Então, procurei na internet e li um extenso artigo do Frei Jacir de Freitas Faria, ofm, publicado no Jornal Estado de Minas, referente à história da Virgem Maria nos evangelhos apócrifos – textos das origens do cristianismo, que não fazem parte da Bíblia. Ele me trouxe novidades sobre a vida dessa personagem tão santa e polêmica entre os cristãos. É uma viagem fascinante e quem começa não quer parar. Muitas curiosidades são sanadas diante dos relatos maravilhosos.
Os principais textos e evangelhos apócrifos que falam de Maria são: O Nascimento de Maria: Proto-evangelho de Tiago; O Nascimento de Maria: Papiro Bodmer; Evangelho do Pseudo-Mateus; História de José, o Carpinteiro; Evangelho Armênio da Infância; Evangelho dos Hebreus; Livro da Infância do Salvador; Pistis Sophia; Aparição à Maria: Fragmentos de Textos Coptas; Lamentação de Maria: Evangelho de Gamaliel; Maria Fala aos Apóstolos: Evangelho de Bartolomeu; Trânsito de Maria do Pseudo-Militão de Sardes; Livro do Descanso; e O Evangelho Secreto da Virgem Maria.
Eu li este último e posso garantir que é uma obra literária belíssima que coloca Nossa Senhora narrando a própria história a João, seu discípulo predileto. Os apóstolos a chamavam de mãe, porque ela era exemplo de mulher integrada.
Frei Jacir diz que muitas tradições religiosas em relação a Maria têm suas origens nos apócrifos, assim como: a palma e o véu de nossa Senhora; as roupas que ela confeccionou para usar no dia da morte; sua assunção ao céu; a consagração à Maria e de Maria; os títulos que recebeu na ladainha dedicada a ela; os nomes de seu pai e de sua mãe; a visita que ela e Jesus receberam dos magos; o parto em uma manjedoura etc.
A virgindade de Maria é defendida pela quase totalidade dos textos. Ao falar da virgindade, a comunidade dos apócrifos tem intenção mais apologética que histórica. A pureza de Maria é demonstrada pela sua vida consagrada no templo de Jerusalém. Ela está sempre em contato com o sagrado e, quando Jesus nasce, a virgindade de Maria é mantida.
Os irmãos de Jesus eram de criação. Nem é preciso recorrer à interpretação de Jerônimo (séc. IV E.C.) que entendeu o substantivo ‘irmão’ dos evangelhos canônicos como primos. Além disso, José tinha 93 anos quando se casou com Maria – uma jovem entre 14 e 15 anos.
João – aquele que recebeu o encargo de cuidar dela – levou a palma da virgindade de Maria porque também se manteve virgem. Por isso, ainda hoje, se oferece a palma nas coroações de Nossa Senhora.
Maria também seguiu os costumes judaicos. Ela casou-se com José, conforme previa a Lei (Torá) que ela tanto observava e estudava. Seus pais eram descendentes de Davi e também o seria seu filho, Jesus. O nascimento dela foi impedido pela esterilidade da mãe, mas a bênção de Deus possibilitou o milagre. Somente uma boa judia podia receber essas bênçãos de Deus!
Toda a história da assunção da Virgem Maria está nos apócrifos. Os escritos sobre ela foram respostas aos questionamentos sobre a sua vida. Eles são as expressões da fé: na virgindade, assunção, santidade e liderança de Maria entre os primeiros cristãos. Não só esses escritos sobre Nossa Senhora ajudaram a difundir a fé nela como mãe de Deus, mas a arte e a liturgia.
Continuando o relato do frei, em 1950 a Igreja católica proclamou o dogma da Assunção de Maria, confirmando simplesmente um ensinamento tradicional. A assunção só foi possível porque ela era virgem. A presença dos apóstolos no momento em que Cristo vem buscá-la no sepulcro demonstra a legitimidade da assunção.
E Paulo estava entre eles. Ele não poderia conhecer os mistérios que se passava com ela, pois era apenas um iniciado na vida cristã. Os apóstolos não concordavam com as opiniões de Paulo, mas Jesus apareceu e o acolheu, o que significou que bastava um coração puro como o de Paulo ou de Maria para poder atingir a salvação.
Pois é, a nossa religião tem uma grande mulher. No cristianismo e no imaginário coletivo, Nossa Senhora permanecerá sempre como modelo de mãe intercessora; mas não estaria na hora de acrescentar a esse dado de fé a liderança apostólica e missionária de Maria que os apócrifos nos legaram? Ademais, nos apócrifos, Maria não deixou de ser mulher para ser a mãe de Jesus. Vale a pena ler os apócrifos sobre ela.
Bendito seja o Papa Emérito Bento XVI que disse: “Maria é o ideal da autêntica vida litúrgica”. Quem pode negar isto?