A maioria de nós pensa que vai viver por apenas 80 ou 90 anos, excepcionalmente por 100 anos.
Não é verdade…
Todos nós vivemos indefinidamente.
Vivemos na cor dos olhos de um descendente, no jeito debochado de outro, na profissão de um terceiro.
A cada sorriso que alguém esboça quando se lembra de alguma bobagem que dissemos ou fizemos, nós vivemos outra vez.
A memória das pessoas tem o dom de nos tornar imortais.
Não envelhecemos mais, depois da morte. Nosso riso se perpetua nos lábios; basta apenas um lampejo de lembrança e lá estamos nós, vivos e felizes.
Um gesto nosso que alguma foto capturou um dia se torna precioso. Os outros dirão: “Lembra desse dia?”. E todos se lembrarão e, por um momento farão silêncio e sorrirão para si mesmos.
Nossos defeitos também serão lembrados, é claro. Mas estarão embalados na tolerância que a morte distribui generosamente entre quem fica. Seremos perdoados com um ar meio sério, meio risonho, porque afinal éramos boa pessoa!
E é assim que continuaremos a viver, no coração e na alma de quem se lembre de nós.
E só alguns séculos depois, quando as fotos nos porta-retratos se tornarem irreconhecíveis de tão amareladas, quando os últimos velhos que se recordavam de nós forem lembranças na vida de outros velhos, é que enfim morreremos.
E aí descansaremos, enfim desobrigados de viver através de outros, aliviados por não sermos mais modelo de bem nem de mal.
Então nos dissolveremos no Universo de onde chegamos para esse breve período de um século ou mais de existência.
E o mundo seguirá sem nós, afinal.