– Eu tenho aprendido tudo o que tem me ensinado de defesa pessoal, mas desejo saber outra coisa agora. Gostaria que me explicasse os caminhos de Deus.
O professor, pegando a chaleira, começou a despejar chá na xícara do aluno. Logo transbordou e começou a entornar sobre o pires. O mestre continuou a despejar, o pires também se encheu e o chá começou a cair no chão. O aluno, vendo a sujeira aumentando, gritou:
– Pare, pare, não há mais lugar na xícara para o chá!
O mestre, aproveitando para censurar algumas atitudes na vida do discípulo, disse:
– Pois é, da mesma forma, quando você está cheio de interesses próprios, não há lugar em sua vida para mais nada e não poderá aprender sobre os caminhos de Deus até que se esvazie de si mesmo.
– Mas, até que ponto estou ocupando meu tempo com coisas fúteis deste mundo?
– Deus tem encontrado espaço em seu coração ou ele já está completamente preenchido com vaidades e interesses pessoais? Como o Senhor poderá entrar em sua vida para conduzir-lhe às veredas da felicidade se não lhe abre a porta? Como esperar as bênçãos de Deus se Ele está trancado do lado de fora?
O jovem seguiu preocupado para casa. No dia seguinte, voltou a procurar o mestre para conversar:
– Estive pensando e conclui que, realmente, quando estamos cheios de nós mesmos não existe lugar para Deus entrar. Quando nos esvaziamos de todo egoísmo e vaidade, não só permitimos a presença do nosso Salvador como deixamos que Ele organize toda a nossa vida, tornando-a plena de alegrias e vitórias. Mas, como foi que o senhor aprendeu isso, mestre? Alguém lhe ensinou?
– Sim, a vida me ensinou. Quando meu filho tinha seis anos, eu o levava ao parque para brincar. Enquanto se divertia, eu ficava olhando o relógio para não me atrasar nos compromissos que tinha naquele dia. E quando o chamava e ele me pedia mais cinco minutos de espera, eu nunca lhe concedi.
– Não entendo; o que isso tem a ver com a presença de Deus em nosso coração? – perguntou o aluno.
– Tem, sim, meu jovem. Hoje meu filho já se foi e eu morro de saudades dele. Queria tê-lo ao meu lado, pedindo mais cinco minutos do meu tempo. Eu esvaziaria o meu coração de coisas vãs para preenchê-lo com carinho e amor. Nada nessa vida se consegue sem amor no coração.
As palavras do mestre surpreenderam o discípulo. Ele não sabia que aquele homem tão bom havia aprendido uma importante lição convivendo com o filho. Por um instante, o aluno imaginou o arrependimento que o professor tinha dentro de si, e resolveu animá-lo:
– Mestre, Deus já lhe perdoou e um dia o senhor vai se encontrar com seu garoto de novo. Quantos cinco minutos eu já lhe pedi e o senhor nunca me negou! Hoje, seu coração está transbordando de amor.
E assim termina mais esta história que adaptei para este artigo. A narração tem tudo a ver com a passagem bíblica: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”. Este ensinamento de Jesus precisa ser revisto todos os dias até o aprendermos de verdade.
Nos últimos anos, eu não me lembro ter negado cinco minutos do meu tempo a alguém. E ‘cinco minutos’ pode ser apenas um instante ou algumas horas, dependendo do caso. Se estou trabalhando, atendo de imediato quem me procura; se estou em casa e o telefone toca, procuro saber o que precisam que eu faça; e se me encontro em viagem, o celular fica sempre ligado e dou retorno quando não posso atender.
Às vezes, tudo isso ainda é insignificante para quem precisa de ajuda, mas já é um começo. Se Deus me concede saúde, fé no coração e paz na família, tenho o dever cristão de disponibilizar amor ao próximo a cada dia. E aprendi que trabalhar numa só pastoral da Igreja é pouco para isso, então, atuo em mais movimentos para amar e ser mais amado.
Também pelo envolvimento com as coisas de Deus é que eu admiro a conduta de um sacerdote – renunciando muitos bens materiais para preencher a vida com alimentos espirituais. Se não fosse por eles, estaríamos perdidos neste mundo de injustiças sociais tão graves.
Portanto, por sermos cristãos e sabermos que a misericórdia de Deus é infinita, não devemos pautar nossa vida em arrependimentos ou falta de tempo. Podemos, com certeza, encher o coração de esperança e olhar para frente, seguindo o caminho que nos levará ao Céu. Retirando do peito o que nos faz sofrer, as oportunidades de ouvirmos os chamados do alto para a caridade serão maiores.