Por Moisés Diniz Vassallo
Você sabia que para cada R$ 1,00 que o governo investe na Unifei, a sociedade recebe em forma de acréscimo de renda para os alunos egressos R$ 3,28? E que graças aos rendimentos maiores associados à formação de qualidade que a Unifei promove, os ex-alunos formados pela Unifei devolvem em impostos, pagos ao longo da vida, o suficiente para financiar a universidade?
Buscando responder questões que permeiam discussões políticas e sociais sobre a sustentabilidade econômica e financeira do ensino público de qualidade no Brasil, esta pesquisa avaliou o custo para o governo manter a Unifei e o retorno que a sociedade recebe em termos de movimentação econômica, geração de renda, empregos e arrecadação de impostos.
Duas abordagens distintas de análise de impactos econômicos foram adotadas no estudo. A primeira ao estilo de análise de viabilidade econômica, com uso de matemática financeira, as vezes também conhecida com engenharia econômica. E a segunda abordagem com uso de instrumental de avaliação de impactos, com uso da matriz insumo-produto inter-regional.
Sob a ótica de avaliação de viabilidade econômica, o estudo partiu do custo anual da Unifei: R$ 218.218.790,88 (média entre 2016 e 2019), considerado como investimento. A Tabela 1 apresenta o custo da universidade no período, conforme dados do Portal de Transparência do governo federal e incluem as despesas com aposentados e pensionistas.
Tabela 1: Dados do Porta de Transparência do Governo Federal – Custo Social da Unifei
Tendo em mãos, o custo de provimento da educação nos anos mais recentes, buscou-se mensurar o impacto, que esta educação causava em termos de renda e aumento de arrecadação de impostos. O estudo partiu de um princípio amplamente difundido na teoria econômica, que diz que em mercados competitivos, o salário do trabalhador será igual ao valor do produto marginal do seu trabalho, ou seja, o valor daquilo que ele é capaz de produzir. O valor do produto do trabalho, por sua vez, está diretamente relacionado com a sua produtividade. Finalmente, o estudo também se apoia na relação entre a produtividade dos trabalhadores e a qualidade do nível de instrução que o trabalhador recebe.
A partir desta construção teórica, e em posse de dados organizados pela Diretoria de Prospecção Acadêmica e Profissional da Unifei, foi possível calcular a influência da qualidade de ensino da Unifei no salário dos seus egressos. A partir da lista de graduados pela Unifei entre 2007 e 2016, buscou-se aqueles que possuíam registros na maior base de dados de trabalhadores do país, a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério da Economia.
Os dados analisados se referem ao mercado de trabalho formal de 2016 em uma rica base, que contém informações da totalidade de trabalhadores formais no Brasil, perfazendo neste ano, mais de 67 milhões de contratos trabalhistas.
A comparação de rendimentos médios, dentre os trabalhadores com nível superior, indicou que os egressos da Unifei recebem 64,6% a mais no mercado formal, do que aqueles que se formaram em outras instituições de ensino superior. Sendo o rendimento médio nominal de R$ 8.467,40 para os formandos pela Unifei e de R$ 5.144,36 para os demais graduados.
No entanto, outros fatores além da qualidade do ensino provido pelas instituições de educação também estão correlacionados com o salário do profissional. Quando controladas variáveis, tais como: área de atuação profissional, sexo, idade, tempo de experiência no emprego, tipo de contrato de trabalho e unidade da federação onde a empresa está localizada, o diferencial líquido de salário foi de 22% a mais de rendimentos para os profissionais que formaram pela Unifei.
Com um modelo de regressão múltipla foi possível, portanto, isolar o efeito da educação dentro das variáveis de controle disponíveis na base de dados da RAIS. Ou seja, mesmo controlando todos os fatores que podem favorecer o ex-aluno da Unifei, como proximidade com os mercados de trabalho mais valorizados da região sudeste ou os cursos preponderantemente direcionados às carreiras de engenharia, ainda assim comparado a pares de similar características no mercado formal de trabalho, o salário do egresso da Unifei se mostrou 22% superior.
Para responder se o investimento que o governo faz na Unifei compensa em termos de retorno social, algumas contas adicionais foram feitas. O retorno social da educação foi medido pelo acréscimo de salário dos egressos em relação ao que seria o salário médio esperado, caso tivesse cursado o curso superior em outra instituição de ensino, ou seja, (R$ 8.467,40 -R$ 5.144,36=R$ 3.323,04). Considerou-se também, que em um ano de trabalho, este diferencial de salários é de 13*R$ 3.323,04=R$ 43.199,52.
