O Ano Novo chegando e de repente não há como não refletir. Ao mesmo tempo em que somos tomados pela alegre expectativa de brindes e receitas maravilhosas para a ceia, a melancolia vem passo a passo nos lembrar da efemeridade e transitoriedade da vida.
Será que esse sentimento contraditório de alegria e melancolia, de incompletude e inexatidão da vida surgiu depois que o homem se deparou com a fragilidade de sua, até então, indiscutível e pretensa onipotência? Bem o disse Freud. O homem descobriu que não era senhor de sua própria casa, ou seja, havia uma grande parte da sua mente que ele não conhecia e não podia controlar. Assim, restou a ele viver imprecisamente. Numa tentativa obstinada de controle, o homem sempre retoma e retorna ao leme, nutrindo-se de uma teimosa ilusão de que ele é quem manda e conduz. Santa ingenuidade, doce ilusão, ledo engano! O rio corre mesmo é sozinho.
Mas, enfim, como ser feliz nessa imprecisão e ausência de garantias? Como aquietar as ruidosas e dramáticas emoções se elas nos lembram continuamente de que caminhamos num tênue fio a milhares de metros do chão? Felicidade não tem fórmula nem receita, cada um que descubra a sua, talvez “só mesmo em raros momentos de distração”, como disse Guimarães Rosa que sabia de quase todas as coisas. Vamos vivendo, esbarrando na felicidade aqui e ali, mas ela se esquiva, não se dá por inteira, até parece querer nos dizer que ela só é plena quando nos esquecemos de persegui-la. Mas é Ano Novo chegando, então, vou parar de reclamar, bora recomeçar algum projeto esquecido, frequentar um novo curso, aprender uma nova língua, ler um livro genial, escrever um novo poema, sobretudo quero amar sempre mais, celebrar a beleza da vida, curtir os animais, a natureza, a cidade em que vivemos, o nosso querido país, o nosso planeta ferido e carente de amor.
E para terminar, lembre-se, somos apaixonáveis, somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes, afinal de contas, nós somos o “Amor” (Carlos Drummond de Andrade).
E que o Deus Todo Poderoso, criador do Céu e da Terra, artista incomparável que pinta todas as noites o céu fantástico que se descortina diante de minha janela, nos abençoe!
Misa Ferreira é autora dos livros: Demência: o resgate da ternura, Santas Mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos, Asas por um dia, Na casa de minha avó e Ópera da Galinhinha: Mariquinha quer cantar. Graduada em Letras e pós graduada em Literatura. Premiada várias vezes em seus contos e crônicas. Embaixadora da Esperança (Ambassadors of Hope) com sede em Calcutá na India. A única escritora/embaixadora do Brasil a integrar o Projeto Wallowbooks. Desde 2009 Misa é articulista do Conexão Itajubá, enviando crônicas e poemas. Também contribui para o jornal “O Centenário” de Pedralva.