O relógio em cima da mesa corre, ofegante, porque precisa juntar os ponteiros no 12, ainda hoje.
Porque hoje é a última vez na vida que será 2023. Quem viveu, pronto! Pode se despedir.
Vai chegar o outro, o da frente, novinho que nem bebê recém nascido. Só que vai chegar sorrindo, e não chorando como os bebês fazem.
No começo serão só risos, que sorrisos são a marca de todo começo.
Só depois, mais tarde, é que vem a dor, vem a saudade, bate a solidão… Só depois.
Até lá todo mundo sonhou que um novo ano seria diferente, teria paz, amor renascido, muito dinheiro e todo o sucesso.
Porque da fantasia do Ano Novo ninguém escapa: tudo será diferente, se eu desejar com força.
Só desejar já basta, não é preciso esforço. Afinal eu, o Homem, não sou o rei da criação? Aos reis tudo é devido, nada é negado, basta desejar.
É por isso que desta vez eu não vou “virar” o ano.
Permaneço no ano velho até entender que quem faz o ano novo sou eu e não o tempo.
Só depois eu vou pra 2024.
Só quando eu souber fazer o meu Ano Novo melhor.
Alguém me acompanha?
Graça Mota Figueiredo
Professora Adjunta de Tanatologia e Cuidados Paliativos da Faculdade de Medicina de Itajubá – MG