O programa Conexão Ambiente, iniciativa do Conexão Itajubá dedicada à educação ambiental, trouxe um debate sobre as baixas temperaturas que marcaram o inverno de 2025 no Sul de Minas. A pesquisadora Michelle Reboita, do Centro de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), explicou as razões por trás do frio intenso e sua relação com a crise climática.
De acordo com Reboita, o inverno deste ano, que se estende até o início de setembro, foi marcado pela passagem de nove massas de ar frio, número acima da média climatológica de sete sistemas. “As temperaturas mínimas, registradas nas manhãs, ficaram abaixo do esperado, enquanto as máximas, à tarde, estiveram acima da média. Isso resulta em uma média diária equilibrada, mas com uma sensação de frio mais intensa pela manhã”, esclareceu.
A pesquisadora destacou que as massas de ar frio, provenientes do sul do continente, são secas, o que intensifica a variação térmica. “Sem umidade, a energia solar aquece rapidamente o ambiente à tarde, mas à noite essa energia se dissipa, causando manhãs geladas”, explicou. Esse padrão explica por que muitos saem de casa “encapotados” pela manhã, mas precisam “tirar as cascas” ao longo do dia.
Impactos na agricultura
As baixas temperaturas também trouxeram preocupações para a agricultura, especialmente em cidades como Marmelópolis, Delfim Moreira e Maria da Fé, onde os termômetros registraram entre 0°C e -3°C. Reboita alertou para o risco de geadas, que ocorrem quando as temperaturas próximas ao solo atingem zero ou valores negativos. “A um metro e meio de altura, onde medimos a temperatura, se registrarmos 0°C, o solo pode estar entre -3°C e -4°C. Isso provoca o congelamento da seiva nas plantas, danificando suas células e, em casos extremos, levando à morte da vegetação”, detalhou.
Para mitigar os danos, a pesquisadora sugeriu práticas como a cobertura de plantações com plásticos, como em cultivos de morango, ou a irrigação antes de geadas. “A água, ao congelar, libera um leve calor que pode proteger as plantas”, afirmou. No entanto, ela reconheceu que essas medidas podem ser custosas para pequenos produtores.Crise climática e extremos climáticos
Apesar do frio, Reboita reforçou que esses eventos estão ligados às mudanças climáticas. “Os extremos, sejam de frio ou calor, estão se intensificando. Isso é parte da crise climática. As manhãs podem ser muito frias, mas as tardes trazem calor, o que confunde a percepção das pessoas sobre o aquecimento global”, explicou. A pesquisadora também destacou que o fenômeno observado neste inverno foi influenciado por alterações na circulação atmosférica no Oceano Pacífico, que direcionaram massas de ar frio para o Sul e Sudeste do Brasil.
Previsão para os próximos dias
Com o enfraquecimento desse padrão atmosférico, Reboita prevê que as temperaturas devem subir gradualmente até o final da semana. “As mínimas, que hoje estão em torno de 6,4°C, devem chegar a 7°C amanhã e continuar subindo. Não esperamos novas ondas de frio intenso até o fim de agosto”, afirmou. No entanto, ela alerta que temperaturas mínimas próximas de 5°C ainda podem causar geadas, especialmente em condições de baixa umidade e sem ventos fortes.
Primavera à vista
A primavera, segundo Reboita, começa oficialmente em meados de setembro, mas, para fins científicos, é considerada a partir dos meses de setembro, outubro e novembro. Com a chegada da nova estação, a expectativa é de menos eventos de frio extremo, embora manhãs frescas ainda sejam características da região.
O Conexão Ambiente reforça a importância de acompanhar previsões meteorológicas e adotar medidas preventivas, como a irrigação, para proteger cultivos agrícolas. Michelle Reboita finalizou destacando a relevância da educação ambiental para entender e enfrentar os desafios impostos pela crise climática.
Por Redação, com informações de Michelle Reboita