O Amor, o Bem, a Moral e a Decência parecem se esconder, envergonhados e desesperançados, assustados até com o poder cáustico e destruidor do Mal.
As pessoas boas se recolhem, se calam, sentem-se impotentes frente ao que parece ser a dissolução rápida e total dos costumes positivos da sociedade onde vivem.
Às vezes até parece que a fina camada de civilização acumulada a duras penas por séculos de esforço para vencer os instintos primitivos se parte em mil pedaços que não parecem passíveis de reconstrução.
Dá medo viver neste tempo; é triste entregar os filhos e os netos a tal destino, dizem eles. A dignidade da Vida se esvai, e às vezes desistir dela parece ser o único caminho possível.
O Dalai Lama diz, num dos seus inúmeros escritos: “[…] Do mais insignificante ao mais importante acontecimento, o afeto e o respeito dos outros são vitais para nossa felicidade.”
Sendo assim, nos tempos de Kaliuga a Felicidade, busca primordial e contínua do Budismo, torna-se meta inatingível. A Alma se recolhe ao silêncio e parece se ausentar da vida do corpo; a matéria se torna escura sem o brilho vivo da Espiritualidade e os desejos primitivos tomam o lugar da Ética.
Mas eis que em algum momento a escuridão principia a se dissipar, e a luz retorna tão mais rapidamente quanto tenha permanecido viva a Fé no Ser Humano.
E a reconstrução recomeça a partir dos destroços, a Alma se reapossa do coração das pessoas e a Felicidade volta a acenar timidamente uma promessa renovada.
E os Tempos de Kaliuga recuam mais uma vez ao seu covil, até que o próximo ciclo de dor precise ensinar Sabedoria ao homem.
Eles podem, então, ser uma alegoria rica e preciosa para a Morte, para as pequenas mortes e para a grande e definitiva morte que enfrentaremos todos um dia.
Morre sempre uma vida menor para que uma próxima, maior, se apresente, num ciclo infindável de aprendizado!
Assim eu creio.