Escala Internacional
Na escala internacional, entre os dias 11 a 22 de novembro no Azerbaijão, ocorreu a 29a Conferência das Partes (COP29). A COP é o principal evento global para discussão das mudanças climáticas entre os líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil. Desde a COP21, o foco é para que os governantes apresentem suas iniciativas e propostas para redução das emissões de gases de efeito estufa tendo em vista o cumprimento do Acordo de Paris.
O Acordo de Paris foi proposto em 2015, assinado em 22 de abril de 2016 durante uma cerimônia na sede das Nações Unidas em Nova York e entrou oficialmente em vigor em 4 de novembro de 2016. Inicialmente 195 países ratificaram o acordo. A principal mensagem do Acordo de Paris é unir esforços globais para limitar o aumento da temperatura média global neste século a menos de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, com esforços adicionais para restringi-lo a 1,5°C. Esses limiares de temperatura não são arbitrários. Vários estudos têm mostrado que se a temperatura média global exceder a 1,5°C ocorrerão efeitos irreversíveis (os chamados tipping points) no sistema climático. Um exemplo que pode ser citado é o degelo da Groenlândia que não será possível revertê-lo depois de ocorrido. Isso levará ao aumento do nível médio dos mares/oceanos bem como afetará os mecanismos de retroalimentação entre os componentes do sistema climático (atmosfera, hidrosfera, criosfera, biosfera e litosfera), que, por consequência, se traduzirá em efeitos negativos para a sociedade.
Em dezembro de 2020, o CarbonBrief apresentou estimativa de quando as temperaturas médias globais excederiam 1,5oC. A estimativa era entre 2026 e 2042. Infelizmente, essa previsão foi antecipada. Segundo o Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (European Centre for Medium-Range Weather Forecasts, ECMWF), 2024 será o primeiro ano a exceder esse limiar (Figura 1). Se isso não se repetir nos próximos anos, o problema não será tão grande, mas se persistir, os líderes mundiais terão que mudar suas estratégias do net zero e também desenvolver métodos para remover carbono da atmosfera, independentemente do alto custo que isso implica. Do contrário, a população global estará ainda mais exposta aos inúmeros problemas decorrentes do aquecimento global.
Mesmo que hoje todos os países não emitissem mais gases de efeito estufa, ainda assim esse problema continuaria por décadas, pois os gases possuem tempo de permanência na atmosfera. Também quando se fala em net zero, não é que não haverá mais emissões, mas sim que essas serão balanceadas com atividades que removam carbono da atmosfera. Em outras palavras, as emissões totais liberadas por um país, empresa ou setor são equilibradas pela quantidade removida por meios naturais ou tecnológicos.
Figura 1 Anomalia da temperatura média global em relação ao período de 1850 a 1900. Fonte: https://climate.copernicus.eu/copernicus-2024-virtually-certain-be-warmest-year-and-first-year-above-15degc
No Acordo de Paris não há uma regra única que regule as estratégias para todos os países reduzirem as emissões de gases de efeito estufa. Há uma liberdade para que esses tenham suas próprias metas e estratégias para alcançar tais metas. Entretanto, essas informações devem ser apresentadas no Nationality Determined Contribution (NDC), que é um documento elaborado por cada país. No caso do Brasil, durante a COP29, esse apresentou sua nova meta que é a da redução líquida dos gases de efeito estufa entre 59% e 67% em relação aos níveis de 2005 até 2035. O problema é como atingir essa meta. De acordo com o NDC do país, esforços serão colocados principalmente para (1) combater o desmatamento e restaurar terras degradadas, (2) redução do uso de combustíveis fósseis e transição energética, (3) expansão sustentável da produção agrícola, (4) financiamento da transição, incluindo mercados de carbono e (5) adaptação e desenvolvimento sustentável.
O Brasil hoje se encontra no topo das negociações climáticas e estará em evidência pelo menos até a próxima COP, a COP30, que será realizada em novembro de 2025 na cidade de Belém, Estado do Pará. Segundo o presidente Lula, é importante discutir, por exemplo, os problemas da Amazônia, na Amazônia. Isso é extremamente distinto das discussões que já ocorreram em países com realidades totalmente diferentes da nossa.
Escala Nacional
Em escala nacional, entre os dias 25 a 27 de novembro, ocorreu a 21a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). A SNCT é o principal evento de divulgação científica do Brasil e é um evento realizado pelo Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI). Durante a SNCT grande parte das universidades organizam seus simpósios de Iniciação Científica para que os estudantes apresentem resultados das suas pesquisas. Além disso, são organizadas palestras e mesas redondas. No caso da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), o simpósio de Iniciação Científica contou com várias atividades (Figura 2) entre elas uma mesa redonda para sobre “Mudanças Climáticas: Projeções e Cenários, Relação com Doenças, Qualidade do Ar e Desastres Naturais”. Nessa mesa estavam presentes os doutores: Ana Paula Cunha do CEMADEN, Michelle Reboita, Vanessa Silveira e Ana Paula Freitas da UNIFEI e Alexandre Cunha Costa da UNILAB.
