Como as histórias se tornaram rotina neste espaço, eis mais uma – muito singela e própria para hoje:
– Vó, o que acontece depois do ‘felizes para sempre’ das historinhas que você conta? Eu não vejo ninguém ser feliz para sempre!
– Sabe, minha querida, há uma tribo de índios que não acredita na passagem do tempo. Eles acham que existem apenas dois mundos: das coisas visíveis e das coisas invisíveis. No mundo das coisas visíveis, encontramos o que construímos: a casa, o carro, esse tricô aqui que você sempre interrompe…
– E no mundo das coisas invisíveis, vó?
– Lá, encontramos tudo o que não transformamos em realidade: os sonhos, as ideias, enfim, tudo o que a gente sempre deixa para depois, tipo: depois eu vou estudar, rezar, fazer meu sonho se tornar realidade… As pessoas sempre esperam pelo futuro, quando serão ‘felizes para sempre’.
– Vó, fale mais dos índios.
– Bem, como eles não acreditam no tempo, então não acreditam também no futuro e não passam a vida inteira esperando por ele.
– O que eles fazem então? Não têm coisas chatas pra fazer, como fazer lição e comer verduras?
– Lógico que sim!
– Mas, como é que podem ir para a escola se não acreditam no futuro? Meu pai sempre fala que estudou e trabalha para que a família tenha um futuro melhor.
– E o futuro fica mesmo melhor, netinha?
– Não sei, ele ainda não chegou!
Riram gostosamente.
– Sabe, querida, o que esses índios acham é que a felicidade – o ‘felizes para sempre’ – é um presente de Deus e só existe nas coisas realizadas. É como um quebra-cabeça que a gente monta todo dia: as peças são invisíveis e devemos procurar por cada uma até encontrar. Aí a gente traz as coisas do mundo invisível para o mundo visível.
– Você é feliz mesmo sendo sozinha, vovó?
– Sim; tenho você e uma porção de gente no meu coração. Nunca estou sozinha!
– Tem gente no seu coração?
– É claro que sim! Jesus pediu para morar nele e Ele só deixa entrar gente boa lá.
– Quando eu ficar velhinha, eu vou ser feliz, então?
– Não, meu bem. Criança é que você vai ser feliz.
– Mas, eu já sou criança!
– Então, seja feliz já e não se esqueça de ser criança também quando crescer para nunca deixar de ser feliz, tá bom?
– Combinado.
– E agora, vamos brincar de construir felicidade? Comece rezando comigo, pedindo a Deus que Ele e Nossa Senhora sempre morem no seu coração.
Não precisou falar duas vezes. Rezaram e a netinha começou a montar o seu quebra-cabeça de felicidade eterna pela peça mais importante: o momento da oração!
Portanto, faça como a vovó, a netinha e eu também. Não deixe para ser feliz amanhã e comece dando mais valor aos bens espirituais: caridade, oração, perdão, comunhão e perseverança na missão que Deus reservou pra você. Lembre-se: todos nós somos vocacionados, basta aceitarmos o chamado que vem do Céu.
E deixando de ser feliz por alguns anos, aprendi que Jesus sempre nos dá uma segunda chance. Aprendi também que viver não é só receber, mas, principalmente, dar. Aprendi que quando sinto dores, não preciso ser uma dor para os outros. Aprendi que sempre tenho muito que aprender para continuar sendo feliz, como este menino da próxima história:
Na semana do Natal, um garoto chegou em casa e viu um pote com algumas balas dentro. Enfiou depressa a mão pela boca do pote e segurou três balas, mas, quando tentou retirá-las, não conseguiu. A boca do vidro era estreita e formava um gargalho, que não deixava a sua mão fechada passar. Os pais gritavam para que o filho largasse as balas, pois o vidro poderia feri-lo, mas o menino não as largava. Daí, o avô correu até o quarto e pegou um presépio para montar. Ao ver as imagens, o garotinho largou as balas e correu para ajudar o avô.
Portanto, siga esta receita de ser feliz para sempre: 1. Agrade a Deus hoje e não deixe para depois – como os índios da primeira história; 2. Substitua as coisas menos importantes por outras que levarão você ao Céu – como o menino da segunda história; 3. Persevere com amor na sua missão cristã – como tenho feito, escrevendo estes artigos. E nunca se assuste com tanta felicidade em sua vida! Assim seja.