Como a Unifei forma em média 1.100 alunos por ano, o ganho em termos de renda é de R$ 47.519.472,00. Considerando a expectativa que cada alunos após se formar deverá trabalhar 40 anos até que se aposente, o valor de ganho extra de renda que a formação na Unifei proporciona, permite a configuração de um fluxo de caixa com duração de 40 anos para cada turma de formados. Para saber quanto isto vale em termos monetários no dia de hoje e permitir uma comparação com os custos da Unifei, foi adotada uma taxa de desconto de custo de capital da ordem de 6% ao ano.
A taxa de desconto utilizada é próxima à Selic média dos últimos 10 anos em termos reais, ou seja, descontada a inflação. Entende-se que utilizar a taxa Selic seria uma boa representação para o custo de captação de capital do governo federal do Brasil, financiador da Unifei.
Descontando os ganhos de rendimento dos alunos de uma turma de formados (1.100 alunos) em um fluxo de rendimentos de 40 anos, obtém-se o valor presente de R$ 714.992.082,89, ou seja, muito superior aos R$ 218 milhões de reais que a universidade custa ao governo. Pode-se dizer que o investimento em educação na Unifei supera em muito o seu custo. Ou que para cada 1 real investido na universidade, a população recebe R$ 3,28 em renda, ao longo da vida dos egressos. A taxa de retorno do investimento feito pelo governo na educação dos alunos da Unifei é de cerca de 22% ao ano, muito acima do custo do capital e com retorno exemplar.
Os mais críticos podem alegar que os benefícios são internalizados apenas pelos que se beneficiam da educação na Unifei e não pela sociedade como um todo. Afirma-se que o benefício é privado e dos privilegiados pelo ensino superior público, enquanto a conta é paga por toda a sociedade. Por concordar com esta afirmação, faz-se necessário portanto, mensurar qual o retorno que estes ganhos salariais revertem em benefícios para toda a sociedade, através do ganho de arrecadação de impostos que o aumento da renda gera.
Uma boa aproximação do total arrecadado de impostos, parte de uma boa definição da carga tributária vivenciada por esta população de egressos. Em seguida, faz-se necessário realizar estimativas do acréscimo arrecadatório, tendo como base de cálculo a renda adicional que estes egressos obtêm.
A real carga tributária sobre os ganhos de renda e impostos indiretos sobre o consumo é de difícil determinação. Portanto, será necessário admitirmos hipóteses. Considerando a alíquota mais alta do imposto de renda sobre pessoas físicas de 27,5%, os impostos indiretos associados ao consumo como o ICMS, ISS, IPI, e até mesmo o IRPJ e Cofins derivados da movimentação econômica associada ao consumo, entre outros, admitiu-se, para este trabalho, uma carga tributária da ordem de 30% sobre o acréscimo de renda.
Portanto, considerou-se que o governo fica com 30% deste adicional de salários dos egressos da Unifei, o que significa 30% *R$ 714.992.082,89=R$ 214.497.624,87. Ao comparar este valor com os custos da Unifei, percebe-se que o retorno do valor investido aos cofres do governo está garantido. Gerando assim um ciclo virtuoso de melhoria econômica e social no país.
Obviamente os benefícios sociais e econômicos, promovidos por um bom nível educacional, não se resumem a ganhos de renda com o trabalho. Indicadores de saúde, expectativa de vida, criminalidade e nível de renda e educacional de futuras gerações também melhoram e geram economias nos gastos do governo com saúde pública, segurança e programas sociais. Efeitos estes mais difíceis de serem mensurados, mas já observados em diversos estudos acadêmicos.
Ainda nesta linha de análise de investimentos, para finalizar o texto que resume os resultados do trabalho, vale a pena apresentar os resultados de exercícios adicionais realizados para identificarmos os níveis de variação possível, dentro das hipóteses admitidas.
