Observamos com interesse, e até com certo assombro, os avanços tecnológicos em benefício da humanidade. Por exemplo, na medicina, a busca por novos medicamentos, novos aparelhos e exames que permitem mais precisão e uma expectativa de vida muito mais saudável e confortável. O conhecimento em várias áreas tem ampliado as possibilidades de acerto e, com isso, as pessoas podem antecipar atitudes. Observamos muitos casos em que doenças graves, ao serem diagnosticadas precocemente, recebem tratamento e prolongam a vida das pessoas ou tornam o processo menos doloroso aos pacientes. Observamos, em muitas outras áreas, tecnologias que aproximam as pessoas, como a internet, o celular, maquinários e utensílios que tornam a vida mais prática.
Esses avanços e facilidades proporcionados pela tecnologia deveriam promover também pessoas mais felizes, realizadas, gerar mais tempo para a convivência, mas não é o que tenho observado como educadora. A pergunta de uma mãe a outra, que relatava não ter televisão em casa, dá mostras do quanto a causa de todo sofrimento está em uma evolução humana que ainda é lenta e, de certa forma, desconhecida. Essa mãe perguntava: como você faz com seu filho em casa sem televisão?
O autor da Logosofia ensina:
“Não há mais terras a descobrir; os gritos da própria ciência emudecem ante realidades que não sabe compreender; o conforto enfastia porque se desfruta demasiado dele; as diversões relaxam o espírito pelo abuso que se faz delas.“
Diante de tanto sofrimento humano que a tecnologia não consegue resolver, o que resta para a geração atual? O que falta para a humanidade descobrir? A pergunta de uma criança de quatro anos: “Como eu posso saber o que está dentro de outra pessoa se eu não vivo dentro dela?” dá uma direção e nos indica para onde a humanidade deve caminhar.
Essa inquietude de uma criança é o que move toda a humanidade a buscar respostas. As inquietudes demonstram que existem perguntas até agora sem respostas e que continuamos procurando soluções em algo que está fora de nós.
Existe uma doença cujas causas estão em uma parte da vida do ser humano ainda desconhecida para ele — a doença do vazio. Assim como algumas doenças podem ser curadas, se identificadas no início, a doença do vazio pode também ser prevenida, se desde a mais tenra idade a criança receber conceitos e valores permanentes para a sua vida. Se desde cedo ela aprender a conhecer o que faz parte do seu mundo interno, da sua herança individual e, principalmente, se for ensinada a buscar as causas dos acontecimentos em sua vida ali onde eles são gerados, ou seja, nos pensamentos que estão em sua mente.
Desde cedo, as crianças são ensinadas no Colégio Logosófico sobre a imagem da Casa Mental. Uma analogia que permite compreender que, assim como cuidamos, organizamos, limpamos e só permitimos que pessoas conhecidas entrem em nossa casa, também podemos conhecer, identificar e selecionar os nossos pensamentos. Buscando atuar com aqueles pensamentos que nos levam a ser conscientes, melhores e que sejam um exemplo do bem a ser feito. Essa imagem permite ensinar para as crianças que, assim como existe a vida física, existe uma outra que transcende o físico.
Outro recurso lúdico são as músicas que, ao transmitirem conceitos reais e permanentes, auxiliam no trabalho pedagógico para levar às crianças esses conhecimentos sobre o seu mundo interno. Esse recurso foi utilizado em uma turma de crianças de quatro anos. A professora dividiu a turma em equipes e solicitou que as crianças prestassem atenção na música. Explicou que deveriam escutá-la e, em seguida, conversariam sobre ela. A música escolhida chamava-se “Duas vidas”.
Depois que a música tocou, foram feitas as seguintes reflexões: olhando-me no espelho, o que vejo? E dentro, o que tenho? Quem sou eu? Consigo enxergar dentro de mim? O que gosto de fazer? Logo após esses movimentos, foi transmitido às crianças que temos duas vidas: uma fora (externa) e uma dentro (interna). E então, ainda se observando no espelho, as crianças desenharam a si mesmas. Esta atividade será repetida ao longo do ano, juntamente com perguntas que colaborem na ampliação do conceito e estimulem as crianças a pensar sobre quem querem ser e o que farão para realizar o que querem.
Ao serem ensinadas sobre a vida interna, que prerrogativas se abrem na vida dessas crianças? O avanço para a superação. Poder conhecer a causa de seus acertos e de seus erros. Poder analisar suas atitudes e planejar ações futuras. Ter a prerrogativa de ser melhor do que se é. Encontrar as causas e poder efetivamente ajudar a si mesmo e ao semelhante.
Um dia, uma mãe relatou emocionada que o seu filho de três anos pediu que ela desligasse a televisão, pois o desenho não estava fazendo bem para sua casa mental. Que conhecimento permite uma criança de três anos selecionar o que lhe faz bem e o que não faz? O conhecimento dos pensamentos, o saber identificar as sensações que causam dentro de si mesmo o que está vendo, lendo e ouvindo. Mas isso só é possível quando diariamente se pratica o voltar-se para si mesmo. Quando a criança é constantemente estimulada a estar em contato com essa vida que há dentro de si mesma. Quando é ensinada a conhecer seus pensamentos, seus sentimentos, seus valores — pois neles estão as causas e as respostas para suas mais profundas inquietudes.
A evolução que a humanidade necessita realizar hoje é a evolução dessa vida interna, obter conhecimentos que permitem resolver problemas que não são físicos, mas que repercutem em toda a vida do ser. Observamos que quanto mais as crianças aprendem a identificar os pensamentos, tanto mais elas escolhem os que permitem a convivência mais harmônica consigo mesmas e com o semelhante.
Se os avanços tecnológicos permitem uma vida mais saudável e confortável, é chegada a hora de aprendermos a cuidar dessa vida interna. Na realidade, quanto mais conhecermos os sintomas que afetam o desenvolvimento da nossa vida, mais teremos recursos e conhecimentos para cuidar dela. Como ensina o autor da Pedagogia Logosófica:
O que fica, então, por fazer às gerações de hoje?
“…A Logosofia responde: fica o mais grandioso que existe para realizar e que, nesta grande etapa, as gerações de hoje e as vindouras terão que cumprir: o avanço para as altas regiões do entendimento; o esforço por levar o ser, como alma humana, para o encontro de sua própria explicação como ente físico; para a eternidade que não tem sabido compreender ao viver um tempo peremptório, sem valor algum. Em outras palavras: o avanço para a superação.”
Um pensamento de Mara Lúcia Will Minsky