Mais de 20 ministros de Desenvolvimento Social da América Latina se reuniram na sede das Nações Unidas este mês para discutir maneiras de seguir reduzindo as desigualdades – para além da redução da pobreza – e de atender às demandas da classe média emergente da região, com a melhora dos serviços públicos e uma maior prestação de contas.
Na abertura do VI Fórum Ministerial para o Desenvolvimento, uma reunião de dois dias organizada anualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o especialista em competitividade da Universidade de Harvard, Michael Porter, sublinhou que as empresas locais, as empresas “multilatinas” e as multinacionais podem e devem desempenhar um papel crucial na redução da pobreza e da desigualdade na América Latina, particularmente se oferecem produtos e serviços que gerem lucro e ao mesmo tempo impulsionem o crescimento econômico e social.
A administradora do PNUD, Helen Clark, elogiou o êxito da América Latina em tirar milhões de pessoas da pobreza e reconheceu os esforços dos governos para fazer as tomadas de decisão de maneira mais transparente e sensível às novas demandas.
“Os protestos e eventos em todo o mundo nos lembram que os cidadãos querem uma maior participação nas decisões que afetam suas vidas”, disse Helen Clark. “Junto com o movimento de saída da pobreza, as pessoas têm a expectativa de serem escutadas, envolvidas nos processos decisórios e de contar com serviços públicos acessíveis.”
“O desafio é melhorar as instituições para que possam responder a um novo nível de cidadania de alta intensidade”, agregou Heraldo Muñoz, subsecretário geral da ONU e diretor do PNUD para a América Latina e o Caribe. “Muitos dos protestos de rua na América Latina são mobilizações das novas classes médias, crescentemente endividadas, que aspiram mais e exigem serviços públicos de qualidade e tratamento digno.”
Para lançar luz sobre os riscos que rodeiam a nova classe média na América Latina e para ajudar a mapear a desigualdade na região, a ex-ministra do Planejamento do Chile, Clarisa Hardy, apresentou um novo estudo encomendado pelo PNUD que mostra que 38% dos latino-americanos estão em uma situação vulnerável, ou seja, vivem com quatro a dez dólares por dia. Correm o risco de voltar a cair na pobreza, principalmente devido à qualidade da educação, à falta de acesso a serviços de saúde e às condições de trabalho.
O estudo do PNUD agrupa os países da América Latina em termos de porcentagem de pessoas na classe média (que vivem com 10 a 40 dólares diários), que vivem na pobreza (com menos de quatro dólares por dia) e na pobreza extrema (com menos de 2,5 dólares por dia). Uruguai, Argentina e Chile são os países com os níveis proporcionais mais baixos de pobreza e com a maior porcentagem de classe média. Costa Rica, Panamá, Brasil, Colômbia, Bolívia, México, Venezuela e Equador se caracterizam por ter uma população pobre de proporções médias e uma classe média emergente. Por último, Paraguai, República Dominicana, Peru e El Salvador apresentam altos níveis de pobreza e setores médios fracos.
Em geral, mais de 30% dos latino-americanos vivem com menos de quatro dólares por dia, com 16% da população vivendo em condições de pobreza extrema (menos de 2,5 dólares por dia), segundo o estudo do PNUD. Só 2% da população está classificada como parte da classe alta (que vivem com mais de 50 dólares por dia) e quase 30% fazem parte da classe média (que vivem com dez a 50 dólares por dia).
Apesar de a desigualdade ter diminuído, dez dos 15 países mais desiguais do mundo se encontram na América Latina, segundo dados do relatório. No entanto, o progresso é visível: em 16 de 17 países, a desigualdade de receita reduziu nos últimos 10 anos.
Isto se deve, em grande parte, ao fato de a América Latina ser um líder mundial em programas sociais que dão ajuda financeira às pessoas vivendo na pobreza, com a condição de que seus filhos permaneçam na escola, façam exames médicos de rotina de maneira regular e se mantenham em dia com as vacinas. Além do crescimento econômico da última década, estes esquemas condicionados de transferência estão entre os principais motores da redução da pobreza em 18 países da região.
Fonte: ONU / PNUD