Quando era mais jovem, eu pensava que a paz viria através de alguém ou de alguns que fariam mudanças fundamentais nas leis e tomariam decisões que acabariam com todas as mazelas deste mundo.
De alguma forma acreditava na figura do “salvador da pátria”. Do pai de todos que seria tão soberano que abdicaria de seus próprios interesses em favor do bem comum. Um abnegado. Alguém que teria um poder tal que conseguiria convencer a todos e, ungido pela massa, teria somente a vontade de fazer o bem pela humanidade.
Cabia a mim, então, ser parte daqueles que levariam esse ideal em frente, a começar por meu voto. Eu deveria ser um eleitor consciente, alguém que buscava informações e analisava-as para fazer o melhor juízo. Depois, travaria debates e, com uma lógica infalível, conseguiria convencer e arregimentar um grande número de pessoas. Obviamente não deu certo.
As sucessivas frustrações e os desapontamentos com as atitudes das pessoas que eu pensava quererem o bem da humanidade, mas que na verdade estavam em busca tão somente de seus interesses pessoais, fizeram-me sentir defraudado e impotente.
Parti então para o lado oposto: desfrutar dos prazeres do mundo. Não queria pensar em nada disso, somente em mim e naqueles ao meu lado. Pensava que o mundo era um desatino e a vida uma busca pelo prazer estético e sensorial. Se havia guerra nas ruas, no Oriente e no Ocidente, era parte da vida. Eu não tinha nada a fazer, a não ser ignorar. Lamentava, mas sem realmente me importar.
No entanto, em certo momento da minha vida, experimentei uma grande frustração e passei a pensar que aquela postura também não estava certa, além de não me levar a lugar algum. Uma voz bem no fundo dizia que eu tinha de buscar respostas para as perguntas essenciais como, por exemplo: qual é o sentido da vida? Por que há lutas entre as pessoas, apesar de todos declararem a busca pela paz? E foi então que encontrei a Logosofia.
Nela, compreendi que as grandes mudanças ocorrem primeiro dentro de mim. Mudar voluntária e conscientemente exige esforço. A mudança demanda energia: sair da inércia e transformar essa energia em ação. Como posso querer a paz na humanidade, sem a cultivar dentro de mim? Encontrar o equilíbrio no meu próprio mundo deveria ser o meu primeiro e mais fundamental passo em direção à paz.
Com o método logosófico, aprendi a olhar para dentro de mim mesmo e a reconhecer a existência de um espírito que clama por seu domínio, confrontando uma personalidade guiada pelo amor próprio e pelo instinto, que insistem em dominar minha mente e meus atos, persistindo no egoísmo, na intolerância, na ignorância. Este é o primeiro conflito que preciso resolver: a primeira paz.
E como esse conflito se apresenta no dia a dia? Por exemplo, se estou no trânsito e sofro com uma manobra imprudente de outro motorista, despejando raiva, o que posso esperar de quem a recebe? Como posso buscar a paz se, diante do menor erro de meu semelhante, não demonstro paciência, tolerância e compaixão? Eu já cometi, e ainda cometo, erros no trânsito. E o que gostaria que fizessem comigo frente aos meus erros?
Com essa forma de pensar, consegui reconciliar dentro de mim a vontade de fazer o bem com o que eu poderia realizar objetivamente por conta própria, com minha responsabilidade, e que teria impacto no mundo. Não me sinto mais impotente.
Ao recordar a minha trajetória, compreendi que estava colocando o problema da paz somente na diferença de poder aquisitivo e riqueza das pessoas e países. Na época, esse era um conceito — na verdade, um preconceito — que, como todos os da mesma categoria, não era fruto de reflexão, mas sim uma cópia de um mau juízo.
Também estava projetando o problema para fora de mim. Afinal, eu estava tão imbuído do bem que não poderia haver nada de errado comigo. Era um problema das pessoas ao meu redor, um problema da humanidade, não meu. O meu problema era convencer as pessoas. Eu não tinha nada a mudar em mim mesmo. Colocava o problema exclusivamente para fora de mim. Que ilusão! Que pretensão!
Compreendi que meu trabalho é direcionar o olhar para dentro de mim mesmo e reavaliar os conceitos que sustentam minha conduta. Quando esses conceitos não passarem pelo crivo da minha consciência, devo substituí-los. Encontrar a paz dentro de mim e, assim, poder irradiar a paz para a humanidade.
Um pensamento de Silvio Ferrari