Minha mãe teve seis filhos. Na época não existiam métodos contraceptivos modernos, mas mesmo que houvessem, ela jamais teria feito uso. Teve quantos filhos Deus mandou, como se costuma dizer. Assim viemos do jeito mais natural que havia e que há. Eu, como cristã católica, digo, parodiando minha saudosa amiga Sandra, que Deus se agradou da decisão de meus pais e enviou quantos filhos Ele queria.
Aliás, quando eu era menina e ainda nada sabia sobre sexo, eu julgava que as barrigas das mães cresciam espontaneamente assim que se casavam e que Deus é quem mandava esses filhos. O que me intrigava era por que para uns ele mandava seis, para outros, dez, doze, como se usava na época e para outros ainda, até um único filho. O critério de Deus era um mistério para mim. Ainda é. Deus é Deus e pronto. Um dia saberemos.
Por que falo sobre isso hoje? Porque há poucos dias vinha eu andando para casa quando vi uma cena que me comoveu. Nos modernos tempos de hoje quando o casal se limita a ter no máximo do máximo um filho apenas, eu vejo um jovem rapaz com um bebezinho no colo, já sentadinho, também puxava pela mão um garotinho bem pequeno e mais à frente um garoto maiorzinho. Três filhinhos! Que beleza, que beleza! Como diria minha mãe. A mulher provavelmente estaria em casa, fazendo uma faxina ou no salão fazendo o cabelo e descansando da lida diária. Era sábado.
Eu sei, eu sei que o mundo é outro, eu sei que as mulheres deixaram de ser donas de casa, que o orçamento pequeno exige que trabalhem fora e é bom que o façam, aquelas que assim gostem e queiram. Eu sei que babás e creches são caras, eu sei que tudo ficou mais caro e mais complicado de criar filhos neste mundo maluco, eu sei que a população do planeta já ultrapassou seus 7,7 bilhões. Sei de tudo isso, mas que é bonito ver três filhinhos, isso é. O rapaz não era rico não, nem rico, nem pobre, simples. Fiquei imaginando se fariam como lá em casa em que uma roupa era passada para o outro mais novo até o último.
Bem, e ontem, exatamente ontem, encontrei com minha prima que me apresentou a uma mulher simpática, talvez mais nova do que eu. E ela contou que seu filho e sua nora optaram por ter quantos filhos Deus quisesse mandar. E eles têm sete filhos. Quando precisavam de pausa entre um filho e outro, lançavam mão da abstinência periódica. Sem sexo mesmo. Dois dos filhos já são quase monges. Deus caprichou, aproveitou e puxou a sardinha para seu lado. Que coisa mais bonita. Que beleza! Coisa rara.
Sei de todos os motivos para se ter apenas no máximo um filho. Há casais que até optam por cãezinhos e gatinhos. Bem, isso é outra história. Jamais vou dizer que é fácil criar filhos, há que se ter muita coragem. Contudo, sei também que Deus é fiel e abençoa. Falando em Deus, já contei isso em outra crônica, minha mãe teve cinco filhos seguidinhos. Já com mais de quarenta anos, quatro anos depois do último filho, ela percebeu que estava grávida. Ficou surpresa e feliz e aproveitou para pedir a Deus:
– Deus, já que o Senhor enviou mais um, gostaria que fosse menina, saudades de ter menina! Mas não quero mais loirinhas de olhinhos azuis. Não. Quero uma menina moreninha de olhos castanhos. Se puder, bem, se não puder, amém! E veio a Raquel, do jeitinho que minha mãe pediu. Que beleza! Que beleza!