Um dia, eu assistia um filme com o meu filho e quando o ator falou que ‘todos nós fazemos milagres se quisermos’, o Alexandre disse-me: ‘Pai, aí está um bom tema para o seu artigo’; mas, antes de explorar o assunto, vou contar esta história:
Havia um menino se preparando para a primeira comunhão e, de tanto ouvir falar das coisas de Deus, queria se encontrar com um anjo. Sabia que teria um longo caminho pela frente, portanto, encheu uma pequena mochila com pastéis, latas de guaraná e começou sua caminhada. Quando chegou na praça, encontrou um velhinho olhando os pássaros. O menino sentou-se junto dele, abriu a mochila e ia tomar um gole de refrigerante quando percebeu que o senhor idoso estava com fome.
Então, ofereceu-lhe um pastel e o velhinho, muito agradecido, aceitou e deu um gostoso sorriso – tão gostoso que o garoto quis ver de novo! Ofereceu-lhe também seu guaraná e mais uma vez o velhinho sorriu ao menino.
Estavam felizes e ficaram ali sentados sem se falarem, comendo pastel e bebendo guaraná pelo resto da tarde. Quando começou a escurecer, o garoto resolveu voltar para casa, mas, antes de sair, deu um grande abraço no velho, que retribuiu com o maior sorriso que o menino já havia recebido.
Chegando em casa com a alegria estampada na face, sua mãe perguntou surpresa: ‘Filhinho, o que você fez hoje que lhe deixou tão feliz?’ Ele respondeu: ‘Passei a tarde com um anjo! Sabe, ele tem o mais lindo sorriso que eu jamais tinha visto!’
Enquanto isso, o velhinho entrou radiante na sua cabana e a filha também lhe perguntou: ‘Por onde esteve que voltou tão contente?’ Ele não vacilou e respondeu sorrindo: ‘Comi pastéis e tomei bastante guaraná no parque. Deus é muito bom!’
Bem, não é difícil concluir que aquele menino realizou um ‘pequeno milagre’ na cabeça do idoso, concorda? Como teria sido o dia do velhinho sem a presença do garoto? Talvez, não teria se alimentado, nem sorrido e, quem sabe, receberia o desprezo de muita gente. Porém, com as bênçãos de Deus, apenas alguns pastéis, guaraná e amor fizeram a felicidade de mais um irmão carente. Só quem já ajudou alguém e recebeu um largo sorriso sabe como é gostoso.
Outro fato que quero contar se refere a uma mulher de 53 anos que entrou em estado de coma. De repente, ela ouviu uma voz perguntar:
– Quem és?
– Sou a mulher do prefeito da cidade.
– Não pergunto com quem estás casada, pergunto quem és.
– Sou mãe de quatro filhos bem-educados e todos já encaminhados.
– Não pergunto quantos filhos tens, mas quem és.
– Sou pós-graduada em psicologia e sempre exerço com dignidade a minha profissão.
– Mas não perguntei qual é a tua profissão e sim quem és!
– Ah, já sei o que queres saber! Sou católica, quase sempre cumpri os meus deveres de caridade e, também, quase não faltei à missa aos domingos.
– Quase? Então, quase cumpriste a tua missão, não é?
E, num instante, milagrosamente recuperou-se, mas nunca esqueceu daquela frase: ‘Quase?’ Com a certeza de que ainda havia muito a fazer, resolveu ter mais tempo às coisas de Deus para, um dia, conseguir responder com convicção à pergunta: ‘Quem és?’
Então, ela se dedicou mais à oração e amou os pobres até alcançar os 80 anos. Ao morrer, tudo foi diferente, sem muita tristeza, pois era considerada uma pessoa santa. Muitos não sabiam que havia sido a mulher do prefeito, nem que tinha estudado, nem quantos filhos e netos tinha, mas diziam que havia ajudado dezenas de pessoas.
Portanto, também é fácil concluir que a nossa vida é um verdadeiro milagre de Deus e, quem não a aproveita, desperdiça a chance de entrar no Reino eterno. E para não jogar fora o dom da vida, realmente podemos realizar ‘pequenos milagres’ que, somados, nos darão um passaporte para o Céu! Lá, encontraremos pessoas que amaram como Jesus as amou.
Tenho certeza que todos sabem que temos os dons necessários para construir um mundo melhor – sem fome e violência –, mas o egoísmo e a ganância nos impedem de praticar a partilha e dar amor aos que sofrem, não é verdade? Você já pensou que pode – agora mesmo! – saciar a fome de um irmão? E levar a Palavra de Deus àquele que está perdendo as esperanças, não está ao seu alcance? É difícil rezar um terço pela paz no mundo? Você vive plenamente a sua fé?
Voltando ao filme que assisti com o meu filho, sou obrigado a concordar que, realmente, todos nós fazemos ‘milagres’ se quisermos aceitar as missões que recebemos do nosso Criador. Eu agradeço sempre por perseverar na fé e trabalhar nas Pastorais da Igreja. A cada dia, mais portas se abrem e mais chamados eu atendo para não precisar vacilar na resposta da pergunta: ‘Quem és?’
Por Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).