Uma das recordações mais fortes e importantes que tenho da minha infância é a do meu aprendizado. Recordo-me que ele foi bem difícil — muitas vezes me considerava incapaz de aprender a ler e a escrever, conseguir diferenciar o B do P foi um grande desafio, e, quando escrevia com alguém me observando, sentia-me como em um filme dramático e acabava escrevendo tudo errado. O que será que me faltava nessa fase da vida?
A confiança em mim mesma.
E não foi apenas nesse episódio isolado que a falta de confiança atuou. Digamos que ela é uma velha conhecida, aparecendo sempre nos momentos mais inconvenientes. Posso citar apenas alguns deles nesta pequena lista: na hora de fazer escolhas, realizar afazeres por conta própria, formar amizades, dar bom dia, expressar minha opinião, levantar a mão e fazer uma pergunta…
Olhando em retrospectiva, consigo observar como a falta de confiança me atrapalhava! Melhor dizendo, ainda me atrapalha se eu não estiver atenta. Com o estudo logosófico, compreendi que a confiança é uma força interna que tem a capacidade de mover “montanhas”, montanhas essas também conhecidas como pensamentos! Pensamentos de medo, de insegurança, de debilidade, de exagero, de pessimismo — esses e outros se encontravam fixos como uma montanha em minha mente.
Com o estudo sobre a confiança, descobri alguns passos que colaboram para que eu possa fortalecer a confiança em mim mesma, tal como os de capacitar-me, mover-me e ter objetivos estabelecidos pela minha mente e pela minha sensibilidade. Através do meu empenho, conseguirei transpor os pensamentos limitantes de minha mente, que enfraquecem a confiança em mim mesma.
Consigo aplicar esses passos em vários episódios do dia a dia, como, por exemplo, na vida acadêmica. Além de estudante de Logosofia, sou estudante de Medicina Veterinária, e, no estágio, precisei montar uma bomba de infusão. Jamais tinha feito isso antes e, para mim, o experimento representava um grande desafio.
Antes mesmo de tentar montá-la, já havia criado uma imagem catastrófica do experimento, o pessimismo ensombrecia meus pensamentos, que eram os mais adversos possíveis: “vou montar errado”, “vai demorar muito tempo”, “a máquina vai apitar e todo o mundo vai me olhar”. Foi quando me recordei dos passos que levam à confiança em si próprio.
O primeiro passo é capacitar-me. Perguntei-me então: “eu tenho a capacidade de montar a bomba?”, recordei que sim, pois tinha aprendido os procedimentos e havia visto sua montagem algumas vezes. Observei com isso que aqueles pensamentos eram simplesmente fruto da insegurança. Quantas vezes isso não aconteceu comigo! Mesmo tendo o conhecimento técnico, a confiança me faltava; nesses momentos, recordar da minha capacidade, recordar o que já experimentei, vivi e aprendi nesse campo colabora comigo, colocando-me assim frente à minha própria realidade.
O segundo passo é mover-me, ou seja, colocar em prática aquilo que eu sabia fazer, reforçando a segurança nos meus conhecimentos técnicos, no caso em questão, montar uma bomba de infusão. E, para realizar esse passo, foi importante recordar que estou em um processo de aprendizado e que não conseguir faz parte do jogo, desde que eu aprenda com o que errei e aplique novamente, buscando o acerto com paciência.
E o último passo é recordar do meu objetivo, que era ter mais confiança em mim mesma, colaborando para a edificação de uma melhor conduta profissional. Isso servia de estímulo para enfrentar o desafio com decisão, além de servir como defesa mental contra os pensamentos que destoavam do meu propósito.
Após esses movimentos, minha mente serenou. Iria enfrentar aquela situação com meus conhecimentos, para atingir o meu propósito, e, caso não conseguisse montar o aparelho, pediria ajuda, levando o erro como princípio de acerto para a próxima oportunidade e deixando bem longe o pensamento “o que vão pensar de mim por não saber isso?”. Nessa ocasião não precisei de uma segunda oportunidade, pois, com a mente tranquila e aliada ao conhecimento, consegui montar a bomba de infusão corretamente. Fiquei feliz por ter conseguido montá-la, e ainda mais feliz por desarmar a bomba da falta de confiança — aquela invisível, que ninguém vê, mas que faz muito mal quando explode.
Venho observando que para tudo preciso de confiança, para aprender a ler e escrever, para a profissão que irei exercer, para fazer um teste, para apresentar trabalhos, para dar um bom dia, para montar uma bomba de infusão, para me casar com alguém, ser mãe, ser uma servidora da humanidade… Aprendi que eu preciso confiar em minha capacidade de aprender, de realizar, de evoluir, de ser melhor e de fazer o bem para mim e para a humanidade!
Um pensamento de Édina de Oliveira