Em seu site (www.olioofficina.it), o italiano Luigi Caricato, escritor, azeitólogo, jornalista e autor de diversos livros dedicados ao azeite extra virgem, postou em agosto do ano passado um artigo em que compara a excelência desse ingrediente a uma obra literária e o título desse artigo é uma livre tradução de sua postagem.
Em suas palavras: (…) “Certo, é verdade: cada garrafa contem um azeite igual a tantas outras garrafas que portam a mesma etiqueta e, de fato, não muda nada, já que também para um romance existem tanta cópias iguais, mas a obra literária só é verdadeiramente reconhecida pelo valor que justamente exprime.”
Ele argumenta enfaticamente sobre o azeite como produto cultural e pergunta: “Porque não vale a mesma atitude que temos para um escritor como para um produtor de azeite com sua garrafa? (referindo-se à mídia italiana). Em cada garrafa há o fruto de um cuidadoso trabalho que merece a justa consideração”.
Como tenho enfatizado aqui continuamente, a excelência na qualidade de um azeite extra virgem depende de muito conhecimento, estudo, absoluta dedicação e, sobretudo, paixão. Os fatores intrínsecos de cultivo e extração que determinam a excelência dependem da determinação humana em produzir um ingrediente ancestral, cujos significados dizem respeito, para além dos valores nutricionais, a uma variedade sensorial que nos remete ao lúdico e, consequentemente, ao cultural.
Quando o escritor italiano, apaixonado por azeites, faz tal comparação em um país com fortes tradições, está reivindicando um novo olhar sobre um produto que possui o valor de uma simples comoditie, nivelado ao preço que as quantidades industriais exigem para atender a um mercado consumidor crescente e… desinformado.
Azeites Extra Virgens de excelência necessitam urgentemente de nova classificação, para que a esses seja dado o justo valor. Como diz Luigi: (…) “o tal status de produto cultural não é desejado ao azeite, como a nenhum outro produto alimentar, pois, no fundo, isso significaria agregar valor, e por isso um preço que não é mais o mais baixo possível como sempre se impôs…”
No que concerne ao momento histórico que estamos vivendo, quando todos os valores impostos pelo sistema capitalista estão sendo questionados, vale uma reflexão sobre o novo papel do azeite, fruto da oliveira, símbolo de paz e unidade entre os povos. A história de sua origem, seu significado místico, religioso e seu rico valor nutricional o tornam um produto único. Sua inserção em nossa culinária e produção em nossas terras não podem ser realizadas sem a transmissão do conhecimento que porta a todos nós uma riqueza que não é medida nos padrões vigentes, assim como as razões que estão nos levando às ruas… Não é só comida que queremos, é humanidade e arte!
A histórica noite do dia 20 de junho no Rio de Janeiro
A poética paisagem da cultura da oliveira em Trás Os Montes, Portugal