No resultado inicialmente apresentado, considerou-se que cem por cento dos alunos egressos da Unifei se não tivessem cursado a graduação nesta instituição federal de ensino superior, teriam cursado o 3º grau em outra instituição pública ou privada do Brasil. Os salários dos egressos da Unifei foram comparados com a média dos alunos egressos de outras instituições de ensino superior. Isto significa que nenhum ex-aluno da Unifei ficaria sem curso superior se esta não existisse. Sabemos que este número é conservador, no sentido que, nesta instituição de ensino, estão alunos da cidade e região oriundo de famílias sem recursos para financiar os estudos em cursos superiores privados ou a manutenção dos filhos em outras cidades, para que pudessem acessar outra universidade pública. Destaca-se, o crescente número de alunos, que estão na Unifei graças inclusive, a bolsas de manutenção financiadas pelo Programa de Assistência Estudantil e que afirmam, que se não recebessem este apoio, não cursariam o nível superior.
Desta forma, no limite superior dos benefícios econômicos e sociais que a Unifei gera, poderia se admitir que se não houvesse a Unifei, a totalidade dos alunos finalizariam pelo menos seus estudos no ensino médio. E, neste caso, o valor presente do diferencial salarial seria 2,8 vezes maior em relação ao calculado anteriormente, ou simplesmente, de 4,7 vezes mais salário do egresso da Unifei versus aqueles com apenas o segundo grau. Isto resultaria em um valor presente de R$1.431.511.816,30 em termos de ganho privado de renda de uma turma de ex-alunos, após 40 anos no mercado de trabalho. A arrecadação fiscal neste caso, seria da ordem de R$ 430 milhões.
No limite inferior, por sua vez, incluindo estatísticas de desemprego e abandono do mercado de trabalho por parte dos egressos, admitiu-se a taxa de desemprego da PNADC do IBGE, da ordem de 5% para a população com curso superior em 2019, ano mais recente disponível da informação. A esta taxa deve-se somar o abandono do mercado de trabalho brasileiro, seja por razões de estudo (pós-graduação), mudança de país ou questões pessoais e familiares.
Para identificação do nível de saída do mercado de trabalho, visitou-se as estatísticas internas da Unifei, que indicam que para os formados entre 2007 e 2015, em média 79% dos graduados em cada turma estão no mercado formal de trabalho, ou seja, com registros encontrados na RAIS de 2016. Considerando que parte expressiva dos egressos podem estar em empreendendo, como empresários ou no mercado informal, admitiu-se uma taxa de desemprego (5%, conforme PNAD-IBGE) somada a mais 5% de abandono do mercado de trabalho como estimativa própria do autor.
Neste caso, ao considerar o desemprego e o abandono do mercado de trabalho na ordem de 10%, traçou-se o que seria o limite inferior dos benefícios de renda e arrecadação. Sendo assim o valor presente de ganhos de renda de uma turma de formados na ordem de R$644 milhões e arrecadação de impostos na ordem de R$193 milhões.
Não obstante, apenas o ganho de renda dos egressos já seria suficiente para justificar e financiar os custos da Unifei, é necessário lembrar que esta universidade não se resume a formar trabalhadores. Todo um ecossistema virtuoso de inovação e desenvolvimento regional e nacional gira em torno da universidade.
Para mensurar estes impactos gerados pela Unifei e seu ecossistema, partiu-se para a análise de insumo-produto inter-regional, que buscou identificar a movimentação econômica da Unifei e mensurar os diversos impactos, sejam eles:
– Diretos: incluem aquelas categorias econômicas diretamente afetadas pelas atividades mobilizadas pela variação no nível de consumo e investimento, podendo ser considerados os efeitos de substituição de consumo e de geração de nova demanda;
– Indiretos: impactos resultantes dos efeitos de encadeamento para frente e para trás das compras e vendas intersetoriais e inter-regionais necessárias para atender à demanda final; e
– Induzidos: exprimem-se por meio das compras realizadas pelos consumidores, empregados direta e indiretamente, através das atividades econômicas beneficiadas pela variação dos componentes da demanda final.
A distribuição espacial desses efeitos multiplicadores, ou seja, a sua distribuição entre as economias das regiões e do país, irá depender de vários fatores estruturais, locacionais e culturais. De modo geral, pode-se afirmar que deve ser grande a probabilidade de que os efeitos multiplicadores sejam mais intensos nas suas respectivas economias (municípios ou estados), e também nas regiões mais desenvolvidas, que dispõem de grandes estruturas produtivas.
A amplitude deste estudo pode ser observada de um lado, pela preocupação em avaliar os impactos econômicos associados a presença da Unifei em Itajubá e em Itabira, Minas Gerais, em diferentes níveis espaciais (regional e nacional), e do outro pela preocupação em avaliar o grau de mobilização ocorrido em cada um desses níveis, visando captar o seu grau de ativação social e setorial. Neste sentido, mensurou-se os impactos econômicos em termos de:
– Valor Bruto da Produção (VBP): que compreende a totalidade das transferências realizadas mais as variações dos estoques. Ou seja, o valor de tudo que foi produzido.
