– Há rumores de que pode ser verdade que os seres humanos descendem da nossa nobre raça. Bem, essa ideia é uma desgraça! Nenhum macaco jamais desprotegeu sua fêmea ou deixou seus bebês famintos ou arruinou a vida deles. E nunca se ouviu dizer que alguma mãe macaca tivesse doado seus filhos. Há também uma coisa que nunca foi vista: macacos cercando um coqueiro e deixando os cocos apodrecerem, proibindo outros macacos de alimentarem-se. Sim, os humanos descendem de uma espécie rude que, com certeza, não somos nós. Portanto, nos deixem fora disso!
Então, revoltado, o cientista decidiu se encontrar com Deus e dizer que os homens também não o aceitavam como Criador e nem precisavam mais Dele. E assim falou:
– Deus, sabe como é, um punhado de nós tem pensado nesse assunto e eu vim dizer que você não nos criou e nem é mais necessário. Temos elaborado grandes teorias e ideias, clonamos uma ovelha e logo iremos clonar humanos! Como pode ver, realmente não necessitamos mais de você porque temos as nossas teorias e criações próprias.
Deus balança a cabeça compreensivamente e diz:
– Bom, sem ressentimentos, mas, antes, vamos fazer um concurso de criar um ser humano a partir do barro?
O cientista rapidamente se adianta pegando um punhado de terra, mas, antes de voltar para o laboratório, Deus o adverte:
– Assim não vale! Você tem que criar o seu próprio barro! Esta terra em suas mãos fui eu que criei.
Revoltado mais uma vez, o cientista resolveu tirar férias e ir caçar no interior de Minas. Já no dia seguinte, estava fazendo tiro ao voo, quando um dos patos que alvejou caiu dentro de uma propriedade protegida por cerca de arame farpado. Sem ver ninguém por perto, pulou a cerca e, antes de pegar a caça, apareceu um velho dirigindo um tratorzinho:
– Ei, moço, isso aqui é particular. Cê pode ir vortando.
– Mas é que eu atirei naquele pato e só vim pegá-lo.
– Pode vortá. Caiu aqui, é meu, uai!
– Olha, meu senhor, sou um influente cientista, posso meter-lhe uns processos e lhe tomar a propriedade. O senhor não sabe do que sou capaz.
– Peraí, sô. Pur que qui a gente não acerta a questão usando a ‘Regrinha Minera pra Resorvê Pendenga’?
– Como é isso?
– É ansim: eu dô treis chutes nocê. Depois ocê dá treis chutes nimim. Quem aguentá mais caladim, quem gritá menos, ganha a pendenga! Mas, como sô mais véio, chuto primero.
O homem da cidade avaliou aquele velhote franzino e, por curiosidade e pelo vício de querer ganhar disputas, resolveu topar. O velho, então, saltou do trator e só aí ficaram à vista as botas reforçadas que usava. Mesmo assim, o cientista raciocinou: ‘É um coroa fracote; eu aguento e depois acabo com ele no primeiro pontapé’.
O primeiro chute do velho foi bem na virilha e o adversário imediatamente se ajoelhou gemendo. O segundo pegou no nariz e o homem se estatelou no pasto, segurando os urros. O terceiro acertou nos rins e, mesmo que quisesse, o cientista não conseguiria gritar, tamanha a dor. Mas, dentro de alguns minutos se refez, pôs-se de pé e ameaçou:
– Agora pode ir rezando, vovô. Eu sou carateca e vou desmontá-lo.
– Num carece, não. Eu disistu da pendenga e reconheço que perdi. Pode pegá seu pato.
Novamente o ateu ficou louco de raiva e, inconformado, foi procurar um amigo sábio para lhe aconselhar. Lá chegando, começou a ‘se confessar’:
– Eu acho que tudo isso está acontecendo porque espalhei rumores maldosos a respeito de um vizinho e, após ofendê-lo profundamente, descobri que o que eu havia dito era mentira. Agora, quero reparar o mal que fiz com algum tipo de simpatia.
– Vou lhe receitar uma: ‘Vá ao mercado, compre uma galinha e mate-a. No caminho de casa, retire todas as penas e jogue-as, uma por uma, ao longo da estrada. Depois, volte, recolha todas que jogou e traga-as para mim’.
Seguindo as recomendações, ele tentou, mas ficou decepcionado. Observou que o vento havia levado quase todas as penas e conseguiu recuperar poucas. E o amigo sábio concluiu a sua tese:
– Você viu que é fácil jogá-las pelo caminho, mas impossível tê-las de volta. É assim também com rumores e fofocas: não leva muito tempo para espalhá-los, mas uma vez feito, você nunca irá desfazer completamente o estrago que causou. Pense nisso antes de falar algo sobre alguém! Agora, se está arrependido, procure um sacerdote e se confesse. Só Deus poderá lhe perdoar e abençoar os seus novos caminhos.
– Mas, eu rompi com Ele!
– Mesmo assim, Ele não rompe o laço de amor com nenhum de seus filhos e está sempre de braços abertos para recebê-los de volta. Deus nos colocou no mundo e nada existiria se não fosse por Ele permitido. Acredite, confie nisso e não se arrependerá!
Mas, será que o ateu confiou ou partiu sem Deus para novos desafios? O que você faria?