O IBGE é uma dos centros de excelência do setor público no Brasil. Suas estatísticas vêm sendo aprimoradas de forma consistente nos últimos anos.
Tivemos, por exemplo, uma revisão para melhor no cálculo do PIB recentemente. Ela tirou vários problemas e dúvidas antes apontadas por consultorias de economia e “engordou” o tamanho da economia brasileira em cerca de 8%.
Há uma enorme gama de estatísticas no IBGE, tudo disponível na internet. Assim como no site do Banco Central, é possível baixar milhares de informações, cruzar dados e ter, com isso, uma visão mais panorâmica do país em que vivemos.
Mas um ponto permanece obscuro.
Todos sabemos que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. E que também tem há anos uma das maiores taxas de juro do planeta.
O funcionário do IBGE faz uma série de perguntas inúteis para quem vive em uma grande cidade como São Paulo e dentro de um edifício. Se há água encanada, energia elétrica e esgoto. Ok, isso vai para as estatísticas e deve constar no Censo. Mas essa parte poderia ser abreviada com uma única pergunta ao responsável pelo condomínio.
O problema, porém, é outro.
Em um determinado momento, em meio a várias questões sobre número de banheiros e rede de esgoto, quase ao final, o homem de boné pergunta qual havia sido o meu rendimento total ao final de julho de 2010. A resposta é imediata e irrefletida: digo o valor do salário bruto naquele mês. Ele anota e não faz nenhuma ponderação.
No carro, a caminho do trabalho, fico matutando se não deveria ter incluído no “total de rendimentos” o que recebo por emprestar minhas aplicações financeiras a juros elevados para financiar nosso governo gastador. E o valor de um imóvel que está alugado, não deveria entrar na conta?
Em alguns meses, o Censo mostrará que a nossa desigualdade de renda e rendimentos continua extremamente elevada.
Mas, assim como eu, a maioria dos que responderam ao breve questionário devem ter omitido (de propósito ou não) outras rendas que recebem além da oriunda do trabalho.
Por isso, podemos apostar: o Brasil segue muito mais desigual do que as estatísticas mostram.
Fonte: Folha.com