– Valor Adicionado (VA): É o valor da riqueza criada com um determinado processo produtivo. Quando se mede o valor de riqueza, adicionado a uma economia nacional ou regional em um determinado período de tempo, chamamos de Produto Interno Bruto (PIB).
– Empregos: Uma métrica de equivalência para o número de empregos gerados considerando a expansão na renda das famílias e o salário médio de um trabalhador naquele setor e região. Os empregos são medidos em equivalente ano, ou seja, com duração de um ano e compreendem o mercado de trabalho formal e informal.
Impostos indiretos: Arrecadação de ICMS, IPI, ISS, ITBI e outros.
Em linhas gerais, a modelagem dos impactos econômicos processou-se em três estágios:
Estágio 1: Estimação dos impactos diretos. A partir de pesquisas diretas com as empresas startups do ecossistema de inovação da INCIT (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá) sediada na Unifei, pesquisa com alunos e professores para identificação de padrões de consumo e origem das fontes de financiamento e pesquisa em dados secundários dos orçamentos universitário e das fundações associadas à Unifei (Fupai e Fapepe);
Estágio 2: Tradução das estimativas de impactos diretos em choques econômicos de variação da demanda;
Estágio 3: Condução de simulações com modelo de insumo-produto inter-regional, a partir de matriz construída com apoio do Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (Nereus).
A matriz de insumo produto, consegue estruturar a “fotografia” das relações econômicas setoriais. Ou seja, quais setores suprem os outros de serviços e produtos e quais setores compram de quais setores. O resultado é, portanto, uma visão compreensível de como a economia funciona, como cada setor é mais ou menos, dependente um do outro.
Destaca-se que a construção de matrizes de insumo produto demandam grandes investimentos, já que elas requerem uma coleção de informações sobre cada companhia, a respeito dos seus fluxos de vendas e das suas fontes de suprimentos. Neste estudo, além das relações setoriais, foram consideradas as relações regionais, com o uso de uma matriz insumo produto inter-regional.
Os resultados da presença da Unifei e todo seu ecossistema (INCIT mais Fundações) em termos de impacto econômico foram avaliados no estudo em termos regionais, com impactos discriminados para o município de Itajubá, os demais municípios do estado de Minas Gerais e o restante do Brasil. A Tabela 2 apresenta estes resultados.
Tabela 2: Impactos associados à movimentação econômica do Ecossistema Unifei
Aos impactos sobre a renda dos egressos, somam-se os impactos da movimentação econômica que a Unifei gera nos municípios de Itajubá e Itabira, bem como em todo o Brasil. A universidade gera renda para seus servidores e funcionários terceirizados, atrai alunos de outras regiões do país e investe em infraestrutura. Além da universidade em si, as suas fundações captam recursos para projetos, pesquisas e desenvolvimento de tecnologias. Também é justo incluir na conta da universidade, as inúmeras startups que nasceram dentro do seu ambiente de inovação e foram incubadas na INCIT sediada nesta universidade.
Ao final, todo o ecossistema da Unifei é responsável por 6,6% do PIB do município de Itajubá, ou seja, de toda a renda gerada no município, seja em forma de salários, lucros ou aluguéis. Em termos de empregos, a universidade é responsável por 20,7% da totalidade de ocupações, formais e informais do município.
Ou seja, pode-se afirmar que além dos R$715 milhões em renda, que a universidade gera por acréscimo salarial em cada turma de egressos, a universidade e a movimentação econômica por ela gerada, acrescenta mais de R$300 milhões em renda (PIB) no Brasil.
Em termos regionais, destaca-se uma participação de 6,6% no PIB do município de Itajubá e de cerca de 20% das ocupações. O estudo concluiu, portanto, que a Unifei retribui à sociedade, muito mais do que ela custa e promove um círculo virtuoso de desenvolvimento no país.
Para aqueles que se interessarem em conhecer estudo similar desenvolvido em parceria com o professor Moisés Vassallo da Unifei, mas que avalia o impacto econômico das universidades estaduais paulistas, convidamos à leitura do documento de trabalho e artigos publicados nos jornais destas instituições, Jornal da USP e Jornal da Unicamp.