Quando recebemos a notícia de que nosso segundo filho teria a T21, muitas coisas passaram pela nossa cabeça, dúvidas, preocupações, ansiedade e medos…e nesse momento, que muitos consideram um “luto”, me deparei com uma carta com o título “De filho para pai”. Não conheço o autor dessa emocionante carta, mas desde então, quando surge a oportunidade de compartilhá-la, não penso duas vezes…Pois tenho a certeza de que, assim como foi para mim, ela servirá de muita força e reflexão. E além disto, para que tenhamos um olhar diferente para esse mundo que podemos chamar de “atípico”, para que possamos mostrar para toda sociedade que o Diferente é “normal” e que o preconceito está na maneira como encaramos essas diversidades.
Um filho com a T21, não deve ser encarado como um problema, um vitimismo ou até mesmo um castigo…Não devemos e não temos o direito de definir o futuro de nenhuma criança por conta de um diagnóstico!
Nós, pais atípicos, temos apenas três “ações” a serem realizadas diante de um diagnóstico, como a T21 (que foi o nosso caso): CONFIAR em Deus, pois tudo que acontece em nossa vida é providência, AMAR e ACREDITAR nesse nosso filho atípico…
Pai,
Eu sei que você está em estado de choque. Mal eu acabei de nascer e vieram te contar que eu tenho um nome diferente daquele que você me deu. Eu ouvi o médico falando que eu sou Down. Não sei bem o que é isso, mas percebi que não é bom. Você e a mamãe choraram muito e ainda estão com cara de velório.
Eu estive me olhando e não encontrei nada que parecesse estranho. Não tenho antenas, nem rabinho e nem parafusos. Mas todo mundo que entra no quarto me olha com cara de espanto e, para vocês com cara de pena. Tenho certeza de que esse momento vai passar e você e a mamãe vão me tratar como qualquer outro filho, mas eu fiquei preocupado com algumas coisas que eu ouvi, por isso achei melhor te escrever antes que seja tarde.
Disseram que eu não vou conseguir fazer um monte de coisas. Como é que alguém tem a coragem de falar isso? Eu não tenho nem um dia de vida e já estão me condenando? Pai, não acredite em ninguém. Mas acredite em mim. Tenho certeza de que, se você e a mamãe confiarem que eu vou fazer de tudo, vocês vão me ajudar em cada conquista.
Pai, se eu demorar um pouco mais para fazer as coisas que as outras crianças fazem, não fique ansioso, isso só piora a situação. Brinque bastante comigo, me deixe tentar fazer de tudo. Dê-me a mão quando eu precisar, mas não me impeça de aprender e conseguir me virar.
Também ouvi um doutor geneti-qualquer-coisa te dizer que você deve procurar umas entidades excepcionais, que eu vou precisar ir para uma escola especial. Pelo que eu entendi, são lugares onde pessoas que nasceram com alguma coisa diferente vão. Até parece bonito, mas isso quer dizer que não vão me deixar brincar com crianças de todos os tipos? Que eu não vou poder aprender nada além de convivência social? Quero ir à escola com todas as crianças, afinal somos todos diferentes e é na diversidade que aprendemos a não ter preconceitos.
Gostei daquele casal que veio aqui com a menininha que também tem a tal da síndrome que eu tenho. Aquele que falou que ela vai numa escola regular. Você reparou que ela veio ler o meu nome na pulseira da maternidade? É verdade, ela não sabia o que queria dizer RN. Mas os pais dela explicaram direitinho. Eu sei que, se você acreditar em mim, e me mandar para uma escola comum, você e a mamãe vão ter mais trabalho. Em compensação, eu vou ter a chance de ser um adulto de verdade no futuro e não uma preocupação constante que vocês tenham de carregar para o resto da vida. Não é melhor dar trabalho agora no começo?
Dizem também que vocês terão de enfrentar pessoas mal-educadas e preconceituosas.
Mas vocês não me defenderiam de qualquer forma se eu não tivesse o que tenho? Além do que, você sabe que filhos, normalmente, vivem além dos pais. Se vocês não pensarem nisso agora, o que acontecerá comigo quando vocês partirem?
Pai, eu acredito e confio em você e na mamãe. Tudo que eu preciso é que vocês tenham essa mesma confiança em mim.
Beijos do seu mais novo filho.
Texto: Fábio Adiron