Quando criança, eu fazia projeções para a minha vida de adulto e imaginava que, se eu tivesse uma situação financeira equilibrada, uma profissão bem definida e constituísse uma família, estaria realizado e seria muito feliz.
Inegavelmente, estes fatores são de grande importância para a felicidade do ser humano e entendo que aquela criança não estava enganada quanto a esse aspecto. Mas será que é o suficiente?
Hoje, recordando daquela mente infantil, com seus sonhos, inquietudes, angústias e planos para o futuro, acrescento as seguintes perguntas: qual o verdadeiro objetivo da vida do ser humano? Por que será que o mundo moderno, com sua tecnologia, progresso e todas as suas comodidades, não é capaz de proporcionar a paz e a felicidade que tanto almejamos?
O ser humano tem algo mais em relação aos seres pertencentes ao reino animal, pois possui, além da natureza física, uma natureza espiritual. Não há dúvidas de que a nossa cultura atual atende bem à nossa natureza física. Quanto à espiritual, no entanto, deixa muito a desejar, motivo pelo qual o homem ainda não encontrou a felicidade que tanto anseia.
Mas como atender, digamos assim, à minha natureza transcendente? A princípio, esta pergunta parece muito distante da minha compreensão; porém, observando alguns exemplos banais da vida, faço as seguintes reflexões:
É motivo de grande alegria despertar pelas manhãs e constatar que terei mais um dia para aprender, ensinar, amar, desfrutar da companhia de meus entes queridos, trocar ideias, etc. Quando estou consciente disso, sinto surgir em meu interno uma imensa gratidão ao Criador por mais uma oportunidade de evolução. Será esta uma experiência espiritual ou meramente física? Outra pergunta: Tenho frequentemente cultivado a virtude da gratidão, fazendo-me merecedor de tudo quanto tenho recebido e dos objetivos que pretendo alcançar?
Não é demais recordar que o simples fato de ter nascido neste mundo e estar vivo já é motivo suficiente para reconhecer o imenso amor de Deus, proporcionando-me, a cada dia, várias oportunidades de aprendizado. A gratidão pela vida, não só em pensamentos, como também em palavras e atos, torna-me merecedor de tudo quanto sou e recebo, pois agiliza o meu mecanismo mental e sensível para captar os grandes conhecimentos de ordem superior que integrarão minha consciência, tornando-me digno de pertencer verdadeiramente à raça humana.
Também a cordialidade expressa na amizade leal e sincera, a tolerância, a bondade e a generosidade com os demais; o amor de mãe, puro e excelso, o amor filial e o afeto fraterno, são todas manifestações superiores que transcendem a natureza física.
A aspiração de ser melhor a cada dia, prestando mais atenção aos pensamentos que agem em minha mente, proporciona-me aumentar, de fato, os acertos e ao mesmo tempo evitar ou diminuir os erros. Essa aspiração que todo ser humano tem em algum momento de sua vida é uma eloquente manifestação de sua natureza transcendente.
Para chegar ao que está mais distante de minha compreensão, preciso, em primeiro lugar, entender o que está mais próximo e avançar gradativamente à medida em que coloco em prática o cultivo de minha natureza superior, começando pelas experiências mais simples e sensíveis do dia a dia.
Antes eu imaginava que as experiências espirituais fossem algo bem afastado do meu entendimento, mas agora entendo que elas se manifestam diariamente e eu não as percebia.
A essência espiritual manifesta-se nesses simples exemplos da vida e vai expandindo-se ao infinito, à medida que me capacito e avanço rumo à evolução. Entretanto, faz-se necessário começar a colocar em prática o que está mais próximo — como esses exemplos tão acessíveis ao entendimento atual.
Um pensamento de André Luis dos Reis
André Luis dos Reis, servidor público federal, nasceu em Araguari-MG e estudou Ciências Contábeis na Faculdade Anhanguera de Ciências Humanas-Goiânia-GO. Estuda Logosofia e é docente da Fundação Logosófica desde 2005.