EDUCAÇÃO FINANCEIRA: A IGNORÂNCIA É UMA BÊNÇÃO
O PARADOXO DO CONTENTAMENTO FINANCEIRO
Olá pessoal!
No nosso painel de Educação Financeira de hoje vamos compartilhar com vocês um conceito muito interessante que o DENARIUS apresentou essa semana no IEPG Summit 2023. Desde o dia 28/11 até hoje (01/12) o Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG) da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) está realizando a primeira edição do IEPG Summit. O objetivo do evento é promover uma discussão de alto nível sobre o futuro, aliado à inovação e sustentabilidade. Com o apoio da FAPEMIG, o evento está sendo realizado pelos Programas de Pós-Graduação sob a responsabilidade do IEPG (Mestrado e Doutorado em Engenharia de Produção, Mestrado em Desenvolvimento Tecnologia e Sociedade e Mestrado Profissional e Administração) e conta com a participação de outras instituições de ensino, como o INATEL e o IFSULDEMINAS e com o patrocínio de empresas com destaque nacional como a Mahle, a Mercedes e o Sicoob Sudeste Mais.
Desde 2017, quando iniciamos nossa parceria com o Programa Conexão Itajubá, temos divulgado que o nível de alfabetização financeira da população em geral é baixo. Cenário que, infelizmente, não teve melhoras significativas, mesmo considerando que o Brasil tem, desde 2010, uma lei que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira.
Já comentamos também, que o baixo nível de educação financeira está associado a falta de conhecimentos financeiros básicos, como o conceito de inflação, juros, seguro e investimento (risco/diversificação). Além de não dominar esses conceitos, destacamos que, geralmente, pessoas do sexo feminino, com menor renda, baixa escolaridade, jovens e idosos são os que apresentam menor nível de educação financeira.
Ao longo dessa jornada, defendemos ainda que desenvolver programas de educação financeira para a população como um todo é uma questão de cidadania. Pois pessoas financeiramente educadas conseguem participar efetivamente do Estado ou da comunidade a que pertencem, exercendo, de forma plena, seu direitos civis, políticos e especialmente os sociais.
Até aqui, não há novidade! Mas em nossos últimos trabalhos, além de investigar o nível de alfabetização financeira das pessoas, começamos a investigar também o “bem-estar financeiro”. O bem-estar financeiro é definido pelo Consumer Financial Protection Bureau (CFPB) como um estado em que uma pessoa consegue satisfazer suas responsabilidades financeiras atuais e futuras, sentindo-se segura (em relação a sua situação financeira) e capaz de tomar decisões que permitam desfrutar da vida). Em outras palavras, seria uma condição de “plenitude” em relação à vida financeira, considerando o presente e o futuro. Esse conceito é mensurado a partir de uma escala criada pelo CFPB que varia de 0 a 100 e é ponderado de acordo com a idade dos respondentes.
Considerando o baixo nível de alfabetização financeira da nossa população, a nossa experiência ao longo desses anos e o conceito do termo bem-estar financeiro, não esperávamos outro resultado que não fosse um baixo nível de bem-estar financeiro. Mas, por incrível que pareça, esse não foi o resultado que encontramos. Em geral, pessoas jovens e com baixo nível de alfabetização financeira são as que apresentam maior nível de bem-estar financeiro. Por outro lado, pessoas de meia idade e com alto nível de alfabetização financeira, apresentam nível de bem-estar menor.
É a partir dessa inconsistência de resultado que o DENARIUS está propondo um novo conceito, que estamos chamando de PARADOXO DO CONTENTAMENTO FINANCEIRO. Em geral, paradoxo é um pensamento, uma proposição ou um argumento que contraria os princípios básico e gerais que orientam o pensamento humano, ou seja, é uma contradição que contraria a intuição comum. Já o contentamento financeiro, é o estado de satisfação, de alegria e júbilo (de bem-estar) com a situação financeira em que a pessoa se encontra. A junção dos termos resulta exatamente na condição que encontramos nas pesquisas que pode ser sintetizada na seguinte pergunta: Como pode uma pessoa se sentir bem a condição financeira presente e futura, se ela sequer pode ser considerada alfabetizada financeiramente?
Esse questionamento é tão intrigante que nos remete a seguinte frase do poeta inglês Thomas Gray: “onde a ignorância é uma bênção é loucura ser sábio”. Frase que foi sintetizada e ficou famosa com o personagem Cypher do filme Matrix (1999) como: “a ignorância é uma bênção”.
Apesar de ainda não termos explicações formais para o paradoxo que estamos propondo, temos fortes indícios para acreditar que essa situação está, de alguma forma, relacionada ao estado de desalento de nossa população. Que, apesar dos indicadores de desemprego estarem apontando para uma queda, temos visto uma grande parte da população brasileira no estado de desalento.
Bem, esperamos que tenha gostado do nosso painel de hoje. Esperamos trazer novos resultados de pesquisa em breve, apontando um caminho para esse paradoxo.
Abraço e até o próximo!
AUTORES:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
