É comum o ditado que diz que de médico e de louco todo mundo tem um pouco. Mas não há dúvidas que o mesmo ditado valeria para economistas. Afinal quem nunca deu um palpite econômico? Ou não sacou da sua cabeça uma previsão ao estilo bola de cristal para o que iria acontecer com a economia nos próximos dias, meses ou anos? Eu sei que você já fez isso ou conhece quem já fez!
E não há problemas, quanto a isto. Vivemos em um mundo onde predomina a liberdade de manifestação e sem dúvidas é um tema que atrai a todos por ser componente importante para a qualidade de vida das pessoas.
Mas o palpite econômico não fundamentado ou mal fundamentado passa a ser um problema sério quando influencia a tomada de decisão de muitas pessoas. Principalmente quando as induz ao erro.
Nos últimos 15 dias, desde nosso último encontro no Conexão Itajubá, ficamos particularmente assustados com as manchetes econômicas que tomaram grandes canais de comunicação e imprensa escritas sem nenhuma sustentação no que diz a correta teoria econômica. Muitas vezes indo em direção contrária. Previsões catastróficas sob bons cenários e destaque para componentes fantasiosos e pouco se tem falado do que de fato importa.
No dia 03 de setembro de 2024 o IBGE divulgou o resultado do PIB brasileiro para o segundo trimestre de 2024. O resultado surpreendeu por estar 40% acima das expectativas do “mercado”, o crescimento foi de 1,4% frente ao primeiro bimestre do ano. O esperado por muitos era um crescimento de 1%. Este resultado foi puxado principalmente pelo crescimento da indústria nacional. O resultado a ser comemorado ao invés disso desencadeou uma enxurrada de notícias falando que a economia estava superaquecida e isto era ruim pois iria causar inflação e obrigar o Banco Central do Brasil a subir a taxa de juros.
Previsão esta completamente infundada. O crescimento de 1,4% do PIB embora associado a baixas taxas de desemprego não implica necessariamente em inflação, principalmente se não houver crescimento acelerado do consumo das famílias e do governo e se a capacidade produtiva não estiver no seu limite. E nada disso está sendo verificado. Aliás a formação bruta de capital físico que é o investimento em estrutura produtiva cresceu mais que os gastos do governo o que é uma ótima notícia. Portanto, parece que ou há desconhecimento do funcionamento da economia ou uma torcida para que o Banco Central eleve os juros.
Tanto é verdade que no dia 10 de setembro o mesmo IBGE divulgou o resultado da inflação para o mês de agosto de 2024. E pasmem, temos uma deflação (-0,02%), ou seja, uma redução média dos preços na economia. Ora, não teríamos inflação diziam os “analistas de economia!”?
E o mais impressionante, haviam manchetes dizendo que o preço do café subiu quando da divulgação do resultado da inflação. E sim, de fato o preço do café subiu (3,7%) pelo próprio índice de inflação calculado pelo IBGE, o IPCA. Mas na média ponderada de todos os demais preços da cesta média de consumo do brasileiro os preços caíram, por exemplo a batata e o tomate que caíram 19 e 17% respectivamente. Que catastrofismo infundado é este?
Não que esteja tudo sob controle e indo muito bem, mas o que de fato deveria preocupar, não está tendo a devida atenção do tal “mercado” e seus analistas com baixa qualificação na teoria econômica.
Destacamos a seca acompanhada de inúmeras queimadas, e demais desafios climáticos que o país vem passando. As cheias do Rio Grande do Sul, seguidas de estiagem e queimadas por quase todo o país sem dúvidas afetam a produção de alimentos e produtos que o Brasil exporta além de consumir no dia a dia, podendo sim ser uma séria ameaça para os preços e inflação no país e também nosso PIB. O problema definitivamente não é o crescimento da indústria acima do esperado no segundo trimestre do ano.
Além disto a estiagem é crítica e impõe desafios para a gestão energética no nosso país. As hidroelétricas, importantes em nossa matriz de energia podem começar a sofrer. Exigindo de outras fontes menos estáveis ao longo do dia como a fotovoltaica e eólica o que não podem muitas vezes entregar, como por exemplo a geração em horários de pico, início da noite, exigindo assim a operação forte das termoelétricas que produzem energia a um custo mais alto impactando na conta de energia e na inflação, além de poluírem mais.
É uma pena que o assunto econômico seja tratado com tão pouco cuidado e discutido de forma rasa por quem forma opinião e tem voz em veículos de mídia e na sociedade. Para o nosso ouvinte fica o alerta. Tome cuidado com o que se fala sobre a economia e verifique as credenciais e formação de quem fala sobre o tema. Assim como eu não consulto um advogado para tratar de um problema no coração não é de se esperar que se escute um engenheiro para compreender o problema econômico.
Esperamos que tenha gostado do nosso painel de hoje. Nos veremos em breve. Até lá!
AUTORES:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo