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Civilização

Publicado por Misa Ferreira em 04/09/2012
O tema é velho, batido, lugar comum e obviamente óbvio, redundância proposital. Quem já não leu ou ouviu falar sobre os excessos trazidos pela civilização e modernidade? Outro dia, eu estava em um consultório médico e conversava sobre filhos com a moça sentada ao meu lado. Perguntei a ela se tinha só o menino de quem ela narrava as travessuras, cheia daquele orgulho e ternura próprios das mães de todos os tempos. Ela me respondeu que sim, que gostaria de mais crianças correndo pela casa, porém a vida complicada e cara de hoje não permitia. E alegou, perguntando a mim e a ela mesma: como pagar um curso de inglês, de computação, de judô, de natação, de yoga infantil para mais de um filho? Impossível. Concordei com ela.

Imediatamente me reportei ao delicioso conto de Eça de Queiroz, “Civilização”, que eu acabara de ler no dia anterior. A história se passa mais ou menos assim: Jacinto, moço rico, nascido praticamente num palácio, tinha ao seu dispor todos os confortos e mordomias que a modernidade do século XIX podia oferecer, como máquina de escrever, telégrafo Morse, fonógrafo, telefone, teatrofone (ah! se o Eça de Queiroz pudesse ver a modernidade dos dias de hoje…) Bom, o moço tinha tudo – uma biblioteca com 1817 volumes só de sistemas filosóficos, sem falar nos compêndios sobre astrologia, medicina e outros tantos. Tinha uma escova chata e redonda para aparar o cabelo no alto, uma escova estreita para ondear o cabelo sobre a orelha, outra côncava para a parte de trás da cabeça, outra de longas cerdas para o bigode e ainda outra mais leve para as sobrancelhas. Não vou citar mais as minúcias dos engenhosos apetrechos do moço porque ninguém merece. Acontece que o Jacinto não era feliz. Trazia uma insatisfação sem remédio dentro do peito, o que o fazia bocejar a todo instante, e a despeito de três cozinheiros experimentados nos melhores cardápios ricos de todas as proteínas, trazia a face pálida e rugas de preocupação.

Em busca de novos ares, Jacinto decidiu passar uma temporada nas serras, em uma quinta cuidada por caseiros havia trinta anos. Por precaução, sabendo ele que a construção estava desgastada pelo tempo, enviou uma equipe de engenheiros, arquitetos, trabalhadores e malas e mais malas com todos os confortos necessários a duas semanas de montanha, como camas de penas, poltronas, divãs, banheiras, tapetes persas, livros, vinhos, champanhe, e mais muitas outras coisas. Ocorre que por um lamentável ou providencial erro de comunicação e extravio das malas cheias de modernidade, Jacinto chegou à quinta com a roupa do corpo, e desolado, deu com a casa de janelas sem vidraças, com paredes enegrecidas, buracos no telhado e apenas enxergas no chão. O caseiro Zé Brás, apavorado, atravessando a pior hora de sua vida e com as mãos na cabeça, tratou de providenciar uma ceia para o patrão. Ordenou a um bando de mulheres experientes que logo “depenava frangos, batia ovos e escarolava arroz, com santo fervor”, no dizer da narração sarcástica e adorável de Eça de Queiroz. Nada restou a Jacinto senão esperar pela ceia, encostado na janela sem vidraça, de olho nu nas estrelas que luziam no céu negro da serra. Acabou por considerar que a teoria dos seus compêndios sobre astros era bem diferente da prática real da observação. Inebriado por uma doce paz que vinha do crepúsculo, foi cear e se descobriu com uma fome leonina. Devorou os frangos, os caldos e as favas, sem se lembrar de que não gostava delas.

Enfim, depois de algum tempo, encontramos um Jacinto novíssimo, bem diferente daquele da cidade civilizada. Perdera a palidez, ganhando um tom trigueiro e forte. Pescava trutas que ele mesmo assava, e estava de casamento marcado com uma rapariga bela e forte do lugar.

Pois bem, o leitor perguntará, com razão, aonde quero chegar e o que isso tem a ver com aquilo e eu respondo que tudo. O mundo moderno do nosso século XXI tem trazido fartura de conhecimentos, aparelhos sofisticados e ricas experiências virtuais para nossas crianças. E tudo de tal maneira que elas serão carentes de experiências reais, como trepar em árvores, sentir a água fria das cachoeiras e saber como é conviver com irmãos. Faz lembrar um menino pequeno que acompanhou o avô na fazenda e horrorizado, constatou que o leite de seu delicioso milk shake provinha das tetas da vaca, e segredou ao avô que não queria mais tomar o leite porque ele saía muito perto do rabo.

Bom, nem tanto ao mar, nem tanto a terra, como dizia minha mãe. Há que se ter sempre bom senso, mas é fato, que é no máximo da civilização que o homem experimenta o máximo de tédio, palavras do Jacinto, que eu apenas repasso.

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