Responda, por favor: quantos sacerdotes você relacionaria já terem recebido pagamento em dinheiro por lhe prestar um serviço religioso? Concordo que a pergunta é meio estranha e pode causar polêmicas, mas leia o que escreveu um dia o experiente vicentino, confrade Hélio Pinheiro da Cunha, de Governador Valadares:
“O padre vive do altar, reza ditado antigo. Neste caso, o altar é um simbolismo, se é que assim podemos dizer, pois na verdade, o sacerdote é solicitado para inúmeras outras tarefas. Ele distribui bênçãos, ouve confissões, ministra os sacramentos, escuta desabafos, faz aconselhamentos, leva unção dos enfermos, tenta reconciliações e, o que é mais importante, celebra a Eucaristia.
São muitos os exemplos. A pessoa chega à casa paroquial e pede a ele para abençoar o veículo recém-adquirido ou benzer sua casa. O cidadão, no caso, pode ser um dizimista, como também pode não ser. Pode ser paroquiano ou estar procurando aquele padre pelo fato de ter alguma amizade com ele.
Pede o bom senso que, nessas situações, a pessoa gratifique o padre. Não importa o grau de amizade ou se é dizimista. É uma questão de justiça! O padre – vale repetir – vive do altar. Normalmente, e é bom que seja assim, ele não tem outra fonte de renda. Alguns, talvez até por necessidade financeira e ante a falta de sensibilidade dos paroquianos, aceitam ministrar aulas em alguma escola particular e são criticados.
Entre meus amigos do clero, pelo menos um comentou comigo que seria de bom alvitre que seus paroquianos, independentemente de contribuírem com o dízimo, não se acanhassem em darem-lhe pelo menos um real por atividade prestada. Esse real seria bem-vindo.
Numa de minhas visitas, pude constatar penalizado a situação de penúria em que ele vivia. Nem mesmo um guarda-roupa possuía. Sua cama era nada mais do que um catre encostado na parede. Acompanhava-me um sacerdote de congregação religiosa, meu irmão adotivo. O visitado ofereceu-nos um lanche – pastéis e café. Fiquei a imaginar o sacrifício para ele. Tão pobre e tão humilde! Não me lembro do título do livro, mas o tema versa sobre padres irlandeses, pobres, famintos e prestando serviços em comunidades paupérrimas. Verdadeiros heróis da caridade!
Repetindo, são muitas as situações em que os sacerdotes são requisitados. Em algumas, entendemos, com ressalvas, basta um ‘muito obrigado’ ou um ‘Deus lhe pague’, como a bênção de um objeto de devoção. Mas, nos exemplos de bênção de veículo ou de casa, pelo valor monetário que representam, seria deselegante deixar de gratificá-lo.
Pede-se a ele para presidir a celebração da Eucaristia em local diferente da paróquia onde ele presta seus serviços religiosos; manda a boa relação de convivência que receba sua espórtula. Na Sociedade de São Vicente de Paulo é comum a solicitação para presidir celebrações em nossas sedes administrativas ou de Obras Unidas. Ninguém é tão pobre que não possa contribuir com alguma coisa, nem tão rico a dispensar um recebimento.
Do mesmo modo, o pagamento da décima e a contribuição financeira por parte das Obras não podem ser dispensadas por nenhum órgão de hierarquia, e seria de bom alvitre perguntar ao padre de quanto é a espórtula. Nada de ‘Deus lhe pague e muito obrigado’. São belas palavras que confortam a gente, mas podem causar preocupação àquele que vive do altar. Tenhamos, sobretudo, caridade!”
Bem, tenho certeza que nem todos pensam assim, mas na época do texto do confrade Hélio, o Pe. Máikol, amigo de Curitiba, pronunciou-se à minha filha sobre isso:
“Raciocine: INSS, plano de saúde, alimentação, indumentária, remédios, higiene pessoal, telefone, internet, água, luz, IPTU, IPVA, seguros, segurança, transporte, reformas no prédio, upgrade da aparelhagem eletroeletrônica, consultas médicas, eventuais gastos com viagens e até com lazer… isso sem eu dar presentes para os amigos (tadinhos, porque nunca recebem presentes!). Meus gastos mensais são grandes!”
Sabendo usar, um pouco mais de dinheiro não faz mal a ninguém; então, se você puder ajudar algum sacerdote em suas obras ou em sua qualidade de vida, por que não fazê-lo?