Sou mal-humorada. Também nem tanto, é que sou perfeccionista e quando as coisas não saem do jeito que quero, armo um burro, um burrinho. Mas logo saro. Fico feliz com grandes alegrias e com as pequenas também, por exemplo, conseguir um carro zero ou se não, um brinquinho bonitinho, que me cai bem. Esta sou eu. Enfim, vamos à torneira.
Nosso apartamento é antigo, desses que se a gente vai mexer em uma coisa, tem que mexer em outra, um reparo puxa outro, no final, pra ficar bom mesmo tinha que derrubar e fazer tudo novo. Também nem tanto, hoje estou mais para oitenta do que pra oito e quem escreve histórias sempre terá que aumentar um pouco, bordar aqui e pintar ali para conseguir prender o leitor. Então, vamos lá, meu marido teve que trocar a torneira de um lavatório. Aí me perguntou: que tipo de torneira você quer? Eu respondi: nem a caríssima, nem a baratíssima, a intermediária. E ele: mas e a anatomia? Ah, você escolhe. Ok.
A torneira nova ficou feia em dois tempos. Funcionava, tudo bem, mas uma feiura, pegou uma cor esverdeada e por mais que eu limpasse, não ficava limpinha. Odiei. Não sei em que bacia das almas ele comprou esta torneira. Evidentemente que foi a mais barata. Fiquei quieta. Já tenho fama de reclamadora, então, larguei mão. Mas confesso que toda vez que olhava para a bendita torneira, tinha vontade de encher a cabeça do marido. Pior do que uma mulher megera é um homem mal-humorado e isto ele não é. É um amor!
Eis que subo um dia desses e dou com meu marido deitado debaixo da pia, desparafusando algo no chão molhado, e eu pergunto: Bem, o que houve? Vazamento? E ele: estou trocando a torneira que estava muito feia! Não acreditei. Que bom que foi não ter reclamado, ganhei pontos no quesito de mulher encantadora. Ou a torneira estava tão feia que até ele resolveu tomar providências.
Quando temos que comprar algo para a casa, ele logo diz: prefiro que você vá junto para não haver reclamação. E eu vou. E o que acontece? Fico apaixonada pelo item mais bonito que coincidentemente é o mais caro. E o barato já sabemos que sai caro.
Bom, a nova torneira é uma graça e ainda não ficou esverdeada, o que é um bom sinal. Não é anatômica, não é a melhor, mas comparada com a marmotice da anterior, tá mordebão como dizia minha amiga Sandra.
Logo que nos casamos, eu já sabia que ele era do tipo de economizar e eu de gastar. Mas como cada um tem sua renda, tudo bem. Com o tempo fomos trocando experiências. Um belo dia quando eu fui lhe dizer que estava aprendendo com ele a economizar, ele se antecipou e me segredou que estava aprendendo comigo a gastar, quer dizer, a se dar mais prazer, a comprar uma mercadoria melhor, um vinho bom, qualquer coisa que fosse. Rimos muito porque foi no mesmo dia e na mesma hora. Naquele momento e em muitos outros percebi que nosso casamento “tinha dado certo”.
A nova torneira é simples como nossa vida é. A felicidade nunca é sofisticada. Ela é simples.