A palavra ladainha vem do grego e significa súplica. Na Ladainha de Nossa Senhora – artigo anterior –, o grupo das treze invocações simbólicas requer algumas explicações para melhor compreensão.
No livro ‘Na Escola de Maria’, André Damino escreveu que a nossa civilização fechou-se para o simbolismo e, aquilo que poderia ser até evidente em outras épocas, hoje ficou obscurecido pelo exclusivismo concedido ao espírito prático. Por exemplo, como ressaltar a beleza de uma estrela a pessoas que ficam fechadas em cidades perigosas? Igualmente, o ritmo de vida atual não favorece a contemplação das maravilhas da criação.
Por isso, o autor nos explica alguns títulos da Virgem Maria, recitados na ladainha que encaminhei na semana passada:
Espelho de Justiça – Justiça, aqui, entende-se em seu sentido mais amplo de santidade. Nossa Senhora é chamada assim, porque Ela é um espelho da perfeição cristã. Toda perfeição pode ser admirada nela, do mesmo modo como podemos admirar uma luz refletida na água.
Sede da Sabedoria – Nosso Senhor Jesus Cristo é a Sabedoria, pois, enquanto Deus, tudo sabe e tudo conhece. Ora, Nossa Senhora durante nove meses encerrou dentro de si seu divino Filho; Ela foi, portanto, a sede da Sabedoria. E continua a sê-lo, pois é nela que encontramos infalivelmente a Nosso Senhor.
Causa de Nossa Alegria – A verdadeira alegria não é o riso. Rir muito nem sempre significa felicidade. É muito mais feliz a mãe carregando amorosamente seu filho do que um pateta que ri à toa. E a maior alegria que um homem pode ter é a de salvar-se e estar com Deus por toda a eternidade. Ora, antes da vinda de Nosso Senhor, o Céu estava fechado para nós; foi o sacrifício do Calvário que nos reconciliou com o Criador e nos proporcionou a verdadeira e eterna felicidade. Como foi por meio de Nossa Senhora que o Redentor da humanidade veio à Terra, Maria Santíssima é, pois, a causa de nossa maior alegria.
Vaso Espiritual – Nada tem mais valor do que a verdadeira Fé. Na Paixão e Morte de Nosso Senhor, quando até os apóstolos duvidaram e fugiram, foi Nossa Senhora quem recolheu e guardou, como num vaso sagrado, o Tesouro da Fé inabalável.
Vaso Honorífico – Em nossa época, a honra quase não é considerada, pelo contrário, muitas vezes a falta de caráter e a sem-vergonhice são louvadas; mas a honra e a glória, na realidade, valem muito. Nossa Senhora guardou cuidadosamente em sua alma todas a graças recebidas e manteve a honra do gênero humano decaído. Se não tivesse existido Maria, ficaria faltando na criação quem representasse a perfeição da criatura, fiel até o extremo heroísmo.
Vaso Insigne de Devoção – Devoto quer dizer dedicado a Deus. A criatura que mais se dedicou e viveu em função de Deus foi Nossa Senhora, tendo-o realizado de forma tal, que melhor é impossível.
Rosa Mística – A rosa é a rainha das flores; é aquela que possui de forma mais definida e esplêndida tudo quanto caracteriza uma flor. Igualmente Nossa Senhora, no campo da vida espiritual ou mística, possui de forma mais primorosa tudo aquilo que representa a perfeição.
Torre de Davi – Lemos na Sagrada Escritura que o rei Davi tomou a fortaleza de Jerusalém dos jebuseus e edificou a cidade em torno dela. Naturalmente, o rei Davi fortificou a cidade para torná-la inexpugnável e a dotou de forte guarnição. A Igreja Católica é a nova Jerusalém e nela temos uma torre ou fortaleza que nenhum inimigo pode invadir ou destruir: Nossa Senhora. Ela constitui o ponto de maior resistência e melhor defesa.
Torre de Marfim – O marfim é um material que tem características raras na natureza e, ao mesmo tempo, é muito forte e muito claro. Igualmente Nossa Senhora, é muito forte espiritualmente – a maior inimiga dos inimigos de Deus – e de uma pureza alvíssima. Assim, Ela contraria a ideia falsa de que as coisas de Deus devam ser sempre muito doces, suaves e fracas, ou que a verdadeira força está com os impuros.
Casa de Ouro – O ouro é o mais nobre dos metais, por isso, sempre que desejamos dar alguma coisa que seja insuperável, a oferecemos em ouro – uma medalha de ouro numa competição, por exemplo. Se tivéssemos que receber o próprio Deus, procuraríamos fazê-lo numa casa que não fosse superável, neste sentido, uma casa de ouro. E a Virgem Santíssima é a casa de ouro que acolheu Nosso Senhor quando veio ao mundo.
Arca da Aliança – No Antigo Testamento, na Arca da Aliança ficavam guardadas as tábuas da lei dadas por Deus a Moisés e um punhado do maná recebido milagrosamente no deserto, por isso, ela lembrava as promessas e a proteção de Deus. Nossa Senhora é, no Novo Testamento, a Arca da Aliança que protege o povo eleito da Igreja Católica e lembra as infinitas misericórdias de Deus.
Porta do Céu – Ela é invocada desse modo, pois foi por meio dela que Jesus Cristo veio à Terra e é por Ela que nos vêm todas as graças, as quais têm como finalidade nos levar ao Céu, nossa morada eterna. Assim, Ela favorece nossa entrada no Paraíso, como a porta favorece a entrada num outro local.
Estrela da Manhã – Pouco antes de nascer o sol, quando a escuridão é maior e vai começar a clarear, aparece no horizonte uma estrela de maior luminosidade. Depois, quando as outras estrelas desaparecem na claridade nascente, ela ainda permanece. Assim foi Nossa Senhora, pois seu nascimento significava que logo nasceria o Sol de Justiça, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela é o modelo da perseverança na provação e o anúncio da Luz que virá.
Temos assim, resumidamente, algumas explicações das invocações da Ladainha Lauretana. Esperemos que sua compreensão nos ajude a rezar com maior fervor tão meritória oração neste Natal e sempre. Assim seja.