E chegamos, desgraçadamente, ao marco de 500 000.
Mortos, se é preciso dizer!
20 de junho de 2021, horas antes da chegada do inverno no Hemisfério Sul, esse número indecente, maligno, cruel, nos agride.
Não quero falar de política nem de políticos. Estou enjoada, há muito tempo, de ouvir sobre uns e outros, que no fundo são idênticos em manipulações e ladroagens.
Quero falar da vida que, desnecessariamente, foi roubada de muitos desses quinhentos mil brasileiros.
Que não são números frios.
Que são homens, mulheres e crianças que poderiam estar vivos agora, se houvesse ainda o senso de humanidade no mundo.
Não há culpados identificáveis, sejam presidentes ou ministros (assim mesmo, em letras minúsculas, porque não merecem destaque).
Eles são também culpados, cada um ao seu modo, mas são apenas os representantes de uma sociedade que veio anulando valores e nivelando a Ética a algo que se adapta e ajusta aos interesses.
Somos todos culpados!
Se não diretamente, de forma tortuosa e abjeta, porque cúmplices.
Muitos de nós fazemos parte dos omissos, dos que não lutam pelo que acreditam, dos que aceitam que “o Brasil é assim mesmo”, que o “jeitinho brasileiro” é sinônimo de criatividade, que “as mulheres brasileiras são, mesmo, (só) boazudas”.
Não é o presidente, não é a política, mas somos nós que contabilizamos os mortos, sem reação de revolta nem repúdio.
500 000.
Aqui não cabem comparações: pouco me importa que o número seja maior ou menor do que em outras tragédias. Pouco me importa que o Brasil tenha vacinado mais ou menos do que qualquer outro país.
Importa, isso sim, e todos nós sabemos disso, que muito pouco foi feito em relação ao que todos teríamos que estar fazendo, cada um no seu papel: governantes se esforçando por proteger a vida dos cidadãos e lamentando os mortos, e nós, atentos e cobrando que façam isso, e nada mais nesse momento.