Brasília – O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reajustou hoje (10) a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,75 ponto percentual, e repetiu a “calibragem” usada na reunião do último mês de julho. Reafirmou, assim, a expectativa média de uma centena de analistas financeiros ouvidos pela pesquisa Focus que o BC realiza todas as semanas. A taxa de juros que remunera os títulos depositados no Serviço Especial de Liquidação e Custódia (Selic) estava em 13% ao ano, e passa a valer 13,75% até a próxima reunião do Copom, dias 28 e 29 de outubro.
“Avaliando o cenário macroeconômico, o Copom decidiu elevar a taxa Selic para 13,75% ao ano, sem viés, por cinco votos a favor e três pela elevação da taxa em 0,50%, com vista a promover tempestivamente a convergência da inflação para a trajetória de metas”, diz a nota divulgado há pouco pelo Comitê de Política Monetária.
Embora a maioria dos analistas de mercado e de instituições financeiras apostasse na elevação de 0,75 ponto percentual, dirigentes de instituições representativas dos empresários e das centrais de trabalhadores defendem a necessidade de a autoridade monetária conter o aumento continuado da taxa básica de juros, que começou 2008 em 11,25%, e a partir de abril voltou a subir como forma de conter pressões inflacionárias.
Mas não só empresários e trabalhadores são contrários às elevações da Selic. O presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ), João Paulo de Almeida Magalhães, diz que “aumentar a taxa neste momento é uma loucura”. Ele acredita que o corte de gastos seria uma medida mais efetiva no combate à inflação.
João Paulo lembra que um dos maiores gastos do Estado é com o pagamento dos juros da dívida, estimado em R$ 160 bilhões neste ano, o que, por si só, recomendaria corte na taxa de juros. Mas, já que não se faz isso, acrescentou, “acho que a melhor alternativa seria uma política de rendimentos que coloque a remuneração dos agentes econômicos em níveis médios, como se fez no Plano Real”.
Outros defendem aumentos de menor magnitude, uma vez que a inflação perdeu força e dá mostras de chegar ao fim do ano abaixo do teto da meta de 6,5%. É o caso do vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira.
Ele entende que a justificativa de aumentar os juros para conter o consumo doméstico tem efeito mínimo: “Não traz qualquer mudança na intenção de compras”. Oliveira disse que a distância entre a taxa Selic e as taxas efetivamente cobradas nos financiamentos era até então de 134,22% ao ano, o que dá uma variação de quase 1.000% entre as duas pontas, e garante que tem financeira cobrando diferença de até 1.500% no crédito pessoal.
Por isso, Ribeiro sustenta que o aumento da taxa básica de juros “não é suficiente para reduzir as intenções de compra”, uma vez que acrescenta apenas alguns reais nos financiamentos, e “para o consumidor o que interessa mais é a garantia do emprego e saber se as prestações do novo financiamento cabem no seu bolso”.
Ao contrário, porém, os representantes dos agentes financeiros querem as taxas mais altas do que já estão, como o economista Fábio Susteras, do Banco Real. Ele afirma que apesar da queda recente nos preços das commodities (produtos com cotação internacional, que compõem mais de metade da pauta de exportações brasileiras), cujo reflexo tem se mostrado no recuo dos preços dos alimentos, “existem outros itens que ainda preocupam o BC, como o descompasso entre oferta e demanda”.
Fonte: Agência Brasil