Belo Horizonte – Ler ou não ler, eis a questão! Talvez este ainda seja um dilema da nossa cultura. Rafael Guimarães Abras Oliveira, novo premiado na categoria Jovem Escritor Mineiro, na 3ª edição do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, defende que “a leitura é, sobretudo, um meio de construção pessoal, de formação de caráter e consciência”. Com a obra, O último escritor, ele teve seu trabalho selecionado entre as 65 propostas apresentadas para esta modalidade, na premiação criada pelo Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC). Na categoria Ficção, o livro vencedor foi O tempo em estado sólido, da cearense Tércia Montenegro, que concorreu com 228 trabalhos. Mais uma vez, o recorde no número de inscrições do concurso fica com a Poesia, totalizando 667 concorrentes. Bruno Brum venceu com Anaeróbica. Já para a categoria Conjunto da Obra, a comissão julgadora indicou o escritor Silviano Santiago, autor de sólida e abrangente obra literária.
Depois de estudar História, Letras e Design e não concluir nenhum dos três cursos, o belo-horizontino Bruno Brum atua como designer gráfico de livros e revistas. Ao vencer o prêmio ele confessa: “Quando recebi a notícia custei um pouco a me dar conta do que estava acontecendo. Trata-se de um prêmio importante, de projeção nacional, disputado por escritores de alto nível de todo o país”.
O secretário de Estado de Cultura, Washington Mello, comemora o sucesso da premiação, que vem se consolidando a cada ano. “Felizmente, nesta terceira edição, registramos 961 inscritos de praticamente todos os estados brasileiros. O concurso é mais que um estímulo para a literatura brasileira. Além de premiar escritores experientes, os novos e jovens escritores têm oportunidade de mostrar seu trabalho, valorizando nossa literatura e nossa cultura”, pontua.
Os valores da premiação para cada categoria são: I – Conjunto da Obra: R$ 120 mil (cento e vinte mil reais); II – Poesia: R$ 25 mil (vinte e cinco mil reais); III – Ficção: R$ 25 mil (vinte e cinco mil reais); e IV – Jovem Escritor Mineiro: R$ 7 mil (sete mil reais), durante seis meses, somando o valor de R$ 42 mil (quarenta e dois mil reais), para pesquisa e elaboração do livro. Sobre esses valores incidirão os impostos previstos em lei.
Conjunto da Obra
Nesta categoria, o júri, composto por Eneida Maria de Souza, Fábio Lucas e Renato Cordeiro Gomes, premiou o escritor Silviano Santiago, considerado autor de vasta obra literária, tanto na criação quanto na ensaística e difusão de textos concernentes à crítica cultural. “A homenagem e o prêmio ao conjunto da minha obra são prova de reconhecimento por parte dos pares. Evidencia o fato de que não foi em vão que dediquei minha vida à produção, análise e divulgação da literatura brasileira pelo país e no estrangeiro. Aos 73 anos, recomeço, reganhando forças para dar continuidade à batalha em prol da nossa cultura”, revela Silviano. Em edições anteriores do Prêmio, venceram esta categoria os escritores Antonio Candido (2007), Sérgio Sant”Anna (2008) e Luis Fernando Veríssimo (2009).
Natural de Formiga, no Centro-Oeste de Minas, Silviano é bacharel em Letras Neolatinas pela UFMG e doutor em Letras Francesas pela Universidade de Paris (Sorbonne). Atualmente, é colunista do jornal O Estado de São Paulo. São de sua autoria, entre outros, O Banquete (Editora Ática), Carlos Drummond de Andrade (Editora Vozes), Uma história de família, Cheiro forte, Viagem ao México, De cócoras, O falso mentiroso, Histórias mal contadas, Heranças (Editora Rocco), Ora (direis) puxar conversa! e A vida como literatura. O amanuense Belmiro (Editora da UFMG).
Emocionado com a premiação, Silviano Santiago concorda com a importância de concursos literários, como o promovido pela Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais e declara que “o fato de o iniciante ter tido a coragem de mostrar seu trabalho a um grupo de profissionais competentes já demonstra a indispensável segurança para poder enfrentar o longo processo de edição, venda e divulgação da própria criação literária”.
Os premiados e seus trabalhos
De acordo com os jurados da categoria Poesia – Luis Alberto Brandão Santos, Paulinho Assunção e Ricardo Aleixo – o livro Anaeróbica foi escolhido tendo em vista a riqueza poética, os jogos de ideias e paradoxos, a leveza, o humor e a inteligência surpreendentes. Nascido em 1981, em Belo Horizonte, Bruno Brum diz que Anaeróbica, seu terceiro trabalho, trata da época “feroz e sufocante da atualidade” e fala de um mundo que afirma, insistentemente, a perda do sentido do poeta e da poesia. “Embora trate de questões difíceis e delicadas, não é um livro escrito em tom de lamentação ou de protesto”, completa.
Aos 23 anos, Rafael Guimarães Abras Oliveira foi o vencedor da categoria Jovem Escritor Mineiro. Nascido em Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, mora em Belo Horizonte, onde cursa a Faculdade de Direito da UFMG. De acordo com a comissão julgadora formada por Ana Elisa Ribeiro, Antônio Barreto e Reinaldo Martiniano Marques, o livro, O último escritor, foi escolhido em função da maturidade da escrita, do domínio dos recursos da técnica narrativa, da vivência literária, além da criatividade e do talento demonstrados. O livro narra a história de um professor de literatura que, sendo avaliador em um concurso literário, apaixona-se por um romance e acredita que nele há um novo tipo de ideal artístico.
Na categoria Ficção (conto), a cearense Tércia Montenegro faturou o primeiro lugar. Os jurados Duílio Gomes, Francisco de Morais Mendes e Nelson de Oliveira decidiram conceder o prêmio à obra, O tempo em estado sólido, pela linguagem equilibrada e pela temática criativa e variada, além do domínio da técnica narrativa demonstrado pela autora. Tércia explica que O tempo em estado sólido, sua quarta obra de contos, reúne 22 relatos curtos, construídos a partir de histórias interligadas, com personagens ou episódios que aparecem em mais de um texto. O livro apresenta-se divido em duas partes, intituladas “O tempo” e “A pedra”, ressaltando enredos da efemeridade e da permanência, respectivamente.
Fonte: Agência Minas