Nesse oito de março já passado foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Embora todo dia seja nosso dia, vá lá. Vamos entrar no clima e deixar rolar.
E não é que estou justamente lendo de novo “A Jangada de Pedra” do fantástico Saramago e dou com um parágrafo muito interessante. Joaquim Sassa, José Anaiço e Pedro Orce em suas andanças no “Dois Cavalos”, seguiam naquela jangada de pedra que andava à deriva, já despregada da Europa. Perto de Sevilha, encontram-se com Maria Dolores. Surge o assunto de que havia sido descoberto o europeu mais antigo de que se tinha registro. Na verdade, havia só seu crânio, com idade entre um milhão e trezentos mil e um milhão e quatrocentos mil anos. “E há a certeza de que se trata de um homem?”, perguntou Joaquim Sassa, ao que Maria Dolores respondeu:
– “Quando se encontram vestígios humanos antigos, são sempre de homens, o Homem de Cro-Magnon, o Homem de Neanderthal, o Homem de Steinheim, o Homem de Swanscombe, o Homem de Pequim, o Homem de Heidelberg, o Homem de Java, naquele tempo ainda não havia mulheres …”
– Você é irônica, Maria Dolores!
– “Não, sou antropóloga de formação e feminista por irritação”.
Não é segredo que a dominação machista vem desde que o mundo é mundo. Os homens das cavernas pensavam que as mulheres tinham poderes sobrenaturais porque elas podiam procriar e eles não. Um dia descobriram que sem seu sêmen os bebês não seriam feitos e então fizeram o diabo a quatro, arrastaram suas mulheres pelos cabelos e deram início a milênios de dominação machista.
Eu não sou feminista, sou feminina ao extremo, porém, tendo em vista este absurdo de só homem disso e homem daquilo, estou com Maria Dolores, agora eu me considero pelo menos uma feminista por irritação. Só não me peçam para participar de protestos daqueles em que as mulheres tiram os soutiens e os queimam em plena praça pública. Minha idade já não permite essa ousadia. Meu soutien eu não tiro nem com ordem de prisão. Se ainda estivéssemos na década de oitenta, até noventa, eu me habilitaria, mas agora, na na nim na não.
Brincadeiras à parte, parabéns para nós mulheres, desde as mulheres de Neanderthal até às de hoje. As conquistas têm sido espantosas, mas ainda falta muito.