Lá fora o sol ardia em mais um dia na serra de Ibiapaba, cidade de São Benedito, interior do Ceará. Era o ano de 1956. Eu podia ouvir lá fora a algazarra das outras crianças brincando de pega-pega. Levanto-me na cama encostada na parede e, de pé, tento alcançar uma fresta na janela, para melhor enxergar, e não consigo.
Tenho apenas quatro anos, estou com catapora e passo os dias na penumbra do quarto fechado. Retorno para o leito e digo para mim mesma: “eu quero viver para brincar com as crianças!” — o que repito muitas vezes até adormecer. A penumbra era interrompida pelo acender da luz tênue, tomar um prato de canja e deixar que passassem permanganato nas feridas. Dias depois, minha mãe me leva até a porta da casa para ver as outras crianças.
Quase fico cega com a intensa claridade do sol. Com minhas mãozinhas em concha, tento proteger meus olhos. As crianças riem de mim. Estou toda marcada pelas cicatrizes que a doença deixa na pele de quem sobrevive. Escondo-me por trás da saia da minha mãe.
Anos depois, na adolescência, vivia passando tudo o que aprendia no rosto e nos braços para retirar os últimos vestígios das marcas e, tão logo pude comprar, passei a usar óculos escuros para proteger-me da luz do sol.
Na juventude, ao conhecer os ensinamentos da Logosofia, passei a querer abrir as janelas da minha mente para romper com a escuridão da ignorância e realizar o sonho de infância: querer viver e ser feliz.
Tenho aprendido com a ciência logosófica que o espírito, quando vela pelo bem-estar do ser que anima, proporciona elementos de convicção interna e impulsiona o ser durante a vida adulta a ir em busca do bem almejado na alma infantil.
Penso que isso tem acontecido comigo.
Sempre que vivi momentos de duras lutas ou dificuldades no decorrer da minha vida, de algum modo, recordava-me daquela frágil criança que sentiu a necessidade interna de se curar para desfrutar a vida como ela é na realidade: uma agradável brincadeira de criança!
O estudo logosófico proporciona abrir as janelas da mente para receber o conhecimento transcendente que, como a luz do sol, ilumina e faz compreender as causas que nos têm impedido de ser verdadeiramente felizes.
Quando a própria vida começa a experimentar os benefícios do conhecimento logosófico, tudo vai mudando de aspecto, pois já não se veem as coisas com os olhos de uma mente geralmente distraída, indiferente ou semiadormecida, constantemente fatigada por tantas atividades inférteis do dia, senão que se veem de modo diferente, isto é, com a mente atenta. – Da Sabedoria Logosófica
Um pensamento de Sônia de Almeida