
Durante muito tempo, gostar de histórias em quadrinhos, colecionar bonecos de personagens ou passar horas jogando videogame era visto como algo “de criança” ou até meio esquisito. Quem se identificava com esses gostos geralmente era rotulado como “nerd” ou “geek”, quase sempre com um tom pejorativo.
Mas o mundo girou, o tempo passou e, hoje, a cultura geek se transformou em uma das engrenagens mais lucrativas da indústria do entretenimento. Filmes, séries, games, quadrinhos, colecionáveis e eventos movimentam bilhões de dólares todos os anos e, dessa forma, mostram que o que antes era de nicho, agora é mainstream.
Antes de falarmos de cifras e fenômenos, vale entender do que estamos falando. A cultura geek engloba o universo de interesses que gira em torno de temas como ficção científica, fantasia, super-heróis, videogames, mangás, tecnologia, entre outros. Não se trata apenas de consumir esses produtos, mas de participar ativamente: vestir camisetas temáticas, frequentar eventos como a Comic-Con, colecionar action figures e debater teorias na internet.
Mais do que um simples hobby, é um estilo de vida que ganhou força com a ascensão da internet e, principalmente, com o fato de que as novas gerações cresceram cercadas por esses elementos. O geek de hoje é o adulto que assistia Dragon Ball na infância e joga Zelda no fim de semana.
Se você ainda tem dúvidas sobre o impacto econômico da cultura geek, basta olhar os números. A indústria de jogos eletrônicos movimenta mais de US$ 180 bilhões por ano — valor superior ao do cinema e da música combinados. E isso inclui desde superproduções como The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom até títulos com propostas mais inusitadas e criativas, como Pikmin™ 3 Deluxe da Nintendo, que coloca o jogador para explorar mundos em miniatura com a ajuda de criaturas coloridas e simpáticas.
Além dos games, o cinema também se rendeu ao apelo geek. A Marvel, por exemplo, consolidou um verdadeiro império com seu universo cinematográfico, transformando heróis de HQ em ícones globais. O sucesso foi tanto que outros estúdios correram atrás para lançar suas próprias franquias interconectadas, como foi o caso da DC, da saga Star Wars e até de adaptações de games para o cinema.
Com o boom dos serviços de streaming, como Netflix, Amazon Prime e Disney+, a cultura geek encontrou ainda mais espaço para florescer. Séries como Stranger Things, The Witcher e The Mandalorian não apenas conquistaram grandes públicos, como também ajudaram a renovar o interesse por clássicos. Quem nunca viu alguém comentando que resolveu jogar um game ou ler um livro clássico depois de assistir à adaptação na TV?
Essa sinergia entre plataformas fortalece o ciclo: uma pessoa assiste à série, busca o livro ou o jogo original, começa a seguir fanpages e, de repente, está envolvida em um universo inteiro de produtos – todos monetizados, é claro.
Outro pilar importante dessa força econômica são os produtos colecionáveis. Action figures, réplicas, camisetas, pôsteres, cards raros… o mercado de itens geek movimenta bilhões e conta com um público fiel, disposto a pagar caro por exclusividades. Basta olhar o sucesso das lojas especializadas e das edições limitadas lançadas junto com jogos ou filmes.
Além disso, os eventos temáticos como Comic-Con, Anime Friends e Brasil Game Show reúnem milhares (às vezes milhões) de fãs por edição, gerando empregos temporários, turismo e consumo de produtos. Essas convenções deixaram de ser encontros amadores e se tornaram verdadeiras vitrines globais para lançamentos de produtos e anúncios de peso.
Um dos grandes trunfos da cultura geek é a comunidade que ela forma. Fóruns, canais do YouTube, perfis no TikTok e grupos em redes sociais mantêm os fãs conectados o tempo todo. Isso gera um sentimento de pertencimento e, ao mesmo tempo, funciona como um poderoso mecanismo de divulgação orgânica. Quando um novo jogo, filme ou produto é lançado, são essas comunidades que fazem o “boca a boca digital” acontecer.
A paixão compartilhada também ajuda a manter o interesse por marcas e personagens durante anos, algo que poucas indústrias conseguem. E é por isso que empresas como Nintendo, Marvel e Pokémon continuam fortes mesmo depois de décadas.
Nos últimos anos, a cultura geek também passou por uma transformação importante: a busca por mais diversidade e representatividade. Personagens antes vistos como “padrão” deram espaço para protagonistas femininas, negros e de diferentes culturas. Isso ajudou a ampliar ainda mais o alcance desse universo, tornando-o mais inclusivo e refletindo melhor a variedade de pessoas que consomem esse conteúdo.
Essa mudança não é apenas ética, ela é também estratégica. Ampliar o público significa ampliar o mercado. E isso tem se refletido nos produtos: games com múltiplas opções de personalização, histórias com novos perfis de heróis e franquias repensadas para novos tempos.
Um dos aspectos mais fascinantes dessa trajetória é a maneira como a percepção pública mudou. Ser geek, que antes era sinônimo de “excluído” ou “esquisito”, hoje virou sinônimo de conhecimento, estilo e até status. Camisetas de super-heróis são comuns, referências a séries e jogos aparecem em campanhas publicitárias e artistas famosos assumem seu lado nerd com orgulho.
A cultura geek virou tendência e, mais do que isso, virou pilar da indústria do entretenimento.
Com o avanço da tecnologia, novas fronteiras estão se abrindo. Realidade aumentada, metaverso, inteligência artificial e novas formas de interação devem levar a cultura geek a patamares ainda mais altos. Não é exagero dizer que estamos apenas no começo de uma era em que o que antes era “de nicho” será a norma.
Seja nos jogos cada vez mais imersivos, nas adaptações cinematográficas ou nos produtos colecionáveis que lotam prateleiras, a cultura geek não só resistiu ao tempo – ela prosperou. E tudo indica que esse universo continuará crescendo, inovando e, claro, movimentando cifras astronômicas.