O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do caso Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), admitiu que não houve grandes avanços nas investigações conduzidas pelo Congresso no primeiro mês de trabalho do grupo. O peemedebista, que classificou a CPI de “atípica”, afirmou que a comissão só deve engrenar após o recebimento da quebra de sigilo fiscal e telefônico de empresas e pessoas físicas.
“No primeiro mês não se pode falar em grandes avanços. É um mês de conhecimento. Toda CPI tem um curso complicado no início. Essa já começa com o trem andando”, ressaltou Vital, que recebeu a reportagem em seu gabinete na última quarta-feira. “Nosso desafio é descobrir algo mais, aprofundar as investigações, definir alvos a serem atingidos, metas a serem exploradas”.
Sobre a “blindagem” ao governador Sérgio Cabral (PMDB), que foi flagrado em viagens ao exterior com diretores de empreiteira envolvida em negócios com Cachoeira, o senador afirmou que “as relações pessoais devem ser separadas das relações públicas”. Mas defendeu Cabral: “Temos que ter responsabilidade de não politizar essas questões, e sim de apurar o que pode pesar sobre ele”.
Vital comentou ainda a polêmica com o Ministério Público. Ele negou a “politização” do caso e reforçou que a decisão da CPI de solicitar por escrito o depoimento do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, teve “caráter administrativo”. Porém, admitiu que a comissão “passou muitos dias discutindo o Ministério Público”. “Vez por outra a coisa sai do eixo, mas não é num estalar de dedo que se reposiciona”.
Outro ponto abordado pelo peemedebista foi o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao contraventor Carlinhos Cachoeira. A manobra levou ao cancelamento do depoimento do bicheiro na CPI às vésperas da data marcada. Teme que casos similares prejudiquem os trabalhos da comissão? “Pode haver uma chuva de habeas corpus. Não vamos tutelar a defesa de ninguém”.
Vital rebateu também as reclamações de parlamentares que dizem estar com dificuldade de consultar os papéis sigilosos, em sala disponibilizada no Senado, que já recebeu apelidos como “Batcaverna” e “Labirinto de Creta” por congressistas que integram a CPI. “Entre 20% e 30% dos parlamentares estão acessando os documentos. Aumentamos o número de máquinas de três para dez, mas elas não estão sendo usadas simultaneamente”, destacou.
Outros planos de Vital
Questionado se a imprensa será alvo de investigação, o presidente da CPI afirmou que a mídia “vai ser questionada”. “Não vejo porque censurar com os elementos que se dispõe. Até afora não há posições para gerar tipificação penal”, sublinhou Vital. “Mas existe um contencioso que a CPI vai discutir”.
O peemedebista confessou ainda quase ter ficado de fora do comando da CPI. “Tinha outros planos. Queria focar no trabalho de plenário e em comissões”, lembrou Vital, que está em seu primeiro mandato como senador. “A CPI foi um fato novo na minha vida, que hoje toma 19h do meu dia. Confesso que hesitei (em aceitar o convite para presidir a comissão)”.
Fonte: iG Brasília