Figura 2 Esquerda: estudantes do curso de Ciências Atmosféricas da UNIFEI participando do simpósio de Iniciação Científica da UNIFEI. Direita: participantes da mesa redonda sobre Mudanças Climáticas.
No dia 28 de novembro foi a vez do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) comemorar seus 30 anos. O CPTEC é um dos principais centros de previsão numérica do Hemisfério Sul e o único a produzir previsão subsazonal. O evento foi celebrado com um encontro na manhã do dia 28 no auditório do CPTEC em Cachoeira Paulista. No evento estiveram presentes várias autoridades e, também, o chefe de gabinete da UNIFEI, Prof. Dr. Paulo Waki, o diretor do Instituto de Recursos Naturais (IRN) da UNIFEI, Prof. Dr. Marcelo de Paula Corrêa, e a coordenadora do Curso de Ciências Atmosféricas da UNIFEI e coordenadora do programa Conexão Ambiente, Profa. Dra. Michelle Simões Reboita (Figura 3). Após o evento, o diretor do INPE e os membros da UNIFEI se reuniram para tratar de parcerias. Além disso, visitaram as instalações do CPTEC como a sala dos computadores de alto desempenho. Em conversa com os diretores do INPE, perguntei sobre o custo mensal com energia elétrica da instituição. Foi respondido que o CPTEC gasta mensalmente R$ 500.000,00, sendo 95% do gasto para suprir os computadores e resfriamento deles. Sempre menciono nas minhas aulas e palestras que a previsão numérica, seja de tempo ou clima, é uma ciência cara e que sem investimento não podemos atuar. O gasto não para por aí. Simulações necessitam de espaço para armazenamento, o que também é um gasto elevado.
Figura 3 Equipe da UNIFEI e servidores do CPTEC visitando a sala dos computadores de alto desempenho do CPTEC-INPE no dia da celebração de 30 anos dessa instituição.
Escala Local
O dia 29 de novembro de 2024 foi memorável para o município de Itajubá, pois foi o dia da inauguração do Centro de Monitoramento de Cheias e Queimadas, que tem sede na Prefeitura de Itajubá (Figura 4). Esse centro se tornou realidade após um trabalho intenso de mais de 12 anos entre diversos parceiros, entre eles, Prefeitura de Itajubá, Defesa Civil, IRN-UNIFEI e corpo de bombeiros. Nesse longo período, os professores Benedito da Silva e Michelle Reboita trabalhavam com a Defesa Civil na limpeza de áreas e instalação de sensores de nível fluviométrico, bem como em informes hidrometeorológicos. Só que havia muitos problemas na transmissão online dos dados coletados e em nenhum momento foi possível colocar em modo operacional todos os seis sensores disponíveis na época. Nesse período, as informações eram disponibilizadas para a Defesa Civil e população através do ambiente Hidrologia no sítio meteorologia.unifei.edu.br. A Prefeitura de Itajubá tendo conhecimento dessas deficiências, em meados de 2024 firmou um contrato com a empresa Ashton (incubada na UNIFEI) para expandir a rede de monitoramento hidrometeorológico. Agora são 26 sensores de nível fluviométrico fazendo o monitoramento e transmitindo os dados para o sítio desenvolvido pela Ashton. Além disso, há o monitoramento de variáveis meteorológicas em algumas das estações. Diante da evolução no processo de monitoramento, era necessário a criação de um centro para permanência dos membros da Defesa Civil (que inclui um estagiário do Curso de Ciências Atmosféricas, no momento o estudante Maycon Augusto), que, também, permitisse o encontro dos parceiros para discussões. Assim nasce o Centro de Monitoramento de Cheias e Queimadas de Itajubá.
Agora temos o conhecimento da evolução do nível dos nossos rios e, com o auxílio do estagiário de Ciências Atmosféricas, temos a previsão de tempo atualizada todos os dias. Não obstante, a prefeitura também firmou contrato com outra empresa para monitorar o risco geológico do morro Santa Isabel. Itajubá está alinhada com as recomendações da Organização Meteorológica Mundial (OMM) que diz: Early Warning and Early Action. Basicamente o slogan diz que o alerta precoce permite a ação antecipada. Alertas precoces só são possíveis em locais que possuam monitoramento e nós, agora, possuímos. Não podemos evitar os eventos extremos, mas podemos alertar com antecedência a população em caso de previsão desses eventos. Entretanto, a colaboração da sociedade também é fundamental: evitando o acúmulo de lixo e entulho em lugares inapropriados, avisando a prefeitura sobre locais que demandam limpeza e obras, bem como seguir as instruções da Defesa Civil em caso de crise.
Figura 4 Imagens do Centro de Monitoramento de Cheias e Queimadas na Prefeitura de Itajubá.
Links consultados para a redação do texto:
Brazil’s NDC
CarbonBrief
https://www.carbonbrief.org/analysis-when-might-the-world-exceed-1-5c-and-2c-of-global-warming/https://www.carbonbrief.org/analysis-what-record-global-heat-means-for-breaching-the-1-5c-warming-limit/
Por Michelle Reboita