.
No dia seguinte, ele avistou um pássaro levando uma minhoca no bico para alimentar os filhotes no ninho. Encontrando-se novamente com a tartaruga, falou:
– Na verdade, eu gostaria de ser um pássaro e poder voar livre para onde quisesse.
– Pássaro? Você já viu quantas aves também são atingidas por atiradores aqui?
– Então, o melhor mesmo seria ser um peixe e me esconder dentro d’água!
– E os jacarés, como lidaria com eles?
– É mesmo! Por que, então, não sou um jacaré?
– Pare de se comparar com os outros, meu amiguinho. Você crescerá, será ágil, forte, bonito e também caçador! Eu nunca serei nada disso e não estou reclamando!
Naquele momento, o enorme pai do leãozinho se aproximou e a tartaruguinha se encolheu de medo dentro do casco. Vendo a cena, o filhote se sentiu importante e partiu feliz com o pai.
Bem, esta história serve para exemplificar que a felicidade perfeita não existe; aliás, só a experimentaremos no Céu! E sei que esta afirmação pode contrariar a opinião de quem se julga imensamente feliz, mas eu ainda diria que, vivendo muitos momentos de alegria, pensamos ser felizes a toda prova. Será que isso é mesmo verdade?
Reflita nestas questões: ‘É possível rir da miséria que tira a dignidade de milhões de famílias no mundo? É bom viver num país com mais de 90% de cristãos e ver cerca de 30 milhões de irmãos flagelados? Sabendo que Jesus sofre no pobre desfigurado – Mt 25, 31-45 –, é possível ser feliz sem partilhar o que Ele nos deu?’.
Não é fácil falar sobre isso porque constrange muita gente, mas, felizmente, chegou a hora de pararmos de brincar de fazer caridade. Quem pensa que dando um trocado a um pedinte na porta de casa vai ajudar a resolver os nossos problemas sociais, está tentando enganar a si próprio. E quem vive rindo à toa porque se envolve em tudo o que lhe dá prazer e não tem tempo para Deus, está se afundando cada vez mais na lama dos seus pecados.
Sei que uma dose de felicidade diária também é necessária à nossa caminhada cristã e, até mesmo este artigo, sempre se propõe a levar paz e alegria aos corações dos leitores, contudo, de vez em quando, preciso enfocar um assunto meio triste para orientar os passos de algumas pessoas e fazê-las conhecer, um dia, a verdadeira felicidade.
Eu também já disse – e continuo dizendo! – que vivo feliz, mas estou consciente que apenas experimento momentos de alegria – quando tenho paz de espírito e estou em comunhão com Deus. Há dias, porém, que fico extremamente preocupado com a situação dos pobres e, ao invés de chorar ou ficar deprimido, procuro melhorar o meu serviço a eles. Nada mais justo!
Pois bem, o importante nisso tudo é sabermos que a miséria do nosso vizinho nos afeta profundamente. Precisamos nos comprometer com o combate à fome, porque a falta de alimentos na mesa das famílias causa doenças, retarda o desenvolvimento mental das crianças, gera incapacidade para o trabalho, faz crescer a violência e desestrutura o lar.
A ganância em promover somente a própria felicidade nos afasta de Deus e, para diminuir essa distância, precisamos implementar ações comunitárias libertadoras em todos os níveis. A vida deve estar sempre acima dos interesses materiais! Disse Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9, 13).
Portanto, vamos fazer tudo o que está ao nosso alcance: cortando gastos desnecessários, educando os nossos filhos para o baixo consumismo, participando do Mutirão Nacional de Combate à Fome, rezando e lutando ao lado da Igreja pelos direitos sagrados dos mais humildes, amparando o pobre com alegria… repartindo!
Você tem outras ideias? Com certeza, se quiser, será inspirado pelo Espírito Santo e poderá ajudar a formar novas gerações para o exercício pleno da cidadania! Apenas não fique dizendo que se considera muito feliz se não está fazendo a sua parte junto aos pobres. Também, como o leãozinho, não reclame simplesmente.
Temos que nos unir para tirar o Brasil da vergonhosa relação dos países que praticam as mais injustas distribuições de riquezas do planeta! Torne-se vicentino(a) ou faça parte da Pastoral Familiar e verá que não excluímos ninguém: nem quem quer ajudar e nem quem precisa de ajuda.
O pobre também merece experimentar o gosto da felicidade e, quem não se empenhar para isso, não terá a misericórdia de Deus quando tentar se justificar: ‘Eras tu, Senhor?’
Por Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
Livros do autor:
1. Gotas de Espiritualidade – Editora Bookba (à venda na Amazon, Americanas, Shoptime, Magalu…) – mensagens diárias de fé e esperança, com os santos de cada dia.
2. Pegadas na Areia – Editora Prismas / Editora Appris
3. Histórias Infantis Educativas – Editora Cléofas
4. Histórias Cristãs – Editora Raboni
5. O Mendigo e o Padeiro – Editora Paco
6. A Arte de Aprender Bem – Editora Paco
7. Minha Vida de Milagres – Editora Santuário
8. Administração do Tempo – Editora Ideias e Letras
9. Mensagens que Agradam o Coração – Editora Vozes
10. Projetos Mecânicos das Linhas Aéreas de Transmissão (coautor) – Editora Edgard Blücher
11. Mecânica Geral – Estática (coautor) – Editora Interciência