
Estamos chegando ao final de mais um ano… um ano de lutas, de desafios, mas também de aprendizados e de bênçãos. E, para não sair da regra, desejamos a todos um Natal Iluminado cheio da presença do Menino Jesus e novo ano repleto de saúde, paz, amor e esperança!
2025, com certeza, foi um ano de muitas provações — seja no profissional, no pessoal ou na saúde —, mas Deus nos manteve firmes.
Firmes em continuar com nosso propósito e as nossas “lutas”: a de sempre confiar em Deus, acreditar que o amanhã será melhor e que conseguiremos superar todas as dificuldades e desafios com muita fé e esperança.
E, por falar em superar desafios, confiar e em “acreditar”, há exatamente 14 anos, quando recebemos o nosso segundo filho, Rafael, com a T21 (síndrome de Down), um turbilhão de sentimentos nos invadiu: dúvidas, preocupações, ansiedade e medos…
Naquele momento — que muitos pais descrevem como um “luto” — deparei-me com uma carta intitulada “De filho para pai” (na verdade já até divulguei em 2024 esse texto, e achei que caberia e valeria a pena resgatá-lo nesse fim de ano)
Não sei quem a escreveu, mas desde então, sempre que posso, compartilho essa mensagem. Ela nos trouxe paz e esperança quando tudo parecia incerto e, com certeza, pode tocar o coração de outros pais e famílias também.
Essa carta me ajudou a mudar o olhar. A perceber que esse mundo, chamado por muitos de “atípico”, é, na verdade, um universo rico em descobertas, aprendizado, afeto e verdade.
É preciso mostrar à sociedade que o “diferente é normal”, e que o preconceito está justamente na forma como escolhemos olhar para as diferenças.
Um filho com T21 não é um problema. Não é motivo de vitimismo, muito menos um castigo.
É vida. É propósito. É presente.
Não temos o direito de limitar o futuro de uma criança com base em um diagnóstico, ou simplesmente em um “achismo” de que ela não terá condições de se desenvolver e fazer as mesmas coisas que uma criança típica faz.
A nós, pais atípicos, cabem apenas três atitudes diante desse “desafio”:
CONFIAR em Deus, pois tudo o que vivemos é parte de Sua Providência;
AMAR sem medidas, como qualquer filho merece ser amado;
e ACREDITAR profundamente nesse ser humano incrível que nos foi confiado.
E com esse espírito de fim de ano, quero agradecer ao amigo Otávio por nos conceder o espaço “Conexão Inclusão”, a minha família, amigos e a todos que acreditam que a inclusão só é realizada com muito respeito, amor e empatia, e para fechar o ano, compartilho essa carta novamente, com a seguinte mensagem: Acreditar e confiar, são importantes passos para vivermos com fé e esperança. Um Natal de luz e um próspero 2026!
Pai,
Eu sei que você está em estado de choque. Mal eu acabei de nascer e vieram te contar que eu tenho um nome diferente daquele que você me deu. Eu ouvi o médico falando que eu sou Down. Não sei bem o que é isso, mas percebi que não é bom. Você e a mamãe choraram muito e ainda estão com cara de velório.
Eu estive me olhando e não encontrei nada que parecesse estranho. Não tenho antenas, nem rabinho e nem parafusos. Mas todo mundo que entra no quarto me olha com cara de espanto e, para vocês com cara de pena. Tenho certeza de que esse momento vai passar e você e a mamãe vão me tratar como qualquer outro filho, mas eu fiquei preocupado com algumas coisas que eu ouvi, por isso achei melhor te escrever antes que seja tarde.
Disseram que eu não vou conseguir fazer um monte de coisas. Como é que alguém tem a coragem de falar isso? Eu não tenho nem um dia de vida e já estão me condenando? Pai, não acredite em ninguém. Mas acredite em mim. Tenho certeza de que, se você e a mamãe confiarem que eu vou fazer de tudo, vocês vão me ajudar em cada conquista.
Pai, se eu demorar um pouco mais para fazer as coisas que as outras crianças fazem, não fique ansioso, isso só piora a situação. Brinque bastante comigo, me deixe tentar fazer de tudo. Dê-me a mão quando eu precisar, mas não me impeça de aprender e conseguir me virar.
Também ouvi um doutor “geneti-qualquer-coisa” te dizer que você deve procurar umas entidades excepcionais, que eu vou precisar ir para uma escola especial. Pelo que eu entendi, são lugares onde pessoas que nasceram com alguma coisa diferente vão. Até parece bonito, mas isso quer dizer que não vão me deixar brincar com crianças de todos os tipos? Que eu não vou poder aprender nada além de convivência social? Quero ir à escola com todas as crianças, afinal somos todos diferentes e é na diversidade que aprendemos a não ter preconceitos.
Gostei daquele casal que veio aqui com a menininha que também tem a tal da síndrome que eu tenho. Aquele que falou que ela vai numa escola regular. Você reparou que ela veio ler o meu nome na pulseira da maternidade? É verdade, ela não sabia o que queria dizer RN. Mas os pais dela explicaram direitinho. Eu sei que, se você acreditar em mim, e me mandar para uma escola comum, você e a mamãe vão ter mais trabalho. Em compensação, eu vou ter a chance de ser um adulto de verdade no futuro e não uma preocupação constante que vocês tenham de carregar para o resto da vida. Não é melhor dar trabalho agora no começo?
Dizem também que vocês terão de enfrentar pessoas mal-educadas e preconceituosas.
Mas vocês não me defenderiam de qualquer forma se eu não tivesse o que tenho? Além do que, você sabe que filhos, normalmente, vivem além dos pais. Se vocês não pensarem nisso agora, o que acontecerá comigo quando vocês partirem?
Pai, eu acredito e confio em você e na mamãe. Tudo que eu preciso é que vocês tenham essa mesma confiança em mim.
Beijos do seu mais novo filho.
Por Eduardo Sato/Conexão Inclusão