Por que a Vale resolveu entrar no negócio de biocombustíveis e outras fontes alternativas de energia no Brasil – e até em outros países
O negócio da Vale, a segunda maior mineradora do mundo, é extrair ferro, níquel, bauxita, manganês. Mas a parte mais importante de sua estratégia hoje está em uma plantação na cidade amazônica de Concórdia, a 150 quilômetros de Belém, no Pará. É lá que a Vale, em consórcio com uma empresa local, a Biopalma da Amazônia, está cultivando 1,5 milhão de hectares de palma, uma espécie de palmeira. O óleo de dendê extraído da palma é usado para fabricar biocombustível – que afeta o clima menos que o óleo diesel e outros combustíveis derivados de petróleo, porque a palma absorve gás carbônico durante seu crescimento.
A partir de 2014, quando as palmas estarão crescidas e prontas para produzir, a Vale espera extrair 160.000 toneladas de biocombustível, que movimentarão as máquinas de grande porte usadas para extrair minério na Região Norte e para abastecer as locomotivas que transportam a produção. Com o projeto de US$ 500 milhões, a companhia calcula que evitará o lançamento de 12 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera.
Iniciativas como essa garantiram à Vale o Prêmio Época de Melhor Estratégia para a Indústria de 2010. Elas são um exemplo de que é possível aliar a preservação do planeta aos negócios. “O mundo caminha para uma economia de baixo carbono e estão surgindo boas oportunidades de negócios”, afirma Vânia Somavilla, diretora de meio ambiente e desenvolvimento sustentável da Vale. “Todos ganharão com isso.”
O projeto em Concórdia, além de reduzir as emissões da Vale, ajuda a movimentar a economia local. “O plantio de palma está gerando empregos para a população daqui”, diz Daniel Rosendo da Silva. Ele coordena uma equipe de 450 pessoas envolvidas no projeto da Vale. A empresa cuidará da maior parte da área cultivada, mas deixará parte da plantação sob responsabilidade de famílias agricultoras. A Vale fornecerá as mudas, dará consultoria técnica às famílias e comprará a produção pelo preço de mercado. Com esse tipo de medida, espera-se que a renda dessas famílias, hoje em torno de R$ 200 por mês, salte para R$ 2 mil mensais.
Parte da estratégia da Vale para reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa é aproveitar o potencial de geração de energia oferecido por suas próprias atividades. Na Unidade de Carborough Downs, produtora de carvão, na Austrália, os gases de jazidas retirados das áreas a ser mineradas são queimados. Isso reduz seu potencial de aquecimento global porque esses gases (principalmente o metano) têm maior potencial de aquecimento global do que o gás carbônico, emitido pela queima. A mina vende eletricidade gerada na queima.
Na Indonésia, a Vale aproveitou sua localização estratégica. A unidade de Sorowako, na Ilha de Sulawesi, produtora de um tipo de níquel, fica perto do Rio Larona, que tem grande potencial para geração de energia. A Vale está construindo uma usina hidrelétrica para substituir toda a geração de energia térmica, obtida principalmente a partir de óleo diesel. O uso de energia limpa na unidade aumentará em 33%. O projeto, atualmente em fase de construção, deverá começar a funcionar no segundo semestre de 2011. O investimento total é estimado em US$ 410 milhões.
A Vale investirá US$ 720 milhões até 2012 em três centros de pesquisa de tecnologias limpas
As medidas para reduzir emissões não precisam ser tão grandiosas – e caras – quanto construir uma hidrelétrica. A Vale pediu para que empresas terceirizadas que fazem o transporte de seus funcionários usem nos carros o etanol, em vez da gasolina. Na unidade produtora de alumínio em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, a empresa calibrou o programa que controla os queimadores de seus fornos e conseguiu reduzir o consumo de gás combustível.
As medidas práticas adotadas pela Vale para cortar suas emissões de gases do efeito estufa são reflexo da política institucional da empresa, que decidiu se antecipar às mudanças que serão impostas pelo aquecimeno global. Uma das ações mais representativas da Vale foi liderar, no ano passado, junto com o Instituto Ethos, a elaboração da Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas. O documento apresentou os compromissos de 30 grandes empresas para tentar reduzir o impacto das mudanças climáticas no país e no mundo. Entre eles estão a publicação frequente de relatórios detalhados de emissões, a conscientização de fornecedores e clientes por meio de cursos e treinamentos e a promoção de debates sobre o tema entre a sociedade, o governo e as empresas, com o objetivo de definir uma regulamentação nessa área.
O documento teve tamanha repercussão que serviu de base para a posição do governo brasileiro na 15a Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em dezembro de 2009. “O conceito de sustentabilidade foi incorporado à missão da empresa em 2007 e hoje o tema tem espaço garantido na agenda do nosso presidente”, diz Vânia.
Junto com isso está o investimento em novas tecnologias. Em 2007, a empresa criou a Vale Soluções em Energia, em parceria com o BNDES e a Sygma Tecnologia. Ela desenvolve equipamentos industriais mais econômicos e fontes energéticas renováveis. Para financiar essas pesquisas, a Vale investirá US$ 720 milhões até 2012. Outra iniciativa é o Instituto Tecnológico Vale, que terá três unidades no país: em Ouro Preto, Minas Gerais; Belém, no Pará; e São José dos Campos, em São Paulo. Em novembro de 2009, o instituto assinou um acordo com a Scania que prevê o uso das tecnologias de injeção bicombustível e controle de combustão em motores de caminhão, criando uma linha nova de veículos pesados flex de alto rendimento alimentados por etanol ou gás natural.
Fonte: Mauro Silveira