Para compreender melhor o que cabe à mulher na construção de uma humanidade melhor, observei minha família, composta por muitas mulheres. Qual missão essas mulheres cumprem na família?
O que me veio primeiro à mente foi o papel central da mulher na construção da família.
Sem a mulher, a família não existiria — não só pelo nascimento dos filhos, mas por seu papel acolhedor, conciliador; sua força, muitas vezes revestida de doçura; sua vontade de fazer o melhor pela família, sua ampla capacidade de compreender e dividir.
Uma recordação singela é que, quando eu era criança e me machucava, recorria sempre a minha mãe ou a minha avó. Sentia nelas o acolhimento que precisava e recebia todos os cuidados, sempre com muito afeto.
E qual o meu papel nesta pequena humanidade que é minha família? Hoje, observo que atuo por diversas vezes com as mesmas características que observava nas mulheres mais velhas do que eu. Às vezes, tendo que auxiliar no desentendimento entre os primos pequenos, cuidando deles com muito afeto, e sendo também um ponto de apoio para toda a família.
Entretanto, penso muito na forma como quero atuar na família que vou construir. Que mãe quero ser? Que características e valores já possuo e quais ainda preciso cultivar? Como é essa “mulher-mãe” que almejo ser?
Compreendo que é a partir deste ponto que vou começar a compreender qual é a missão da mulher na construção de uma humanidade melhor, pois meus futuros filhos farão parte dessa humanidade.
Diante disso, tenho esforçado-me para debilitar deficiências psicológicas — como a brusquidão, a impaciência, a irritabilidade, a vaidade, o amor-próprio, a suscetibilidade, o egoísmo e a rigidez — que vão de encontro a características femininas muito importantes. Sem dúvida, são muitas deficiências psicológicas e nem sempre elas atuam em conjunto, o que, às vezes, torna o trabalho de identificação e suavização mais difícil.
Além disso, pensando na mulher que quero ser e quais pensamentos devo cultivar, tenho buscado observar de que modo as correntes mentais, como o feminismo e o machismo, têm interferido na construção desse conceito. Neste contexto, já observei alguns pensamentos, como, por exemplo, o de me igualar ao homem, inclusive fisicamente. Uma experiência simples que vivi foi ter sentido incômodo quando meu namorado se ofereceu para colocar um galão de água no filtro; rapidamente, surgiu o pensamento de que eu mesma era totalmente capaz de fazer isso, de que tinha força para tal e não precisava dele. Felizmente, consegui deter-me a tempo, permitindo que ele ajudasse nessa tarefa, sabendo que isso o deixaria feliz por se sentir útil e colaborativo.
No outro extremo, já observei os pensamentos atuando na esfera doméstica, quando imagino que os cuidados com a casa são de minha responsabilidade. Ao mesmo tempo, por vezes penso que não tenho obrigação de coisa alguma, portanto não devo realizar as tarefas domésticas sozinha sob nenhuma hipótese. Para combater pensamentos tão opostos, tenho buscado pensar bastante antes de fazer qualquer atividade. E quando me decido a executá-la, penso se tal conduta condiz com a mulher que quero ser, além das consequências de tais atuações.
Não é uma tarefa fácil construir um novo conceito, principalmente com tantos pensamentos discrepantes no mundo levando-nos cada hora para um extremo. Porém, penso que somente formando um novo conceito verdadeiro de mulher e definindo o arquétipo de mulher que quero ser, nos diversos campos da vida, é que poderei contribuir na construção de uma humanidade melhor.
Um pensamento de Rafaela Sernagiotto Barbosa