O velho mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal num copo d’água, bebesse, e perguntou qual era o gosto.
– Ruim – disse o aprendiz.
O velho sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão de sal e levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio e o sal foi jogado no lago. Então, o mestre falou:
– Beba um pouco dessa água e diga se está ruim.
– Não – disse o jovem.
– Pois é, acredito que a dor na vida de uma pessoa não muda, mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, meu jovem, a única coisa que deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está à sua volta. É dar mais valor ao que você tem do que ao que você perdeu. Em outras palavras: é deixar de ser ‘copo’ para tornar-se ‘lago’.
Esta história é um preâmbulo para eu comentar algumas provações da vida. Nem sempre é fácil suportá-las, mas crer que Deus está no comando e tem um maravilhoso plano para a nossa vida faz a caminhada valer a pena. É mais ou menos isto que o iluminado Pe. Fábio de Melo diz neste texto:
“Eu acho que a gente vive tão mal que às vezes precisa perder as pessoas para descobrir o valor que elas têm, e isso aconteceu uma vez na minha vida. Estava eu na minha casa, de manhã, quando recebi um telefonema dizendo que minha irmã estava morta. Minha irmã mais nova, cheia de vida, de repente não existe mais.
Fico pensando que às vezes, na vida, o ensinamento mais doído é esse: quando já não temos mais a oportunidade de fazer alguma coisa. O inferno talvez seja isso: a impossibilidade de mudar alguma situação. E quando as pessoas morrem, já não há mais o que dizer, porque mortos não podem perdoar, mortos não podem sorrir, não podem amar, nem tão pouco ouvir de nós que os amamos.
Eu me lembro que uma semana antes de minha irmã morrer, ela havia me ligado. Foi a última vez que falei com ela, e eu me recordo que naquele dia eu estava apressado, com muita coisa a fazer e desliguei o telefone rápido. Se eu soubesse que aquela seria a última oportunidade de falar com ela, eu certamente teria esquecido toda a pressa, porque quando você sabe que é a última oportunidade, você não tem pressa pra mais nada. Já não há mais o que fazer, e essa é a beleza da última ceia de Jesus!
Não há pressa, o momento é feito para celebrar a mística da última ceia e Jesus reúne aqueles que para Ele tinha um valor especial, inclusive o traidor estava lá. Eu descobri com isso, com a morte da minha irmã, que eu não tenho o direito de esperar amanhã para dizer que amo, para perdoar, para abraçar, dizer que é importante, que é especial.
O amanhã eu não sei se existe, mas o agora eu vejo que existe, e às vezes, na vida, nos perdemos. Eu me lembro quantas vezes na minha vida de irmão com ela nós passávamos uma semana sem nos falarmos, porque houve uma briga, uma confusão. A gente se dava o luxo de passar uma semana sem se falar, e hoje eu não tenho mais nem cinco minutos para conversar com alguém que foi importante, que foi parte de mim.
Não espere as pessoas irem embora, não espere o definitivo bater na sua porta. Nós não conhecemos a vida e não sabemos o que virá amanhã. Viva como se fosse o último dia da sua história. Se hoje você tivesse que realizar a sua última ceia porque é conhecedor que hoje é o último dia de sua vida, certamente você não teria pressa. Você celebraria até o fim e gostaria de ficar ao lado de quem você ama.
E depois que minha irmã morreu, eu descobri porque eu gostava tanto dessa música que vou cantar agora. Ela não fala de um amor que foi embora; o compositor fez para a filha que morreu em um acidente. Então, fica muito mais especial cantá-la e descobrir o cristianismo que está no meio das palavras, porque é assim: quando o outro vai embora é que a gente descobre o tamanho do espaço que ele ocupava. Ouçam a música gravada por Tim Maia:
‘Não sei por que você se foi, quantas saudades eu senti, e de tristezas vou viver, e aquele adeus não pude dar… Você marcou a minha vida, viveu, morreu na minha história; chego a ter medo do futuro e da solidão que em minha porta bate… E eu, gostava tanto de você! Gostava tanto de você!’
Agora, o triste da música é que a gente precisa conjugar o verbo no passado, a pessoa já morreu, já não há mais o que fazer. Mas não tem nenhum sofrimento nessa vida que passe por nós sem deixar nenhum ensinamento. Tem que nos ensinar… Não dá pra sofrer em vão… Alguma coisa a gente tem que extrair… Então, extraia o sofrimento e descubra o ensinamento.
Depois da morte da minha irmã, eu faço questão de viver a vida como se fosse o último dia. Já que o passado é coisa do inferno e a gente não está no passado, muito menos no inferno, esta é a possibilidade de mudar o verbo, de trazê-lo para o presente e de cantá-lo olhando para as pessoas que são especiais.
Se você tem algum amigo que mereça ouvir isso de você, alguém que faz diferença na sua história, ao invés de você dizer que gostava, diga que gosta. Vamos mudar o verbo! Vamos amar a vida! Vamos amar as pessoas antes que elas vão embora!”
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
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