Há alguns dias atrás eu estava passando uma mensagem de votos de felicidades pelo aniversário de uma grande amiga quando parei e pensei: “muitas alegrias ou muitas felicidades”? Tanto faz, mas isto me fez ir mais a fundo. Perguntei pro meu marido a diferença entre felicidade e alegria, e ele pensou um instante e me disse: “A felicidade é silenciosa e a alegria é ruidosa.” Achei legal e muito legal também foi o que minha irmã disse sobre alegria e felicidade: “Misa, não sei se há diferença, mas o que sei é que há pessoas que mesmo sem serem felizes são alegres e levam alegria aos outros!” Mó verdade!
A felicidade é calma, a alegria é vibrante. Sempre tive a sensação de que felicidade conota uma sensação plena, robusta. Já alegria me sugere algo mais modesto e passageiro como uma boa notícia, por exemplo, saber que o filho passou em algum vestibular difícil ou que a filha está grávida do primeiro filho, obter êxito em uma ação jurídica que finalmente chega ao fim e você recebe um dinheiro por justiça, etc.
A felicidade é maior do que a alegria, na minha concepção, na minha sensibilidade, embora no dicionário as definições sejam praticamente as mesmas. Só encontrei uma diferença: aquele que é feliz é abençoado, bendito. Ah sim, isto é de fato verdadeiro e grandioso. Aproveitando o exemplo da filha grávida do primeiro filho: Ser mãe é algo exultante, de pleno júbilo, uma benção. Sei que a mãe carrega células do filho e o filho células da mãe. As lágrimas que as mães derramam quando têm seus filhos nos braços que antes carregavam em seu útero, são lágrimas de plena felicidade! Ver seu bebezinho pela primeira vez é um momento ímpar na vida de uma mulher. Muitas mulheres dizem: sou muito feliz com meu marido. Um bom casamento, ainda que com muitos ou poucos problemas é também uma felicidade.
Bem, voltemos à alegria que chamei de passageira. Um exemplo interessante. Conheci uma senhora finíssima que educou as filhas com todos os requintes de finesse. Naqueles tempos antigos preparar o enxoval de noiva era essencial. Mas a senhora, chamemos de Dona Lalá, também ensinava uma coisa para as filhas que poucas mães naquela época tinham coragem de tocar no assunto: sexo. Praticamente todas as moças se casavam virgens e o sexo acabava sendo uma surpresa boa ou ruim. Mas Dona Lalá soube explicar direitinho às filhas sobre a intimidade da alcova. Com muito jeito foi escolhendo as palavras e não encontrando uma palavra que explicasse melhor a gloriosa sensação do orgasmo, disse às filhas que elas sentiriam uma singular “alegria”, que seria rápida, passageira, mas inesquecível.
Percebi que ao procurar exemplos para alegrias e felicidades, em quase todos eu falei sobre filhos, mães, relacionamentos. Sabemos que nem as alegrias nem as felicidades são permanentes nesta vida, nem nós permaneceremos, é claro. A única felicidade que ninguém nos rouba e não passa é aquela que vem de Deus porque esta felicidade não depende do que nos acontece de mal ou de bem. É a confiança total em Deus ainda que o céu desabe sobre nós.
Mas continuo achando que o exemplo da Dona Lalá é perfeito. Vejamos, Dona Lalá foi muuuito feliz com seu Jorge e teve muuuitas alegrias em sua vida, ainda que rápidas e passageiras, contudo, inesquecíveis!
Misa Ferreira
Autora dos livros: Demência: o resgate da ternura, Santas Mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos, Asas por um dia, Na casa de minha avó e Ópera da Galinhinha: Mariquinha quer cantar. Graduada em Letras e pós graduada em Literatura. Premiada várias vezes em seus contos e crônicas. Embaixadora da Esperança (Ambassadors of Hope) com sede em Calcutá na India. A única escritora/embaixadora do Brasil a integrar o Projeto Wallowbooks. Desde 2009 Misa é articulista do Conexão Itajubá, enviando crônicas e poemas. Também contribui para o jornal “O Centenário” de Pedralva.