Na mitologia grega, o gigante Procusto convidava pessoas para passarem a noite em sua casa e as colocava para dormir na cama de ferro, mas havia uma armadilha na hospitalidade: ele exigia que os visitantes coubessem com perfeição na cama. Se fossem muito baixos, ele os esticava; se fossem altos demais, cortava suas pernas!
Por mais estranho que isto possa parecer, será que não buscamos soluções ainda piores para os nossos problemas? E o que dizer das pessoas que tentam resolver questões embaraçosas forjando resultados rápidos e fantásticos? Por exemplo:
Certa mulher que acabou de perder o marido foi ao necrotério onde o corpo estava sendo preparado para o velório. Lá, viu que o falecido vestia um terno que não era dele e percebeu que o morto do caixão ao lado estava com a roupa do seu marido. Profundamente ofendida, chamou o responsável e, em meio a muitas lágrimas, apontou-lhe o erro. Assim que a senhora saiu, o gerente do necrotério gritou: ‘Pedrão, troque depressa as cabeças nos esquifes 2 e 3’.
Trata-se apenas de uma anedota de péssimo gosto? Pode ser, mas, insisto, já fizemos coisas piores na vida e muitos ainda o fazem! E se você ficou chocado(a) com estas histórias, lembre-se que a televisão nos mostra reportagens muito mais fortes, como: sequestros de bebês, espancamento de velhinhas, homens-bomba, assassinato dos próprios pais etc. Por que fatos como estes não param de acontecer?
Eu li um relato que serve de explicação para muita coisa que vem ocorrendo:
Uma operária regressava ao lar no final do trabalho noturno. Com a cabeça distante e perdida em problemas, caminhava pelas ruas escuras de seu bairro distante quando, de repente, foi tomada de assalto por um marginal. Assustada, mas incapaz de uma reação mais forte – talvez pelo cansaço do trabalho ou pelo cansaço da alma –, ouviu o rapaz dizer: ‘A bolsa ou a vida’. De pronto, ela respondeu: ‘Qualquer uma das duas, ambas estão vazias mesmo!’
Agora, eu pergunto: ‘É justo deixarmos que a nossa vida se torne tão vazia quanto uma bolsa sem dinheiro? O sentido sagrado da nossa existência não vale nada?’ Sinceramente, não sei qual foi a maior violência da história: o assalto ou a resposta da operária.
Da maneira que a sobrevivência se apresenta injusta e sofrida pra tanta gente neste mundo, é preciso arranjar tempo para se aproximar de Deus, caso contrário, tudo fica sem sentido e uma bolsa velha vale tanto quanto a própria vida! Se não tivermos fé e esperança na salvação, acabaremos concordando com as monstruosidades de Procusto ou com as trocas de cabeças na história do necrotério, não é mesmo?
Santo Agostinho dizia: “A oração sobe e a misericórdia desce”, mas é preciso rezar com fé e diariamente! Muita gente diz que não é atendido nos pedidos que faz ao Céu, mas só reza nas horas de aperto, ou reza sem convicção, ou está manchado de pecados e não se confessa, ou pouco faz para merecer a graça.
Portanto, há soluções para todos os nossos problemas sim, porque o nosso Pai não nos colocou na Terra para nos castigar. Ele tem um plano maravilhoso para cada um de nós que, logicamente, se completará no Céu, desde que obedeçamos os seus Mandamentos. Nada mais justo, já que nós, pais, também fazemos o mesmo com nossos filhos: se nos obedecem, nos alegramos e caminhamos lado a lado; se desobedecem, os repreendemos e procuramos mostrar-lhes o caminho do bem – para que não sofram mais tarde.
Se você concorda que é muito mais fácil preencher um coração com a Palavra do Senhor do que encher uma bolsa com dinheiro, concordará também que tudo pode ser resolvido com paciência, amor e confiança na oração, pois, para Deus, nada é impossível!
E se me disser que acha difícil falar das maravilhas do Evangelho para um irmão sofrido, eu diria que a sua ‘bolsa’ nunca esteve vazia o suficiente para sentir o que ele está sentindo. Ou será que a nossa condição privilegiada de animal racional serve pra tudo na vida, menos para evangelizar?
Você sabia que se colocar um falcão num cercado de um metro quadrado, aberto apenas na parte de cima, apesar de sua habilidade para o voo, o pássaro será um prisioneiro? A razão é que um falcão sempre começa o voo com uma pequena corrida em terra. Sem espaço para correr, nem mesmo tentará voar e permanecerá prisioneiro pelo resto da vida na pequena cadeia sem teto!
O morcego, criatura notavelmente ágil no ar, não pode sair de um lugar nivelado. Se for colocado num piso completamente plano, tudo que ele conseguirá fazer será andar de forma confusa, procurando alguma ligeira elevação de onde possa se lançar.
Um zangão, se cair num pote aberto, ficará lá até morrer ou ser removido. Ele não vê a saída no alto, por isso, persiste em tentar sair pelos lados, próximo ao fundo. Procurará uma maneira de fugir onde não existe nenhuma, até que se destrua completamente de tanto jogar-se contra o fundo do vidro.
Não podemos ser como o falcão, o morcego e o zangão, que atiram-se obstinadamente contra os obstáculos sem perceber que a saída está logo acima. Se você souber de alguém que está como um deles – cercado de problemas por todos os lados –, peça que olhe para cima! Deus é a solução de todos os problemas e nunca deixa de responder àqueles que O procuram: “Clama a mim e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas que não sabes” (Jer. 33, 3).